Eu Amo Você!

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Meu nome é Danilo, Tenho vinte e três anos e sou um deficiente visual. Muitos ao meu redor se dizem tristes, mas tristes por problemas fúteis. Há dores e tristezas muito maiores, tristezas que realmente valem a pena de assim se chamarem, tristezas. Há exatos cinco anos, no auge dos meus dezoito, conheci Rodrigo Borchesi. Nunca esquecerei este nome. No silencio da noite ele ecoa pelas minhas lembranças, Rodrigo Borchesi.

Na época amor para mim era sinônimo de confusão e dor, ainda mais para alguém como eu, um deficiente visual. "Ceguinho", "sem vista", "bicha-cega", como eles me chamavam, quem são eles? Meus irmãos, Primos e até tios. Minha mãe era a única a ficar do meu lado, mas não durou muito, como eu ela era cega também, uma doença congênita, que por alguma razão brincalhona do destino, não afetou meus irmãos. Uma tarde ela estava na beira da escadaria, estava chovendo muito, ela não achava a chave entre as vestes. Nesse momento eu estava no meu quarto, como sempre ficava ás tardes. Só me lembro dela me chamando e depois um grito alto e único. Ela caira da escada. Ela morreu assim, de modo tão vil e inacreditável de certa forma. Para aliviar minha dor eu criei uma hipótese para o que tinha acontecido. Ela se aproximou mais da beirada para poder me chamar para abrir a porta por dentro, mas escorregara, pois nossa escada é lisa demais, e por vezes eu caira lá também em dias de chuva. Naquele dia, e naquele exato momento, eu estava só e meus irmãos na farra. Eu mesmo só fui entender o que acontecera horas depois, eles chegaram e a viram caída.

Durante dias eles diziam que a culpa daquilo era totalmente minha, por não tê-la "visto" cair. Minha avó me pediu para morar com ela, com a desculpa de que eu poderia sofres algo ruim nas mãos de meus irmãos, e sei que ela estava certa. Vó Helena foi era minha segunda mãe, sempre me deu carinho e o devido respeito, não só por ser cego mais também gay, o resto da minha família exceto ela e minha mãe, diziam que eu era duas anormalidades de uma vez só. Ela sempre que possível me defendia com unhas e dentes. E agora sem minha mãe ela era meu único refugio.

***

Em uma manhã, eu estava voltando para a casa de minha vó. Ainda estava me acostumando a viver ali, as ruas, vielas, buracos e níveis e desníveis dos lugares onde eu passava, eram totalmente novos e assustadores para mim. Vó Helena insistia em me acompanhar em todo lugar, mas eu era teimoso, e sempre quis aprender na marra. Pelo peculiar som eu havia chegado a um cruzamento, com a bengala-guia eu tiquitacava o chão. Esperei o barulho dos motores entrar em pausa para poder atravessar. Com um passo de cada vez decidi seguir, desci da calçada. Andei normalmente, até que de repente, ouço se aproximando em alta velocidade um carro. Assustado eu não pude perceber de que lado ele se aproximava de mim. Então ele apareceu.

-Cuidado!- E se jogou contra meu corpo, me tirando do meio da rua.

-Você esta bem?- Ele pergunta me pondo de pé, ele pegou minha mão e com a outra me entregou a bengala.

-M-muito obrigado, e-estou sim. -Respondi gaguejando, eu poderia ter morrido, e aquele rapaz havia me salvo.

-Como se chama? - Ele perguntou ainda com as mãos sobre as minhas.

-Danilo. Olha realmente muito obrigado eu poderia te... - Ele me interrompeu.

-Prazer Danilo. Eu sou Rodrigo. Não precisa se preocupar, eu apenas quis ajuda-lo, algo ruim poderia ter acontecido. Mas fico feliz por ter aparecido na hora certa.

Eu estava completamente envergonhado com aquela situação, queria poder não ter saído de casa, para evitar todo esse momento.

-Desculpa não era nem para eu andar sozinho, minha vó nem pode desconfiar do que aconteceu, ou melhor do que poderia acontecer, ela morreria.

-Quem é sua avó?- Ele perguntou. Fiquei segundos pensando, não poderia dizer isso á um completo estranho. No entanto ele acabou de me salvar.

-Helena.

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