PRÓLOGO

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          Eu usava um vestido vermelho de renda e Hélio um blazer azul marinho com calça bem passada e um sapato engraxado

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          Eu usava um vestido vermelho de renda e Hélio um blazer azul marinho com calça bem passada e um sapato engraxado. Meus saltos me deixavam mais alta naquela noite e embora estivesse indo àquela cerimônia apenas para acompanhar meu namorado que era advogado da família que eu nem conhecia, tinha me produzido bem para uma cerimônia de casamento.

          A igreja São Francisco de Paula, com seu estilo neobarroco e iluminação apaixonante era sempre uma das mais procuradas para os casamentos das famílias ricas do Rio de Janeiro. E estava lotada naquela ocasião.

          A decoração impecável me fazia lembrar do dia em que havia me casado com Aldo, 15 anos atrás. Nossa decoração singela não se assemelhava nem distante àquela beleza que dançava diante dos meus olhos. O corredor longo e reluzente recebia velas e luminárias de cristal que refletiam suas luzes brancas e azuis sobre os galhos secos, dando a impressão de estarmos num lindo bosque em noite estrelada. Eu esperava multidões de flores como em todos os casamentos, mas aquele detalhe de galhos secos, milimetricamente proporcionais, fez charme para meus olhos de mulher sensível que ainda morava dentro de mim, escondida não sei onde.

          Descobri ali, olhando para aqueles galhos iluminados que eu ainda me encantava com festas de casamento. Mas meu encantamento era daqueles que sentia ao ir no cinema assistir a estreia de um filme badalado. Por que casamentos perfeitos e histórias de amor com finais felizes só existiam nas telas ou páginas de livros. Como contos de fadas que servem para nos distrair quando crianças e nos devastarem na adolescência à espera do príncipe encantado que nunca vem. Amores são dissabores. E verdadeiros... traiçoeiros.

          No altar, mais luzes caindo de um teto trabalhado propositadamente em tecido dourado, com flores brancas e pequenas emergindo como se fossem sementes de amor. Eu estava tão encantada! Decorações de casamentos eram fenomenais. Como produção de filme, onde não se poupa criatividade e requinte para realçar cada detalhe da cena. Era uma das festas mais bonitas do planeta, embora a beleza na maioria das vezes só ficasse na festa. Eu pensava nisso, enquanto admirava a decoração da igreja e fazia julgamentos baseada em meu próprio casamento esfacelado a 6 anos de uma maneira ridícula e cruel. Mas a despeito de desenvolver a teoria de que casamentos eram farsas bem arquitetadas, com pessoas sorrindo e fazendo juras de amor eterno, eu gostava do teatro com aquele clima de romance e pessoas arrumadas, sorrindo, fingindo acreditar no amor. Parei minhas divagações por um instante. E se o amor existisse de verdade? E se eu tivesse cometido um erro, fugindo dele?

           Voltei às belezas do casamento. Lembrei das noivas com seus vestidos suntuosos, fazendo um show de bom gosto diante de todos, respirando nervosismo e emoção por cada um dos poros... eu já tinha sido uma delas a 15 anos atrás. E talvez pudesse ter sido de novo, se não tivesse fugido recentemente.

          Eu preferia que aquele casamento fosse de algum amigo, parente ou pessoa conhecida. Me faria sentir menos deslocada naquele ambiente de grã finos esnobes e intelectuais. Mas me senti na obrigação de vir com Hélio depois de termos decidido tentar diminuir as frestas entre nós. Na verdade, eu ter ligado para ele, pondo fim ao tempo que eu mesmo exigira, não me colocava numa situação confortável para negar acompanhá-lo naquela cerimônia em que eu não conhecia os noivos.

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