É exatamente meio-dia. E eu jamais me atraso, não para isso.
Saio para, supostamente, ir ao banheiro e caminho bastante atenta até o armário de número cento e cinquenta e um, decorado com uma fatia de pizza de borracha, um "S" de cor preta e alguns adesivos com nomes de série.
Olho para os lados como quem não quer nada. O corredor está vazio e não há sinal de sequer uma alma viva – a não ser, é claro, a voz estridente do professor de matemática do segundo ano, um velho rabugento que desaprendera há muito a falar em um tom normal.
Eu coloco o papel amarelado por entre a fresta do armário e sigo para o corredor da minha sala exibindo um sorriso satisfeito.
Kim Sojung é a dona dos meus suspiros, poesias e remetente dos meus bilhetes secretos desde que a vi pela primeira vez na escola, no ano passado. Cair pela menina do cabelo de pontas roxas fora imediato, e sigo com minha paixão platônica desde então, desconfiante demais para lhe contar. Nós sequer nos falamos.
Eu passo os intervalos de cada dia na biblioteca, estudando, suspirando por seu sorriso inebriante e ajudando as alunas menos insuportáveis da minha série. Yerin e Yuju. Elas são melhores amigas entre si, além de serem melhores amigas de Sowon, o apelido que Sojung deu a si mesma, mas elas pertencem ao segundo ano B, enquanto eu pertenço a turma A, e Sowon é do terceiro ano. Ao tempo em que Sojung dedica seu tempo aos muitos amigos, parte os corações das meninas e meninos alheios e ainda assiste a todas as séries possíveis, ela também é campeã de algum jogo virtual.
Por coincidência, nós temos favoritismo pela mesma: Sense8.
É comum que eu e ela sejamos tão distantes uma da outra. Ela, tão popular e querida, e eu, tão nerd e quase inexistente. Eu me sinto mal por sermos meras desconhecidas entre nós, todavia ter uma coragem irreal como a minha não ajuda. Nem sei o que falaria em sua presença.
Espero cinco minutos com um sorriso bobo na face e as costas encostadas na parede ao lado da porta da minha sala, como usual, em busca de não atrair suspeitas. Por diversas vezes tentaram descobrir quem mandava bilhetes para Kim Sojung sem ser notado, o que me causou problemas e tive que me dobrar inteira para desviar suspeitas, então ter precaução era importante.
"Mas já?" A voz me assusta, fazendo-me pular de susto e olhar em sua direção. Jung Yerin passa com um sorriso sapeca por mim e manda-me uma piscadela.
Essa é a coisa mais estranha que já havia acontecido comigo em todo o meu período de ensino médio. Eu me sinto de repente em uma cena real de Glee.
"Eunha!" Exclama a professora cuja aula eu deveria estar assistindo. "Imaginei que tivesse se perdido", ela brinca, mexendo o braço e chamando minha atenção para a pasta que carregava. "Tive que encerrar a aula mais cedo hoje. Sabe como é... É nisso que dá ter crianças em casa! Mas não se preocupe, pois eu registrei sua presença!"
"Ah...", suspiro aliviada. "Obrigada, 'prof! Até semana que vem, então."
Ela, uma linda mulher de recém trinta anos feitos que eu também tinha um certo crush, afasta-se e eu sou impedida de entrar na minha sala pelos meus colegas, que saem apressados pela porta. Espero-os se dispersarem para pegar minha mochila na carteira e rumar para o refeitório, já pensando em ser uma das primeiras da fila. Eu não poderia estar mais errada.
O refeitório está no térreo. Um grande espaço cheio de mesas redondas, uma cantina grande e portas de vidro que levam à área verde, o lugar onde os estudantes costumavam matar aula para conversar ou beijar. Eu nunca consigo uma mesa lá.
Por coincidência, a turma de Sowon também havia sido liberada mais cedo. Nossas professoras daquele horário eram casadas, eu deveria ter imaginado. E ela estava magnífica em sua calça moletom preta e a camisa azul, sentada em uma das mesas centrais, ao lado de Yuju, Sinb – minha melhor amiga que também era muito amiga dela e de seus conhecidos – e os meninos, os quais não sabia os nomes.
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Insegurança
FanfictionHá mais de um ano que Jung Eunbi anonimamente se declara para Kim Sojung, seu amor platônico. Ela jamais esperou que pudesse ser notada ou até mesmo descoberta, mas um passo em falso pode pôr seu mistério em risco.