{HIATUS} Watercolor • Kth + Ksj

[1] On your shoulders

Tóquio, Japão.

Tóquio estava imersa a uma neve intensa. A primavera estava distante, e o significado disso eram Sakuras congeladas por toda a extensão da cidade. Apesar do Japão ser retratado como o país da flor de cerejeira, a neve fria lhe caia bem, combinava com os seus cidadãos cabisbaixos e orgulhosos. É como o maiores retratos da literatura, apesar de aquecerem o coração de milhares de pessoas, eles ainda têm o seu traço sombrio, e talvez isso seja um complemento charmoso.

Eu caminhava por todo o quarto do hotel, repetindo voltas e mais voltas. O assoalho parecia prestes a afundar sob meus pés, e as cortinas escuras não eram nada comparadas à minha mente em turbilhões. Um maldito looping. Estava entediado. Todos os outros seis estavam em um restaurante quente e aconchegante. Mas eu não queria desperdiçar o curto e raro tempo que eu conseguia em um restaurante. Isso estava fora de cogitação.
Então eu decidi: ia passar o meu tempo em um bom bar. Não era o melhor programa, mas ainda sim era melhor que ir comer lamem em um restaurante da avenida. Eu só precisava de uma máscara, agasalhos escuros e a minha carteira.

Me vesti com casacos de lã grossa. A gola alta me dava a sensação de sufocamento, mas a cidade estava a deriva do frio. A touca deixava meus cabelos emaranhados e as luvas me prendiam a circulação.

Ninguém podia me reconhecer, qualquer pronunciamento que o meu nome estivesse metido e eu sairia correndo. Literalmente.

Peguei a minha carteira e sai do maldito quarto. Atravessei o saguão do prédio tranquilamente, porque aquela era uma das raras vezes em que o hotel em que ficávamos não estava lotado de fans.

As construções antigas da avenida do lado de fora do hotel perdiam-se em meio as aglomerações de bancos e lojas de luxo. Os edifícios que se erguiam ruidosamente do chão engoliam qualquer vislumbre que pudesse se ter do céu. O Japão podia possuir seu ar conservador, mas ainda sim era um país a deriva da globalização.

Acenei para o primeiro taxi que cruzou a esquina, entrei e pedi para o motorista que me levasse à um bar tranquilo e aconchegante, e ele educadamente me disse que conhecia um muito tranquilo, confortável e não tão chamativo, mas que valia muito a pena. Me disse também que eu não precisava me preocupar, porque estávamos numa quarta-feira, e as pessoas não gostavam tanto assim de beber em dias do meio da semana, porque deixavam suas esposas irritadiças e atrasava o trabalho, dessa forma não haveria tantos movimentos, então eu poderia tirar a minha mascara de proteção para boca. Eu o agradeci, e então ele me pediu um autógrafo para sua filhinha de oito anos.

Ele me falou sobre a neve que impediu os seus filhos de irem à escola, e que a sua esposa, que era dona de casa, estava enlouquecendo com as crianças porque elas não paravam de pedir chocolate quente e pular no sofá. Eu sorri, lhe contei que estava ali a passeio, que adorava o país e principalmente as flores na primavera. Ele não foi modesto, me disse que a época da primavera era realmente um colírio para os olhos dos turistas e moradores da cidade, e eu confirmei, porque de fato era.

Quando chegamos ao bar em que ele mesmo me indicou, eu lhe paguei pela corrida e ainda lhe dei uma boa gorjeta. Ele não poupou agradecimentos. Me disse que não era só sua filha que era minha fan, porque ele também era, que ele não daria à ela o autógrafo e que eu não precisava me preocupar porque ninguém saberia que eu estive em seu taxi, mesmo que ele quisesse contar à sua esposa e filhos.
Acenei e ele seguiu seu percurso.

A rua estava repleta de pessoas apressadas e bancas de jornais. Eu pude sentir o cheiro forte do café vindo de uma pequena barraquinha de porcos assados. Exitei por um instante, com a dúvida se deveria entrar na barraquinha que parecia tão agradável ou ir diretamente ao bar. Fui ao bar.