Um

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Maria
12 anos antes

Mamãe sempre fez marcação cerrada - os estudos são mais importantes, ela dizia - e assim eu fui crescendo, sem ter muita chance de fazer amigos.

Brincar na calçada? Nã-nã-ni, nã-não!
Dormir na casa de uma amiga? Não.
Ir ao baile sem ela me acompanhando? Jamais!

Estudar é mais importante!

Eu era filha única da Dona Fátima Silva dos Santos, uma mulher que acordava de madrugada pra pegar o ônibus e chegar na hora certa na casa dos patrões, mamãe fazia serviços domésticos - era diarista - engravidou de mim na adolescência, teve que abandonar os estudos para poder me criar. Meu pai? Diz ela, que morreu num confronto entre gangues.

E se tem uma coisa de que mamãe tem medo, é que eu cometa os mesmos erros que ela - estudar é mais importante - quando eu cheguei aos 18 anos, sem filhos e ingressando numa universidade federal, eu pude notar o quanto ela estava orgulhosa e como era significativo lutar por esse diploma.

As poucas vezes que eu estive em festas, ela me acompanhou, constantemente me alertando sobre não aceitar bebida de estranhos, ficar de olho no meu copo - alguém poderia me dar um boa noite, Cinderela. Cinderela eu? Risos - não aceitar carona, ou cair na lábia de algum carinha que eu estava afim.

Era uma eterna marcação cerrada, sobre como me comportar, me vestir e que durante sua ausência, eu deveria trancar tudo.

Nada de visitas!

Cuidado.
Atenção.
Seja cautelosa.

♡~▪︎~♡

"- Homens não são confiáveis, eles vão fazer de tudo para te levar pra cama, não importa o quanto eles digam que não precisa usar camisinha, use! E mesmo que digam que não vão fazer nada que você não queira, não acredite! O rapaz que fizer de tudo para ficar a sós com você, não vai perder a chance de tre*par contigo ou de ganhar um bo*quete.

- Nooossa! A senhora falando desse jeito, me faz pensar que eu deveria ser lésbica. - brinco.

- Não seria uma má ideia.

- Mãããe! - levo as mão ao rosto envergonhada.

- Eu sei que você gosta de meninos - ela estala a língua - mas infelizmente eu não posso te poupar da dura realidade, tudo é um pouco mais difícil para nós, você é pobre e mesmo que seja mais clarinha do que eu, ainda sim é uma mulher preta e a gente é sempre tida como fogosa, o tipo de mulher que abre as pernas com facilidade, por isso eu te alerto que só abra as suas pernas quando se sentir segura e não caia na conversa bonita desses pilantras, porque eles vão fazer de tudo pra te comer, mas na hora de te assumir, vão dá preferência a menina mais alva.

- Pra transar nem é preciso assumir um compromisso - ela me olha de cara feia - a senhora sabe que alguém pode me pegar a força também. - concluo.

Ela dá um suspiro pesado.

- Você acha que todos os dias que eu saio de casa e te deixo sozinha, eu não peço proteção para ti? Eu fico de coração na mão, por isso te digo para trancar tudo e manter-se em casa, o fato de você ser uma menina comportada não vai te livrar do perigo, mesmo se você fosse lésbica, tu ainda correria perigo, os homens são maus, querida.

- Com o papai foi assim? - questiono.

- Aquele traste? Doador de gala - ela faz uma cara de nojo - Ele não assumia ninguém, acho que foi porque não teve tempo, ele só tinha 19 quando morreu.

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