Obra prima

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Lá estava eu, no banheiro, inocentemente lavando as minhas mãos, alheio ao resto do mundo e ao fato de que estava ali. O que era uma bênção. Esses banheiros geralmente ficam lotados de gente o tempo todo, mesmo durante as aulas. Quando me dei conta dessa bênção, ele apareceu. Saiu da última cabine em total silêncio, provavelmente para que eu não notasse sua presença, e eu realmente não notei. Não notei até ele parar exatamente atrás de mim e me atacar com as suas perigosas mãozinhas. Eu devo ter tomado o maior susto da minha vida quando senti seu toque... Seus braços me envolvendo e suas mãos passeando pela minha barriga como se conhecessem perfeitamente o lugar.

– Que isso! – Exclamei com a minha típica voz esganiçada de quando me exalto.

Claro que a minha primeira reação foi me afastar, era algo instintivo. Ele apenas tirou as mãos de mim e riu de um jeito divertido e perigoso. Ele ficava ainda mais bonito assim.

Ele. O cara mais lindo de toda a história da humanidade, o rei da escola. Ele, Sasuke. Minha maior inspiração, meu maior modelo. Secreto, é claro. Algo nele me intrigava. Algo no jeito que ele sorria, que ele agia, que ele era. Cada detalhe da sua existência era uma obra de arte; o conjunto todo, uma obra-prima. Seu sorriso soberbo que sempre estava iluminando seu rosto, os olhos de um negro intenso, a pele alva que cobria seu corpo escultural... Tudo se juntava da forma mais harmoniosa possível, nada ali parecia fora de lugar. Cada um de seus aspectos físicos combinavam perfeitamente com a sua personalidade. Seu sorriso combinava com a superioridade que ele emanava, seus olhos demonstravam confiança. Em suma, ele era perfeito.

Eu o admirava do começo ao fim.

Eu o odiava da cabeça aos pés.

Sasuke era a personificação da arte, por isso eu o admirava tanto. Eu jamais poderia expressar a sua perfeição, por isso o odiava.

Todo o tempo que eu deveria passar estudando, eu passava o observando, tentando capturar sua essência em uma folha de papel. Mas o desenho nunca fazia jus à realidade. Ele estava acima de qualquer arte material, ele era uma obra-prima. Não podia ser representado por nada que não fosse ele mesmo.

Minha relação de amor e ódio com a sua condição de obra-prima me levava à loucura; afetou todos os meus trabalhos de arte. Desde que o vi pela primeira vez, não consegui criar nada que não tentasse imitá-lo, retratá-lo.

Ele me arruinou.

Artisticamente falando.

Esqueci de mencionar a fama que o precedia: um mulherengo, cachorro, safado sem vergonha. Um quebrador de corações. Não havia uma menina bonita naquela escola que já não tivesse passado pelas suas mãos. Não havia uma pessoa que não tivesse tido seu coração partido por ele.

Mas voltando para o presente momento.

Quando vi quem era, meu coração bateu tão rápido quanto nunca antes. Eu estava à beira de um ataque cardíaco. Minhas entranhas deram um nó, meu cérebro começou uma rebelião. Eu sentia que ia explodir, entrar em combustão espontânea a qualquer momento.

E ele apenas sorria de lado em uma mistura de divertimento e algo mais malicioso. Totalmente calmo enquanto eu me desfazia de dentro para fora. Minhas pernas tremiam e meu rosto ardia. Eu não conseguia nem manter os pensamentos em ordem, mil coisas se passavam na minha cabeça e ao mesmo tempo nenhuma. Era a sensação mais estranha que eu já havia sentido.

Era como milhões de borboletas, mariposas, vespas e tudo o que tivesse asas, estivesse no meu estômago tentando sair pela minha boca, que estava aberta e puxava grandes quantidades de ar, como se eu tivesse acabado de correr por horas.

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