"O endereço é esse, senhorita."
O carro saiu da rotatória, parando em frente a enorme escadaria daquela mansão obscura no lugar mais distante da cidade, longe de tudo que conhecia... longe de tudo que qualquer um conhecia. Até mesmo o taxista, que afirmou morar na cidade há anos, parecia confuso e desconfiado. Em pleno sábado a noite e ele frequentando lugares estranhos como esses, além da viagem ter sido longa demais.
Não é de se assustar que estou atrasada.
"É, a casa é essa" levantei a foto que havia no convite, vendo que a mansão batia com a da foto.
Endereço peculiar para uma festa peculiar.
Paguei o taxista, que me desejou uma boa noite e voltou pelo retorno da rotatória. Fiquei olhando o carro partindo, no fundo eu desejava voltar com ele.
Estava tudo muito estranho.
"Senhorita Vitoria?" me assustei "Desculpa, eu não queria assustá-la-"
"Tudo bem, senhor érr..."
"Alfred, o mordomo, senhorita Vitoria" ele completou, notando minha dificuldade em ler o crachá em seu terno escuro "Pensei que a senhorita não viria."
"É que eu me atrasei um pouco" falei um pouco atrapalhada pelo susto recente "e... pode me chamar de Bruna."
"Tudo bem, senhorita Vitoria."
Sorri timidamente para ele, enquanto ele se curvou, apontando meu próximo destino.
Subi a escadaria em silêncio, acompanhada por Alfred.
Olhava cada detalhe daquela enorme casa e como as nuvens escuras entravam em um contraste sombrio com sua arquitetura, as estrelas e a lua cheia iluminavam juntas as inúmeras janelas, mostrando sinais de vidas diferentes dentro da mansão, como se eu pudesse ouvir a respiração da casa, como se ela estivesse monitorando cada passo que dava dentro do seu terreno. Como se a casa tivesse um cérebro.
Senti um calafrio ao pisar no último degrau, estava quase sem fôlego, o salto já machucava meus pés.
A noite vai ser longa.
Sentia algo dentro de mim pedindo para eu sair dali imediatamente. Uma voz desesperada. Mas não a ouvi. Além do mais, já estava atrasada, a festa havia começado há duas horas atrás.
Clara deve estar preocupada com meu atraso. Mesmo que ela ainda não tenha me ligado... ou melhor, o sinal de celular não existe nesse lugar.
"Droga" Deixei escapar ao checar a falta de sinal no celular. Senti um aperto no peito, eu odeio deixá-la preocupada.
Esse aperto se transformou numa pontada ao passo que ouvi as badaladas de um relógio que parecia estar vindo de dentro da casa. Cada badalada era uma angústia diferente dentro de mim, uma pontada doída em vários pontos diferentes, enquanto aquela voz dentro de mim pedia misericórdia para que eu não batesse naquela porta.
Mas não podia deixar Clara sozinha. Ainda mais nessa situação estranha, nesse lugar estranho.
Ajeitei minha máscara e respirei fundo. Talvez seja apenas paranóia.
Alfred empurrou as grandes portas vermelhas da mansão, fazendo um rangido que incomodava e parecia chamar a atenção das pessoas lá dentro.
Droga, já cheguei chamando a atenção.
Segui Alfred para dentro, olhando ao redor e vendo cada convidado vestido exatamente como pedia no convite: mascarados. As roupas em tons sombrios eram destacados pelos móveis antigos do salão da casa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
hot to the touch, cold on the inside
General Fictionconvidamos você para uma festa de máscaras próxima sexta as 22 hrs. contamos com sua presença! ~garantia de vida não está incluso~