Calypso e Leo haviam sido bonitos juntos, mas não eram certos. Ela seria eternamente grata a ele por tê-la tirado de sua prisão, mas ela não era o que ele precisava e ele não era o que ela queria, não importa o quanto os dois tentavam se convencer do contrário. Ela não conseguiria fazê-lo magicamente se sentir importante, sentir-se como a primeira opção, e ele nunca teria como assegurar que os sentimentos dela não eram fruto de sua punição. Eles se separam amigavelmente e no dia seguinte ela coloca seus poucos pertences em uma mala e compra uma passagem só de ida para o destino mais barato que conseguiu encontrar. Calypso está livre. Ela tem um mundo inteiro para explorar e pretende ver cada parte dele.
Ela não olha para trás.
Calypso arranja um emprego como bartender na Irlanda e canta canções sobre donzelas solitárias e ilhas ao longe que deixam todos no pub de olhos marejados. Ela tem aulas de culinária na França, dança no Mardi Gras de Nova Orleans e no carnaval do Brasil e visita museus na Espanha. Ela vai a antigos templos destruídos na Grécia e sente uma perversa satisfação ao ver as ruínas - as pessoas haviam esquecido os deuses assim como eles a esqueceram. Ela perdera a construção desses templos; o nascer e morrer de civilizações inteiras, tudo porque estava presa na ilha. Calypso lê livros sobre toda a história que perdeu, tenta conciliar o que uma vez ela conhecia com o que ela vê e pensa no que sua vida poderia ter sido se tivesse escolhido o lado vencedor de uma guerra que ela sequer queria ter participado.
Seja grata, eles haviam dito gravemente. Seja grata que somos tão clementes, que sua punição não é tão severa, que não a jogamos no Tártaro. Seja grata, eles haviam dito, e por muito tempo, Calypso foi. O exílio era seu peso para carregar assim como o céu é o de seu pai. Mas isso havia sido antes dos heróis começarem a chegar - antes de ela se apaixonar por todos eles e ser deixada para trás. Ela teve seu coração quebrado e remendado tantas vezes que é uma surpresa que ele ainda funcione.
Percy Jackson tinha prometido tira-la de Ogígia uma vez e ela tinha acreditado, tinha tido esperança, que talvez ele conseguisse. Mas dias e meses e anos se passaram e ela continuava presa. Ele se esqueceu dela. Todos esqueciam, no final. Sempre havia um outro alguém, não importava o quanto ela se esforçasse para ser doce e meiga e tudo que ele poderia querer. Sempre havia um motivo para não ficar. Era inevitável; uma constante. Era tortura, ter que viver a mesma coisa de novo e de novo. Era pior ainda saber o que vai acontecer e estar impotente para impedir. Calypso pensa que talvez entenda como Prometeu se sente, acorrentado em sua rocha esperando pela águia que viria comer suas entranhas.
Ela visita o acampamento, de tempos em tempos. Ela vai para a Casa Grande, conversa com Quíron e joga pinochle com Dionísio. Ele, talvez por saber o preço de uma punição divina, ocasionalmente se mostrava menos mau-humorado e até a chamou pelo nome certo uma ou duas vezes. Calypso dorme na gruta do Oráculo com Rachel Dare quando está em Long Island - o lugar a lembra de sua casa. Ela sente falta de Ogígia, na calada da noite. O lugar pode ter sido sua prisão mas também foi o único lar que ela conheceu e é difícil separar seus sentimentos. Ela sai no meio da noite para andar, apenas para se lembrar que pode.
Ela não está mais presa.
Rachel a ensina sobre o mundo mortal e Calypso a ensina grego antigo e jardinagem como pagamento. Ela viaja para a Holanda, para ver o jardim de tulipas. Depois, para a Transilvânia, para ver os castelos. Para a Itália (ela leva um cacho de uvas roxas para Dionísio e um livro de pinturas para Rachel quando volta para o Acampamento Meio - Sangue), Egito (lenços que ela acha bonitos e amuletos de proteção, respectivamente) e Índia (uma mala cheia de temperos). Ela dorme no chão de uma pousada, na praia ou na praça, escala montanhas, mergulha em lagos cristalinos e em mares revoltos. Ela assiste o sol nascer e se pôr todos os dias de um lugar diferente, conta as estrelas e se maravilha com a beleza que uma vez havia sido natural para ela.
Ela se apaixona por lugares, vistas de tirar o fôlego e sabores novos, e não pessoas, e sabe que seus sentimentos são apenas seus.
Eu secretamente (ou não tão secretamente) sempre desejei que a Calypso tivesse um bom final. A verdade é que essa história é completamente auto-indulgente; eu só queria ler algo que não pintasse a Calypso como a rival romântica ou o par do Leo. Como eu não encontrei nenhuma, eu mesma fiz.
Ela merece viajar pelo mundo e aproveitar a liberdade dela, não acham?
para a Lucia, que sempre insistiu que eu deveria fazer uma história de Percy Jackson e que ficou tão animada quando eu disse que finalemente faria
(eu teria feito uma eventualmente mas o seu apoio fez com que eu desse o meu melhor nessa)
para a Milena, que discutiu comigo o destino da Calypso em um aniversário e me ajudou a escolher a capa bem malfeita que eu fiz
(é sempre maravilhoso ouvir a sua opinião)
para a Larissa, a aniversáriante mencionada, que não entende nada de Percy Jackson mas que ouviu a discussão inteira e fez que sim em todas as partes certas
(você é um bolinho)
para a Ana, que leu o meu conto mesmo que ele tivesse 20 páginas e não reclamou
(essa é bem menor, eu juro)
YOU ARE READING
selcouth
FanfictionCalypso conhece a rotina; ela sabe o que vai acontecer em seguida. Um herói sempre chega, ela sempre se apaixona, eles sempre vão embora e ela é sempre deixada para trás com um coração quebrado. É assim, simplesmente, até que não é. OU Como Calyps...