Os dias estavam se arrastando depois de tudo que aconteceu na casa de Ana, ela não sabia o que fazer e sua cabeça confusa também não ajudava, pensou em ligar pra Vitória, mas sabia que não ia ter coragem pra tanto, todas as vezes em que pegava o celular e digitava o número de Vit, ou tentava escrever alguma mensagem, o medo a paralisava e ela desistia, o medo da rejeição era maior do que a curiosidade em saber como Vitória estava
Mas ela precisava falar com alguém, toda essa angustia de ficar sem notícias estava a deixando louca, então ela pegou o celular e resolveu ligar para Letícia
- Ana, quanto tempo!!
Ana havia se tornado uma péssima amiga, desde quando saiu do hospital não tinha mais ligado para Letícia e sabia que ela não a procurava por estar atarefada demais com as obrigações do hospital, principalmente agora que se tornou enfermeira chefe
- Eu sei, eu sei, eu devia ter ligado antes, me desculpa! Leh, eu preciso muito te ver, muito mesmo...
Ana estava fazendo aquela voz chorosa ao telefone, aquela que ela usava quando não queria que as pessoas lhe dissessem não, sempre funcionava, até mesmo com Letícia que era um pouco "durona"
- Não sei não Ana, acho que hoje eu vou sair tarde do hospital, e você não vai ficar acordada me esperando vai?
Ana sabia que ia ter que insistir mais pouco, primeiro porque Letícia não ia se dar por vencida assim tão fácil e segundo, porque ela estava chateada por Ana não ter ligado durante todo esse tempo
- Se você disser que vem, eu fico acordada... Por favor Leh, por favor!
A voz manhosa estava bem pior agora
- Tá bom, tudo bem! Eu vou! Mas você está me devendo essa viu?
Respondeu Letícia cedendo
- Devo não nego, pago quando puder! Te amo. Disse Ana, rindo
- Sei... E me pede uma pizza, porque vou sair sem lanchar por sua causa
- Fechado! Vou pedir a sua favorita, te espero aqui...
- Tá bom, até mais tarde. Finalizou Letícia e desligou
Letícia era uma boa amiga, Ana que tinha de parar com isso de esquecer de ligar, ela era assim desde a época da faculdade, nunca conseguia manter contato direto com alguém, sempre achou muito normal que as pessoas esquecessem de ligar ou de responder as mensagens e aparecessem uma semana depois como se nada tivesse acontecido, só que as outras pessoas não achavam normal e ela já havia perdido inúmeras amizades por conta disso, a única com que agia diferente era... Vitória
Ao lembrar novamente de Vit, Ana sentiu o coração pesar, sentia falta dela, falta da voz, da risada esquisita, do cheiro... Mas também sentia um medo imenso, medo de que seu impulso fizesse Vitória se afastar pra sempre, desde já ela se sentia vazia, como se algo fosse brutalmente arrancado dela, no momento em que Vitória saiu correndo pela porta naquele dia
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Um pouco distante dali...
Vitória estava em casa, deitada na cama com a TV ligada passando um seriado qualquer, o sono não queria estar presente e uma inquietude imensa a fazia olhar o visor do celular a cada minuto, ela tentava a todo momento se convencer de que estava esperando uma mensagem de Lídia, dizendo que estava tudo bem e que logo voltaria
Mas no fundo, bem lá no fundo de si, ela sabia que isso não era verdade, não era uma mensagem de Lídia que ia acalmar seu coração, não era Lídi que estava a dias na sua cabeça, e muito menos que havia tirado seu sono aquela e outras noites...
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