O dilúvio

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Eu ando por aqueles corredores, que nunca se acham fim, pensando em como tudo isso aconteceu. Estou perdida em pensamentos, cercada pelos beeps das máquinas que informam que corações ainda batem. Chego no saguão novamente, acho já devo ter dado cinco voltas no lado leste do hospital. Meus pais ainda estão no quarto com meu irmão, não me deixaram entrar junto, disseram que são apenas duas pessoas poderiam entrar de primeira.
O tempo demora a passar, me sento numa cadeira ao lado de uma pilha de resvistas, passo meus olhos pelas páginas e vejo uma propaganda de protetor solar e já me lembro da primeira vez que fomos em família para praia, das caretas que minha mãe fazia ao pisar na areia, de como o papai ficou vermelho nos primeiros vinte minutos que chegamos, de como o Andril ficou envergonhado ao ter de tirar a camisa, ele sempre foi assim, tão frágil, tão... As lágrimas começaram a cair de novo, e a dor aumentou drasticamente, como foi que tudo isso aconteceu?
Ouço a porta do quarto se abrir, meus pais saem acompanhados do médico, mamãe com a cabeça baixa e meu pai a consolando, ele me olha, com aqueles olhos tristes e caídos, e acena para que eu entre.
Fecho a porta atrás de mim e olho para a janela, a chuva ainda continua grossa, não passam das cinco da tarde, meus olhos caem lentamente a cama a minha frente.
-Andril...
Deixo escapar pelos meus lábios, me aproximo silenciosamente, como se ele estivesse dormindo e eu não quisesse acordá-lo. Toco seus cachos ruivos, seus braços estão enfaixado, ouvi o médico dizer que os cortes foram profundos e que talvez tenham atingido algum tendão. Meus olhos começam a arder, fico de joelhos ao seu lado, agarro seu braço e choro quieta, toda essa dor que não parece ter fim...
-Qual será a sua história?
Ouço uma voz feminina, primeiramente penso em minha mãe mas, não, a voz parece ser mais suave, talvez uma enfermeira, levanto minha cabeça e um frio corre minha espinha. Vejo uma garota, ela usa uma roupa que se assemelha a uma camiseta social branca, seus braços cheios de fitas, os cabelos caídos ao peito e seus olhos examinam meu irmão, poderia se dizer que ela seria uma paciente qualquer, se não fosse as asas negras que brotavam de suas costas.

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