.é a única forma mais bela de acobertar

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ainda escrevo sobre você. mesmo implícito, mesmo que vagamente. em todas as metáforas, em todos os meus vícios linguísticos. nas minhas melhores descrições sobre sentimentos descuidados e, na melhor forma de como o amor começou a surgir. 

esse é o único meio que eu encontrei de te manter perto de mim sem que a angústia aperte no peito. sem que teu orgulho acabe me dilacerando.

ainda guardo a melhor descrição do teu cheiro, no meu peito. talvez um dia eu as descrevo em um papel A4 ou em um guardanapo — mas que por enquanto, eu ainda quero algo teu aqui dentro.

no meu íntimo, tenho medo da dor que sinto cobrir os teus detalhes. da aflição que minha alma inquieta sente, acabar por apagar teus traços. ou de pouco e pouco, de um jeito imperceptível, eu nem ao menos lembre a forma como teus braços me alinhavam e me aqueciam em ti.

apesar dos pesares, parar de escrever sobre você, significa parar de escrever sobre tudo. significa parar de conciliar trejeitos inventados aqui dentro, com os teus. significa não escrever mais sobre o amor na forma mais racional, real e dolorosa que se existe. parar de escrever sobre você, significa parar de imaginar.

e eu ainda não estou pronto para que o mundo me faça perceber que na grande realidade, te descrever é a única forma mais bela de acobertar toda a situação feia que enfretei ao teu lado. a poesia me serviu para abafar os gritos entalados na garganta, e fazer de nós uma coisa bem vista. para os outros... e para mim.

é que infelizmente, eu nunca vou poder te matar dentro das minhas poesias.

te descrever.Onde histórias criam vida. Descubra agora