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Recuperada da enorme queda da escada para a felicidade, encontrei um novo amor.

Era carinhoso, amoroso, tudo de bom. Um tempo depois ao meu amor, pedi um amor  e ele me deu um bolo estragado.

"Espera...Eu pedi amor", disse.

- Ué, isto é amor.
- Mas não vai me deixar doente?
-Eu não sei, quem sabe...

Olhei mais uma vez e notei um bichinho saindo da cobertura.

- Vai querer ou não? – Ele olhava o animal também.
- Não sei. – A larva de mosca afundava cada vez mais no bolo.
- Olha... Não vou ficar parado aqui o dia todo não.Não tenho tempo pra isso.

Lembrei que não sabia cozinhar e levei o bolo para a casa. Primeiro, tentei tirar tudo que se movia na cobertura, mas era extremamente difícil e decidi raspar o mofo nojento, fechar meus olhos e engolir um pedaço.

Vomitei muito.

Dormi com muita fome e acordei passando mal. Não saí de casa por uma semana: o amor que ele me ofereceu não me deu vontade de tomar banho, nem de pentear meu cabelo. Não queria olhar o céu e nem ver ninguém. No quinto dia sem amor, não quis sequer abrir meus olhos. Muito menos as janelas da casa.

Sem forças, olhei para a mesa e resolvi tentar de novo. O estômago reclamou, mas não devolveu.Fui dormir indigesta e ao mesmo tempo tranquila. Ao amanhecer, as maquiagens na penteadeira voltaram a fazer sentido. As roupas espalhadas pelo chão pediram para serem penduradas. E decidi sair de casa.

A cada passo, sentia o estômago revirar, mas também sentia que estava viva. Segui na rua disfarçando a minha cara horrível enquanto olhava os sapatos nas vitrines.

À noite, resolvi encarar o bolo de novo.

Ele não pareceu tão ruim quanto no outro dia. Pra falar a verdade, olhando de lado nem dava para ver a parte nojenta. Continuei comendo o bolo, segui com o estômago revirado. 

E, finalmente, o bolo acabou.

Preocupada, fui até ele pedir mais amor. Ele me entregou mais um bolo e este estava coberto de moscas.

- O cheiro é péssimo.
- É o que eu tenho e posso te oferecer.

Não consegui colocar sobre a mesa da sala, já que atraía ainda mais moscas. Pus dentro do microondas e cortei uma fatia: o cheiro estava me deixando com ânsia. Tampei o nariz aproximei o garfo da boca, tentando não mastigar as moscas mortas. Sabendo que não poderia ficar sem amor e nem me livrar de todos os insetos, engoli. O estômago não roncou nem a garganta contraiu: já estavam acostumados.

Quando o amor  acabou, ele me entregou algo em um pote. Quando abri, me veio a surpresa.

-Mas... Isto é vômito!
- Eu chamo de amor.

Entendi que era bolo vomitado e resolvi guardar na geladeira. No dia seguinte, provei uma colherada antes de ir para o colégio e eu já não sentia mais gosto de nada. Tomei outra
colherada à noite, pra garantir que logo mais a noite iria ter vontade de tomar banho e sair com meus amigos.

No dia seguinte fiquei um tanto febril, mas segui dando umas colheradas. A fome era imensa;
Dois dias depois, a cabeça ardeu em febre e a minha garganta ficou inchada.

Sem conseguir engolir o amor, fechei as cortinas e esperei a morte bater. Quando ouvi o som da campainha, suspirei. Aliviada.

Mas não era ela....

Não era alguém que eu conhecesse. Tinha cabelos encaracolados e trazia um prato com uma espécie de massa branca. Leve, limpa, tinha cheiro de primavera. Parecia suspiro.

-O que é isto?

-Amor - abriu um lindo sorriso

- Isso não é amor. - Eu disse.

- É amor, sim. - Parecia surpreso. 

- Não, não é. - Eu ri.

Os olhos dele encheram de lágrimas. Antes que eu pudesse mudar de ideia, levou a torta de creme embora.

Meu amor nunca mais apareceu. Muito menos o garoto que me trouxe aquele amor esquisito

Talvez eu deva aprender a cozinhar sozinha...


This is Love? TextWhere stories live. Discover now