Parte I

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No susto, abri os olhos e me deparei com uma mulher estranha, com os olhos extremamente maquiados, olhando pra mim. Olhei em volta, assustada, tentando entender o que estava acontecendo e percebi que estava deitada em um sofá que fedia a cigarro e álcool juntos, numa sala pequena e igualmente do fedida.

Algumas outras mulheres usando roupas curtas passavam de um lado para o outro e olhavam-me com um sorriso estranho no rosto, cochichando umas com as outras. Quem eram elas? Onde eu estava? Como tinha ido parar ali? E onde exatamente era "ali"?

Enquanto eu tentava entender a situação e encontrar respostas para minhas perguntas mentais, a mulher que estava parada de pé ao meu lado se inclinou na minha direção e sorriu forçadamente.

-Já deu, certo? Você já dormiu demais. Vamos!

Segurando meu braço, ela me fez levantar do sofá aos trancos e barrancos e foi me puxando por entre salas e corredores. Homens e mulheres, bebendo e fumando, e falando coisas que eu não conseguia entender, olhavam para mim como se eu fosse um extraterrestre entre eles, para então voltarem a rir e cochichar enquanto olhavam e apontavam na minha direção.

Se todas as minhas outras perguntas não tinham respostas ainda, uma coisa eu tinha a prévia certeza: aquele lugar tinha um ar tenebroso que me fazia estremecer. E alguma coisa muito ruim iria acontecer ali.

-Onde você está me levando?-perguntei, abrindo a boca pela primeira.

Mas ao invés de responder ela olhou para mim com um sorriso malicioso que me fez encolher os ombros, e me arrastou até um guarda roupa.

-Seu nome?

-O que?- perguntei, tão confusa com a situação em que me encontrava, que nem sabia o que dizer.

-Seu nome, qual é o seu nome?- perguntou novamente, demonstrando impaciência.

-Anne...- respondi aos sussurros.

-Tá.' Isso não interessa mesmo. Agora, rápido! Escolha uma roupa. Ele tem uma preferencia especial por vermelho, se você quiser tentar a sorte.

Olhei para ela com os olhos arregalados e voltei a olhar para as roupas. Só haviam camisolas ali. Das mais variadas formas e tamanhos.

Encarei tudo aquilo sem conseguir respirar direito e olhei em volta procurando uma porta ou uma janela por onde eu poderia fugir. Estava começando a entender tudo aquilo.

-Sinta-se grata por você poder escolher pelo menos isso.- a mulher voltou a rir. -Não adianta tentar fugir, você não tem essa opção. E se tentar... Bem, vai ser pior pra você, garanto.- ela deu uma piscadela, e vendo a minha demora em me mexer, suspirou impaciente e pegou a primeira camisola que viu. Era uma de alcinha, tão curta e decotada que me causou arrepios, e jogou na minha direção.

-Vista essa. É a preferida dele.

Agarrei a camisola, e estremeci por dentro, sentindo uma vontade incontrolável de chorar.

-Por favor! Por favor!- me agarrei no braço dela, chorando e tremendo. Mas ela riu e me segurou pelo braço. -Não...! Me deixe sair daqui. Por favor!

.

-Não temos tempo para fazer negócios. Infelizmente.- disse ela num tom de deboche.

E vendo que ela me arrastaria dali, agarrei um casaco de pele igualmente vermelho para me cobrir.

-Troque-se nesse banheiro o mais rápido possível. Você já está atrasada. Ali tem alguns cremes e perfumes, se preferir.

Ela riu e trancou a porta pelo lado de fora.

O pesadelo de AnneOnde histórias criam vida. Descubra agora