Anthrodynia | "Fúria"

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anthrodynia; (sg: um estado de exaustão ao perceber o quão horríveis as pessoas podem ser umas com as outras.)

"Viver é a coisa mais rara do mundo - a maioria das pessoas apenas existe."

- Oscar Wilde.





Birminghan, 2011

Mal acordei e já quero voltar a dormir. O pior, não é você acordar cedo num pleno sábado e sim acordar cedo num pleno sábado com sua mãe tagarelando coisas inúteis a uma hora dessas.

— Taehyung, está me ouvindo?

Ela faz essa mesma pergunta toda vez que percebe quando não estou prestando atenção. Eu não sou obrigado a ouvir ela falar sobre seus pacientes do trabalho ou o quanto a sua relação com o papai está decadente. Então me levanto da cama e me sento em posição de índio, e a encaro.

— Não, não estou ouvindo. E sinceramente? Nem quero. Agora saia do meu quarto, por favor.— respondo direto, enquanto esfrego os olhos.

— Meu filho, você está bem?— ela pergunta, tentando se mostrar preocupada, em seguida, se senta ao meu lado. Eu solto um riso frouxo. Não acredito que ela está fazendo isso, tentando agir como uma mãe de verdade.

— Não mamãe, eu não estou bem. Estou machucado e muito cansado.— eu falo, olhando para ela, com um olhar vazio.

— Onde se machucou?— ela pergunta, passando a mão pelo meu corpo. Pelo visto, tentando encontrar algum machucado. Tão astuciosa e ingênua.

Eu rio.

— Não mamãe, os hematomas são internos.— digo, fazendo-a parar de me tocar e a afastando de mim. Ela me encara confusa, em seguida, me lança um lhar duvidoso e desdenhoso. Se levanta da minha cama e caminha até a porta.

Antes de ir, me olha novamente.

— Preciso trabalhar.— diz por fim, saindo e me deixando finalmente sozinho.

É claro que ela foi embora. Sempre que eu digo algo desse tipo, ela se afasta. Sempre. Nunca tenta me entender. Nunca chega e pergunta: O que houve? Por que está assim? Me explique. Ela não se importa, simples.

Finalmente, depois de minutos sentado, me levanto e vou até o banheiro. Tomo meu banho, me visto e me dirigo até a cozinha. Passo pelo escritório de meu pai, mas antes que eu chegue na cozinha, ouço sua voz de lá. Ele está gritando. Volto atrás, vencido pela curiosidade, e ouço a conversa por trás da porta.

— Não me interessa o que levou a acontecer isso. Apenas resolva!— ele gritava, provavelmente com alguém através da ligação.

— Ela vale muito Christopher. É o último aviso, encontre-a.— ele finalizou, desligando a chamada e suspirando alto, furioso.

Sai de fininho e fui até a cozinha, beber um pouco d'água.

O que foi isso? Quem é Christopher? Que garota que vale muito? No que meu pai está metido? Repito essas mesmas perguntas, uma atrás da outra na minha mente, enquanto tomo goles de água, debruçado no balcão da cozinha, pensativo.

Meu pai é conhecido na cidade como o Delegado Kim. Sim, ele é da polícia. Um dos melhores oficiais, admito. Já ganhou várias medalhas e altos méritos. Deu duro para chegar onde está. Ele pode ser um ser humano medíocre e arrogante, mas faz bem o seu trabalho. Ele é capaz de fazer de tudo para se manter bem no trabalho. A delegacia é a sua vida. Queria ser pra ele tão importante como o seu trabalho é.

𝐀𝐧𝐭𝐡𝐫𝐨𝐝𝐲𝐧𝐢𝐚 ⁺ᵏᵗʰOnde histórias criam vida. Descubra agora