Ready for it?

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Mudanças nunca são fáceis. Adaptar-se a elas é ainda mais difícil. Desde que optou pelo intercâmbio ao norte da Inglaterra, na Universidade de York, Catarina prosseguiu com sua vida pós-universitária ao adquirir visto permanente uma vez que conseguiu, depois de formada, emprego na área de mídia. Mas as pessoas eram frias, distantes e mesmo em seu ciclo mais íntimo, formado por um grupo de cinco pessoas, a brasileira, loira de olhos castanhos verdeados e pele levemente bronzeada, sentia dificuldade de adaptação.

Quando tinha a chance, visitava seu país, passava tempo com sua família e seus amigos de infância, e com eles, ela não se sentia tímida nem retraída, mas a divertida e alegre Catarina Berkins. No entanto, retornando ao cotidiano no estrangeiro, era como se fosse uma estranha. Mas quando começou a explorar outros cantos do país, e até mesmo o restante do continente -visitou Grécia, Alemanha, Rússia e Escócia- percebeu que era em York que não se encaixava. Com isso, preferiu se mudar para Edimburgo, na Escócia. Lá, sentiu-se mais acomodada e chegou a passar na entrevista de emprego, onde atuaria como produtora cultural numa gravadora relativamente conhecida. Entretanto, sua vida, naquele ano de 2018, viria a mudar quando recebeu uma ligação de sua nova amiga escocesa e vizinha, Amy.

--Miga, você não vai acreditar! Consegui um par de ingressos para o 'Meet & Greet' que vai ter aqui em Edimburgo! Vamos?

--Mas é claro! --exclamou Catarina, feliz--Quem será o famoso da vez?

--Tom Hiddleston veio espalhar sua beleza e simpatia. Imaginei que gostasse dele por conta daquela maratona que você me fez assistir da última vez que dormi na sua casa--lembrou-a Amy, animada--E como seu aniversário está chegando, eis seu presente!

Catarina quase gritou no trabalho. Ela teve de se afastar dos colegas para extravasar sua empolgação. Aquele definitivamente era o melhor presente de aniversário que poderia receber, e a amiga a tudo isso ouviu na maior alegria, com um sorriso no rosto. Amy era uma jovem da mesma idade de Catarina, tinha uns 24 anos, mas que havia escolhido não seguir carreira universitária. Ao contrário, estava prosperando com os negócios da família e tinha acabado de se mudar para a vizinhança de Catarina quando a conheceu. Era independente, extrovertida e bastante dona de si. De cabelos curtos e pintados de preto, Amy era relativamente mais alta que a amiga, que costumava chamá-la de modelo. Apesar das diferenças nas personalidades -e mesmo em gostos para algumas questões sócio-culturais-, elas se davam muito bem, polos opostos que se atraíam. Na verdade, Amy sabia que era a única amiga que Catarina tinha e fazia questão de prestigiá-la como retribuição à amizade sincera que ela lhe dera desde o momento em que Amy indagara sobre o funcionamento da vizinhança, recebendo de Catarina: "Não sei, sou estrangeira".

--E como funciona o esquema? --quis saber ela.

--Bom, contratei um serviço bom. Você terá um privilégio a mais que os outros fãs--contou Amy--Tirará foto, sim, mas poderá dispor de 40 minutos para conversar com ele... naquele hotel que fica no point chique da cidade, é claro, porque é lá onde vai acontecer o encontro. Ou devo sugerir date?

Catarina riu da ideia, sentindo-se boba e incapaz de retornar à realidade. Aquela perspectiva era bastante sonhadora, quase impossível, e, no entanto, parecia cada vez mais perto de se concretizar.

--Não sei como agradecer, Amy. De verdade, estou sem palavras...

--Não quero que você retribua de forma alguma, exceto sua amizade. Já fico feliz com isso.

--Se pudesse abraçá-la, faria isso e muito mais agora.

--Eu sei, mas não sou muito fã de abraços, então né...

Ao final da conversa, Catarina e Amy combinaram como iriam vestidas no sábado próximo, decidindo que deveriam sair mais cedo que o estipulado pela hora do 'convite' pago pela Amy para o evento que contaria com a participação do ator Tom Hiddleston. Naquele dia, Catarina voltou à casa com a cabeça nas nuvens. O que deveria perguntar a ele? Como não se portar como uma idiota diante do homem que mais admirava? Eram inquietações que ela detestava sentir, sabendo que já não era uma adolescente para ter tais pensamentos. E, no entanto, como evitá-los quando estaria, em quarenta e oito horas, diante de seu ídolo?

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