Não vim aqui falar de flores.
Não vim aqui dizer poesia sobre girassóis. Escolhi girassóis porque carrego em cada olho meu e acho que são flores que falam de mim. Dizem que os girassóis representam a felicidade e eu acredito que deva ser, mas não estou aqui para falar de girassóis.
Eu sou escritora, como pode ver, mas não sou das melhores. Deve pensar que estou sendo pessimista, mas acredite em mim: sou amaldiçoada com o Dom da Suprema Percepção. Antes de ser escritora, eu era pesquisadora. Minha obrigação era conferir informações e analisar dados, saber que o que eu via era "real" e qual resultado produziria. Pois bem, depois de tanto tempo fazendo isso, não é simples deixar os velhos hábitos, então meio que... Como posso dizer? Meio que faço isso com quase tudo.
Aprendi a reconhecer padrões e os padrões me machucam porque não me ajusto a nenhum e aí vem a ideia de que não sou uma das melhores. Sou escritora porque digo que sou. Eu escrevo. Narro histórias. Às vezes emociono. Às vezes surpreendo. Tudo isso é coisa de escritor, mas não sou das melhores, talvez nunca seja, talvez jamais tenha sido em algum momento e não, isso não é pessimismo.
Pessimismo é olhar para o horizonte pela manhã, um céu sem nuvem alguma e dizer "Vai chover". Pessimismo é você falar de coisas negativas tendo como base coisas positivas, distorcendo-as de maneira que façam algum sentido, ainda que só na sua cabeça. Realismo é diferente. É olhar para o céu no horizonte, sem nuvens, e dizer "Talvez chova". Realismo é botar o pé no chão e saber dentre as possibilidades, qual a que melhor condiz com a situação. Realismo é reconhecer padrões. Ou para se encaixar neles ou para se afastar deles.
Pessimismo é nascer lua e querer ser sol. Realismo é nascer girassol e saber que não é sol. É estranho, parece trágico, mas traz algum conforto para algumas pessoas. Não confunda conforto com conformismo. Conforto é um estado de espírito, é um momento de paz e de segurança, em que você pode suspirar ao sorrir. Conformismo é entrar num buraco raso e ficar ali, porque é mais fácil ficar do sair de uma coisa que você entrou por vontade ou porque te empurraram. Então. Conforto. Saber que algumas coisas são como são traz algum conforto. Pelo menos, para algumas pessoas.
A mim não traz e provavelmente não é surpresa para ninguém. Uma pessoa que reconhece padrões e não se encaixa em tals, tampouco se afasta deles porque é escritora - escritores são mais envolvidos com os padrões do que se julga a vã filosofia - não tem muito conforto na vida. Sou perturbada. Não de perturbada como uma psicótica ou uma histérica, mas alvo da perturbação - aquela coisa que te tira do conforto.
Sou perturbada pelo Outro e, principalmente, pelo Eu. Me sinto mal e me sinto bem ao mesmo tempo porque o paradoxo me define. Sou girassol. Sou astro e sou flor. Vejo as pessoas felizes por conquistas - especificamente escritores e escritoras - e fico feliz porque elas chegaram lá. Mas fico triste porque sei que não sou eu e me pergunto por que não cheguei. Aí vem a coisa de "não sou das melhores". Reconheço o padrão dos melhores e não me encaixo neles, também não consigo me afastar porque, mesmo sendo girassol, eu quero ser Sol, eu quero ser a melhor um dia.
Pelo menos por um dia, ser a melhor. Ser a melhor sem deixar ninguém pior, ser a melhor sem pisar em ninguém, ser a melhor pelo meu próprio esforço para ser reconhecida. É um desejo bobo e talvez lhe faça chorar. Tudo bem, chore. Quando não temos palavras, os olhos falam por nós e o choro é uma forma da alma desafogar. Chore, pois eu choro. É um desejo bobo, mas desejar é de graça e a traz algum conforto.
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Queria ser Sol, mas sou Girassol
RandomQuando os pensamentos já não cabem na cabeça, deixamos eles fluirem para algum lugar. E no meio de tudo isso, sou flor que sonha em ser estrela da manhã, mas ainda sim é flor. Sigo o Astro-Rei, esperando a minha vez de conquistar o céu.