voar.

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Me joguei na velha poltrona com um copo de whisky em mãos, sentindo meus músculos relaxarem enquanto eu, aos poucos, me acalmava ao sentir a queimação na garganta que a bebida proporcionava.

Taehyung e eu tivemos mais uma briga por conta do meu trabalho, das horas em que fico fora, ou que nem venho passar uns dias com ele. Mais uma briga como consequência da minha ausência, como ele mesmo havia dito.

Veja bem, eu o entendo. Entendo mesmo. Ele é só uma pessoa carente e intensa demais, e tudo bem, porque eu também sou.

Só que meu trabalho vem exigindo cada vez mais de mim, e eu não poderia estar mais feliz, porque isso apenas significa que estou finalmente ganhando reconhecimento no meio artístico. Finalmente sendo capaz de viver para o que amo. Mas, além disso, eu também quero meu tempo, meu espaço. Eu preciso ser eu, o Yoongi. E não apenas Yoongi, o namorado de Taehyung. Eu quero voar, também. Porque ele voa quando quer, e é lindo de se ver, mas com sua necessidade de mim o tempo todo, por vezes ele acaba não me deixando fazer o mesmo.

Bebi todo o conteúdo restante do meu copo de uma só vez e, determinado a conversar sobre isso tudo do jeito certo, como as pessoas maduras que éramos – embora no fundo o medo do tiro sair pela culatra estivesse presente –, apenas me dirigi até o quarto de onde vinha um choro baixinho.

Era sempre assim; ele chorava e eu afogava as mágoas e frustrações com um bom whisky.

— Ô, meu amor... – aproximei-me dele vagarosamente e com cuidado, como se ele pudesse explodir e quebrar a qualquer momento. — Não chora. Eu odeio quando você chora.

Tae era cheio de problemas, sua bagagem de sofrimento era tão pesada quanto a minha. Sendo assim, meu coração doía toda vez que eu via aqueles olhinhos adoráveis brilhando por lágrimas de tristeza, e doía ainda mais quando eu era o motivo dessas. Eu sei que meu menino já chorou demais nessa vida.

Me deitei ao seu lado, e ele rapidamente se aninhou em meu peito, se esforçando para controlar o choro.

— Eu te amo tanto, Yoongi. E sinto muito por sempre causar essas brigas. Sei como eu posso ser um porre, às vezes – disparou, soltando uma risadinha soprada e completamente sem humor. — Eu só... preciso de você. Tudo dói. Mas não quando você 'tá aqui, do meu ladinho.

— Eu sei, meu bem. Sinto muito se parece que estou simplesmente me ausentando – deixei-lhe um beijo no topo da cabeça, inalando o cheirinho gostoso de shampoo de morango. — Mas tu tem que tentar me entender, eu preciso de música tanto quanto preciso de você.

— Eu entendo, hyung. E espero que também me entenda – ele fungou.— É tão mais fácil quando tem você pra dormir junto, tem pra acordar junto e viver junto, tem você pra me contar dos seus dias seguros.

— Tae... – a frase se perdeu no ar antes que eu pudesse sequer tentar formular algo coerente, e o ruivinho me apertou ainda mais em seu abraço.

— Se não, Yoon, tem ausência e saudade. Tem lembrança de felicidade – continuou, numa espécie de monólogo, finalmente botando tudo para fora, sem tentar fugir do assunto dessa vez. — Me diz, o que eu faço, quando tem apenas o guarda-roupa vazio, sem teus tons escuros?

— Quero que saiba que eu também te entendo, amor – disse.  — Ainda assim, não entendo.

— O quê?

— O porquê disso tudo ser tão complicado.

— É porque é amor. — ele me respondeu de forma simples, e então, continuou: — Dói sem tanto te lembrar dando voltas e fazendo meu mundo bambo girar. E só você consegue fazer com que eu me sinta assim... – sussurrou, quase como se estivesse me confidenciando um segredo. — Mal tu sabe que meu peito tem só falta do teu fogo.

dói sem tanto.Onde histórias criam vida. Descubra agora