GÊNESE - PARTE II

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As coisas no trabalho acabaram saindo melhores do que imaginei, o que me fez pensar que tudo  estava dentro dos conformes. Até a noite da sexta-feira daquela mesma semana, quando cheguei em casa e encontrei novo buquê de rosas vermelhas e um bilhete no sofá da sala - O Sales, porteiro do prédio, entrou com a chave reserva que tinha lhe dado para possíveis emergências, e deixou a encomenda lá. No instante em que vi aquilo, liguei para ele:

- Sales, boa noite! Tudo bem? É Flora quem está falando. Desculpa por te incomodar a essa hora, mas é que vi que você deixou flores aqui no meu sofá. Sabe quem mandou?

- Boa noite, senhora. Estou bem e não é incômodo lhe atender. Quem deixou as flores foi um homem que veio num carro preto, mas não se identificou, disse que a senhora saberia quem era.

- Tudo bem, querido. Obrigada!

- Boa noite

-De nada, senhora

- Boa noite.


Apesar de saber serem flores de Alberto, o medo me tomou. Eu já havia respondido. Por que ele estaria insistindo? Para dirimir as dúvidas, resolvi dar um voto de confiança, e li o bilhete dentro do buquê, que dizia:


Olá, Flora querida! Sei que você respondeu minha proposta, e tenho tentado respeitar sua decisão, mas confesso que está bem difícil. Poderíamos nos ver só uma vez a sós, na minha casa, amanhã à noite? 

Beijos, 

Alberto.

Não podia acreditar! Santa insistência! Mesmo resistindo mentalmente, decidi dar um voto de confiança e fui ao encontro de Alberto. Chegando ao prédio onde morava, fui muito bem recebida e direcionada pelo porteiro ao apartamento dele. 

Logo que entrei, percebi que a sala estava iluminada com velas em castiçais nas extremidades das mesas e havia uma toalha branca muito bem bordada cobrindo o móvel. Alberto estava sentado na cabeceira, com mais um buquê de rosas vermelhas para me presentear. Fitou meus olhos a meia-luz e disse:

- Era a beleza que faltava para iluminar minha noite! Seja bem-vinda!

- Agradeço pelo convite e gentileza, mas gostaria de saber o objetivo de tudo isso. 

- Ainda preciso ser  mais claro? Você não consegue notar?

- Noto... Mas já dei minha resposta e não pretendo mudar!

- Calma... Vamos deletar a resposta anterior? Depois de hoje você pensa melhor e me responde, pode ser?

- Como assim? O que vai acontecer aqui?

- Tenha paciência... Cada coisa a seu tempo. Por agora, disfrutemos do jantar. 

Tudo estava ótimo, foi programado com notório cuidado. Quando estávamos já por terminar a sobremesa, Alberto disse:

- Querida, sei que tenho insistido muito nisso, mas é difícil negar, esconder o que sinto. Sou viúvo, há muitos anos não encontro alguém que me complete como você faz. Por favor, dê essa chance ao amor, deixa eu te fazer feliz...

Ao dizer isto, foi tocando minhas coxas por baixo da mesa, enquanto tentava beijar minha boca. Comecei a sentir forte atração de súbito, e não pude resistir, acabei aceitando o beijo. 

Daí em diante, começamos a namorar, inclusive publicamente. Na empresa, todos já se referiam a mim como a Senhora Alvarenga, o que me deixava um pouco desconsertada, mas depois me habituei. A relação foi seguindo seu curso sem percalços, até que um dia saímos para jantar com uns amigos de Alberto da época da faculdade. Coloquei um vestido curto vermelho, sapatos pretos de salto, me maqueei e esperei meu namorado em casa. Logo que me viu, disse:

- Que roupa é esta? Aonde pensa que vamos? Ao baile funk? 

- Vamos, suba e se vista com decência!

- Mas, Alberto... O que tem demais nessa roupa?

- Tem que não é adequada para uma mulher comprometida!

- Achei aquilo estranho, já que não era um comportamento usual dele, porém, para evitar atritos, preferi anuir.

- Tudo bem... Espere só mais cinco minutos, e ponho outra roupa.


Naquele momento, não fazia ideia do quanto aquela aquiescência me faria mal dali em diante. Foram sucessivos controles sem sentido ou motivo, nas horas mais impensadas, do jeito menos delicado possível, onde quer que fosse, podendo ou não usar palavras para agredir. 

Certa vez, estávamos no almoço de aniversário do meu primo Joaquim, e minha prima Isabel veio me cumprimentar:

- Oi, prima! Tudo bem? Como anda a vida? Muitas novidades para me contar?

- Oi, Bel! Que saudades de você... Por enquanto, sem novidades, tudo na mesma.

- Sério? Mas como? Com esse namoro recente? Se fosse eu, estaria me sentindo num mar de rosas.

- Também pensei que estaria, mas parece que foi só pensamento mesmo.

Ouvindo isso, Alberto me fitou com fervor e uma expressão forte no olhar, como se dissesse: -Em casa conversaremos. 



Rosas para você (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora