capítulo único

25 4 6
                                    

   A fusão do céu e do mar embalava eu e Luara pra dormirmos. Ela olhava para cima, deitada na areia, com os olhos em outra dimensão. Se eu me calasse o suficiente, eu conseguia ouvir além do som das ondas, as guerras dentro de sua cabeça.

   Eu estava ali pensando em todos os momentos que nos guiaram até aquele ali. Desde o começo, quando eu sai de casa numa sexta-feira pra ir numa festa e a encontrei lá, brilhando, até poucos minutos antes, quando explodimos de raiva uma com a outra. E agora estávamos ali, quietas, incapazes de quebrar o fino silêncio no ar. Bom, eu era incapaz. Luara parecia não ser incapaz de nada.

   "Quando eu era criança eu achava que na praia o céu e o mar viravam uma coisa só", ela disse, "hoje eu tenho certeza."

   Olhei pra ela.

   "O céu e o mar nunca vão poder ser a mesma coisa. Eles nos oferecem coisas diferentes demais."

  Luara me encarou com a sobrancelha erguida, como quem pede alguma explicação.

   "Quando eu olho pro céu, eu penso no espaço, na imensidão que nós fazemos parte. Se você deixar sua mente vagar pelo espaço, você percebe que a humanidade é basicamente um grão de areia como estes em que estamos deitadas, e não faz diferença alguma. Agora quando olho pro mar, eu penso em selvageria, penso em como ele parece olhar pra nós e nos desafiar a mostrar para ele do que somos capazes, se conseguimos domina-lo e provar nosso valor. O oceano também é imenso como o espaço, mas a diferença é que ele faz nós ousarmos a desafia-lo. O céu não. O céu te fita e te diz exatamente o seu lugar. Ele te diz que você é pequeno e insignificante, mas não há nada de errado nisso. Você é lindo simplesmente porque faz parte do segredo do universo, mesmo sendo minúsculo."

   Naquele momento depois que eu falei isso, senti como se tudo que eu tivesse dito estivesse esvaziado minha garganta e a feito fechar.

   "Isso é lindo", ela respondeu, "de verdade. Sua mente é um lugar lindo."

   Eu ri.

   "Que nada."

   Luara se sentou, limpou a areia das costas e me puxou pra perto. Cada toque fazia minha pele pegar fogo um pouco mais. Quando ela me beijou, achei que me transformaria num incêndio.

   Ela parou, afastou nossos rostos, mas não descolou nossas testas.

   "Sabe, eu amo você.", ela falou baixinho.

   "Eu amo você também."

   Mesmo depois de ela ter me beijado, eu consigo sentir até nos meus sonhos, seus lábios contra os meus e sua pele roçando na minha.

  

  

  

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Dec 14, 2018 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

LuaraOnde histórias criam vida. Descubra agora