just one.

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o álcool incendeia com calma meu interior, gradativamente, enquanto a bebida escorrega por toda minha garganta, aquecendo minha pele e simultaneamente bagunçando minha visão.

acima de mim, as nuvens escuras da noite escondem as várias estrelas do céu, num aviso prévio de que a madrugada seria um pedaço de escuridão pairando entre as ruas sem fim de Paris.

a janela do meu quarto de hotel emoldura lindamente a torre Eiffel brilhando ao longe, como se fosse um dos quadros pendurados entre as paredes brancas e sem vida. quase como um pingo de luz em meio a escuridão bonita que envolve Paris.

os shows na Europa tem sido tão bons quanto cansativos, e eu sei que não sou só eu que estou sendo aprisionado pela exaustão dolorosa que ronda meu corpo, pois na cama ao lado, Hoseok suspira alto a cada dez segundos entre sua respiração acelerada, enquanto vira mais uma página do livro vermelho entorno de seus dedos.

e ele só faz isso quando está exausto.

ouço um baque leve em sua cama e agora, seu livro colorido está jogado entre os lençóis brancos, enquanto Hoseok coça os olhos com uma das mãos e deixa que a outra comece a levantar a bainha de sua camiseta branca devagar.

prendo a respiração quando vejo o pequeno feixe de pele que aparece entre o tecido de sua camiseta, enquanto mais uma vez, deixo a bebida esquentar meu corpo quando tomo um gole do copo de uísque de uma vez só.

eu odeio o jeito como Hoseok consegue me desestabilizar com o menor ato possível. odeio o jeito que suas mãos passeiam pela própria pele banhada pelo sol. odeio o jeito como a ponta de seus dedos traçam um caminho que eu queria poder tocar com a língua. odeio como seus lábios se apertam quando a camisa apagada passa por seu pescoço. odeio como seu corpo se arrepia ao primeiro contado com o ar frio da Europa. e eu odeio, principalmente, amar tanto alguém que não posso ter.

aperto o copo de vidro entre meus dedos e viro o resto do uísque em minha boca, torcendo para que a queimação demasiada em minha garganta superasse a dor aguda que preenchia meu peito.

então, eu me levantei, mas o álcool embaçou rapidamente minha visão e forçou meu corpo para o chão, o que me fez tropeçar e minhas mãos encontraram a parede fria, buscando algum tipo de apoio para meu corpo dormente.

hoseok, ao meu lado, arregalou os olhos e apertou os lábios, daquele jeito que eu tanto odiava – acho que já chega de beber por hoje, hyung.

— eu tô bem – minhas palavras quase falham e então, Hoseok se levanta.

— ok, mas isso não é um motivo para te incentivar a beber – seus braços passam por minha cintura, me puxando contra seu corpo quente, quase me fazendo suspirar contra sua pele – sei que está cansado, mas não pode beber tanto assim.

— se eu não beber, não vou conseguir dormir tão cedo.

Hoseok riu baixinho, com sua voz vibrando através de sua pele nua, encontrando meus ouvidos e nublado minha mente – eu te ajudo a dormir, hyung, ok?

— ok.

Hoseok me ajudou a deitar em sua cama, entre os cobertores bagunçados e em frente a janela que nos mostrava com clareza os detalhes mais bonitos de Paris.

sempre achei Paris a cidade mais bonita que poderia existir, mesmo que apenas a visse por fotos editadas ou por filmes ruins de romance de 1990.

mas agora, olhando através da janela transparente, eu vejo com clareza todos os detalhes bonitos que as fotos e filmes não conseguiam registrar. como as finas pétalas de flores que dançavam entre as pessoas, como o cheiro de lavanda que sempre parecia caminhar ao seu lado entre as ruas cinzas, como as luzes da torre Eiffel refletindo contra as casas, iluminado a noite e estampando os rostos dos casais apaixonados que caminhavam entre a cidade.

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⏰ Última atualização: Jun 26, 2020 ⏰

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