Swanwoodly

2º Capitulo

Acordei com uma música alta vindo do andar de baixo, que reconheci ser algum dos discos do papai. Eu amava aqueles discos, mas não aos sábados de manhã. Pelo menos dessa vez não se tratava de Thomas e seu violão tocando a mesma música por horas, no quarto do lado. Encarei a parede branca do meu quarto por alguns minutos, e depois a garrafinha de Aaron em cima do meu criado mudo, que agora estava vazia.  

Enrolei de baixo das cobertas quentinhas antes de criar coragem para me levantar da cama. No caminho até as escadas prendi meu longo cabelo cacheado em um coque frouxo bem no topo da minha cabeça, descendo em direção a cozinha de onde vinha um cheiro delicioso de café. Parei no final da escada de madeira escura, quando papai e Thomas notaram a minha presença na sala. Eles estavam sentados no extenso carpete bege, rodeados por discos antigos do papai. Enquanto isso a velha vitrola tocava uma música dos Beatles que eu reconheci ser "Back in the USSR".

"Bom dia" disse sonolenta, aproveitando para esticar meus braços para cima. 

"Olha só quem acordou." Papai disse se levantando do carpete onde estava sentado com Tom, e vindo até mim, me dando um leve beijinho na testa. "Eu fiz café, se quiser eu busco para você" 

"Eu aceito a oferta, obrigada" sorri simpática e me sentei no sofá mais proximo de Thomas, enquanto papai ia até a cozinha. "O que vocês estão fazendo? Ninguém mexe nesses discos a tanto tempo" Papai tinha uma estante horizontal que ia do começo ao fim da parede da sala, em baixo da televisão, onde ele guardava uma coleção com mais de 60 discos de vinil. Apesar de sempre ouvir os mesmos. 

"Papai está me ajudando a pegar referências para uma música nova" 

Thomas respondeu sem tirar os olhos dos discos espalhados no chão. A sua direita estava uma pequena pilha com um pouco mais de 4 discos, e em sua mão tinha um pequeno caderno com algumas anotações. Provavelmente ele já tinha conseguido alguma inspiração ali. 

"Eu achei que você tinha desistido da banda" Disse sem mencionar o nome de Jake, ou o acontecimento no dia do jogo de futebol. Nós nunca tocávamos nesse assunto.  

"Seu irmão se inscreveu em uma batalha de bandas do Habbit Hole"

Papai disse voltando para sala e se aproximando o suficiente para me entregar a caneca com café.

"Exatamente, e se a minha banda vencer, nós vamos poder tocar lá todas as sextas. O cachê é baixo, mas já é alguma coisa."

Para mim o Habbit Hole não se passava de um bar muito escuro cheio de adolescentes fingindo serem maiores de idade. Não que eu tivesse alguma moral para falar sobre isso. Até eu que nunca saia de casa já tinha forjado uma identidade para entrar num show lá; em minha defesa era um dos únicos shows que aconteceram na cidade.

Eu também queria questiona-lo sobre quando ele tinha voltado a falar com seus amigos, depois de passar um mês ignorando as ligações deles, por causa de toda a briga com Jake. Mas preferi não as fazer, Thomas mal falava comigo desde o acontecido, e eu não queria estragar as coisas quando elas estavam começando a voltar ao normal.  

"Mas pra isso eu preciso de uma música autoral" ele continuou. 

"E você não tem mais aquelas composições pra sua ex?" 

Thomas já tinha escrito diversas músicas, algumas não tão boas, mas ele já tinha conteúdo. Percebi um sorriso discreto se formar nos lábios de papai quando Thomas me olhou incrédulo. 

"Você fala como se fosse simples compor uma música boa. Mas não é esse o problema Amélia, o problema é a melodia."  

"E não há nada melhor do que o rock dos anos 60" 

Papai disse empolgado, fazendo um "rock" com a mão direita para o meu irmão, que fez o mesmo sinal de volta, mas não tão empolgado quanto papai. Ele não tirava os olhos do seu caderninho de anotações. De repente voltar com a banda parecia muito importante para ele.  

"Bom, boa sorte com isso" 

Disse me levantando do sofá, pronta para voltar para o meu quarto, quando Thomas me chamou. 

"Ei Amélia"

"Oi?" 

Disse voltando alguns passos para trás, me reaproximando dele novamente. 

"Você quer ir a uma festa comigo hoje?" 

"Uma festa? Com você?" Disse tentando não soar tão debochada quanto eu queria. Algo de muito errado estava acontecendo com o meu irmão, ele não saia de casa a mais de um mês, e agora queria me levar junto? Nós nunca saíamos juntos. "Você está falando sério?" Continuei, agora me recompondo do susto. 

"Eu estava conversando com o papai..." Ele disse e papai o encarou sério. "E eu achei que seria legal te apresentar para a galera da minha turma, agora que você vai começar o ensino médio" 

"Ah..." Agora foi a vez de papai me encarar, obviamente aquele pedido de companhia para a festa não tinha vindo do desejo de Thomas em me ter como companhia, e sim mais uma tentativa de nosso pai tentando nos reaproximar. "Tudo bem, que horas?" 

"Podemos sair de casa as 20h" 

"Ok, combinado" 

Sorri simpática e girei meus calcanhares em direção a escada novamente.