O Diário de Sarah

CASAMENTO

       Passado o período festivo, estando ainda pensativa, me perdi no tempo por inúmeras vezes estagnada, querendo reencontra-lo e dize-lo tudo que aflorava dentro de mim. Meu peito queimava, o coração sangrava de saudades, tudo que restará eram boas lembranças daquela noite de carnaval.
      Em uma ensolarada e trabalhosa tarde de sábado fui fortemente surpreendida em minha residência. Era um dia da família estávamos todos em casa, os criados em suas atividades, o céu estava limpo e o sol abrilhantava. Haviam passado poucas horas após o almoço quando ouvimos ferozmente o galopear dos cavalos adentrando entre as ponteiras da fazendo. Gerônimo nosso fiel criado mordomo apresentou-se ante a porta no intuito de averiguar o que estava por ocorrer lá fora. Papai e mamãe estavam na sala comigo e Carmen.
       Ergo minha fronte direção a porta e vejo aqueles olhos que a meses visitava-me em sonhos de recordação daquela noite magnífica. Não tive outra reação a não ser procurar esconder de mim o nervosismo que tomava conta de todo o meu corpo, com voz falha, minhas mãos encharcadas. Aquela altura temia de tudo o pior; [ser pedida em casamento e a reação de papai em descobriu que tinha um pretendente].
       Nos mulheres fomos convidadas por papai a nós retirarmos da sala, deixando apenas os homens a sós. Subimos a passos lentos os dezessete degraus da escadaria, fomos cochichando e rindo juntas para o quarto de mamãe. Carmen minha irmã mais nova provocava minha aflição.
- Mamãe Lúcia, este belo jovem é o pretendente de sua filha casula. Dizia Carmem com tons de provocação.
      Os ouvidos atenciosamente inclinavam a ouvir o que era expresso na sala.
    Mamãe já sabia do meu encontro por acaso no baile. Confessou estar curiosíssima para conhecer o misterioso mascarada.
- Helena, este jovem é de fato seu pretendente?
- Sim mamãe! Respondi cabisbaixa.
- É de fato muito bem aparentado minha filha.
    Ouvindo estas palavras vindas de mamãe, minh’alma saltitante transbordou sorrisos dentro de mim.
- “Você tem certeza do que acabou de me dizer garoto?” Ouvimos do quarto o grito que deu papai ao indagar Henrique.
        Aflição se tornou generalizada entre nós, o tom que papai falou fez estremecer a mais firme estaca sobre o alicerce. Mamãe eu e Carmen agora temiam o pior.
- [Gerônimo! Gerônimo!!... ] Gritava papai pelo mordomo.
-  Gerônimo, porque demorastes tanto?
- Desculpe senhorzinho, vim o mais rápido que pu...
- Vá, vá, vá chamar Lúcia e Helena, depressa. Interrompido o criado não pode se explicar o motivo de sua demora. 
      Sem muita prolonga, em tempo recorde alcançou-nos ali naquele que para nós tornará o quarto do terror psicológico. Faltando-lhe o fôlego apressou em transmitir o recado que já havíamos ouvido.
- Sinhozinho manda chama-vos, madame Lúcia e senhorinha Helena.
- Grata Gerônimo já estamos indo, pode avisa-lo.
Mamãe pegou em minha mão e  percebeu o quanto eu temia tudo aquilo, mesmo assim levou-me em meu aposento fizestes uma vistoria rápida no roupeiro, escolheu um lindo vestido ajudando-me a vesti-lo, me fizestes assentar frente a penteadeira alisou meu cabelo com óleo de rosas, passou rapidamente o pente alinhando os fios, debulhou sobre mim uma suave fragrância. Ao chegarmos a sala papai assentado em seu trono fumava seu charuto, coçava seu queixo e olhava para nós com muita seriedade. Henrique encantado com tamanha beleza não conseguia se conter. Nossos desejos e pensamentos estavam interligados, queríamos nos estregar.
- Esse moço veio pedir para cortejar Sarah mulher.
- [...]! Fiquei atônita diante de todos, impactante notícia, queria pular de alegria, mas tudo dependia do aval do papai.
- Tem minha benção marido! Interviu mamãe para que papai não prolongasse sua decisão. Papai também concedeu de sua bênção. Nos retiramos novamente onde viemos a encontrar saltitante ao desespero, forma de expressar sua tocante alegria Carmem em poucos minutos.
       Nos casamos ainda naquele ano, já no seu final, cerimoniamos na capela construída na fazenda toda adorna com as mais caras e ilustres espécies de botânica, mamãe mandou o alfaiate confeccionar seu vestido, o de Carmem e o termo de papai. Tudo muito lindo, muito verde natural, o dia estava agradável, sol não muito forte contribui para bom uso do  meu vestido, que, veio do Rio de Janeiro. As  famílias juntas  gozavam festejos, recebemos muitos de  nossos amigos e familiares. Linduina a criada da cozinha preparou um delicioso e apetitoso almoço. Nunca vi papai expressar tamanha felicidade, como o vi naquele dia que ocorria o casamento.