Choosing you, choosing her

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Com uma certa frequência, Harvey ficava no escritório até tarde, sempre mergulhado em trabalho, e Donna sabia muito bem disso. Enquanto caminhava, pensava em mil maneiras de iniciar essa conversa com ele. Porém, nada parecia bom o suficiente. Ao se aproximar do escritório, percebeu que as luzes estavam apagadas, o que significava que Harvey já havia ido embora. Donna retornou para seu próprio escritório, procurou seu celular para tentar localizar Harvey, porém, já estava sem bateria. Aparentemente, precisaria adiar essa conversa mais um dia. Arrumou suas coisas e seguiu para seu apartamento tentar relaxar e pensar melhor em como conversar com seu melhor amigo sobre Thomas.

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Nesse mesmo dia, Harvey havia passado toda a tarde no tribunal, tentando encerrar de uma vez por todas um caso que estava lhe tirando a paciência. Por volta das 6 PM, decidiu nem retornar ao escritório, embora ainda precisasse rever uma papelada e colher algumas assinaturas de Donna e/ou Louis, concluiu que merecia uma parada em seu apartamento para tomar um banho e reorganizar seu cronograma de tarefas relacionados à dois outros casos.

Harvey houvera tentado lidar do melhor modo possível com as tantas mudanças ocorridas na sua empresa, desde o nome na parede, até o novo managing partner, e principalmente, tentava lidar com a falta de tempo da nova COO para ele. Harvey jamais confessaria, mas o último motivo era o que mais lhe incomodava. Donna sempre foi a pessoa mais presente em sua vida, sua melhor amiga e sua cúmplice.

Inicialmente, Harvey atribuiu esse afastamento à grande carga de trabalho que ambos estavam carregando, já que Donna não era mais sua secretária, não trabalhavam tanto juntos, além de a mesma estar lidando com mil problemas que apareciam diariamente para resolver. Porém, seu orgulho estava sendo ferido a cada vez que ele tentava se aproximar de Donna para small talks ou late night drinks e ela nunca parecia estar disponível para isso. Ou ela recusava delicadamente, culpando a quantidade de trabalho ou de cansaço; ou ela já havia ido embora; ou estava com Samantha, bebendo e comendo. Algumas vezes, ele se juntou a elas para beber, mas ele sentia que não era suficiente, já que o que realmente queria era os seus momentos em particular com Donna, no qual ele podia ser ele mesmo, podia flertar e sentir toda a atenção dela direcionada para ele.

Harvey começou a se perguntar se alguma coisa havia acontecido, se ele havia feito algo que a deixasse muito chateada, ou que a tivesse afastado dele. Decidiu dar um tempo e um espaço para ver se as coisas entre eles melhoravam. Nenhum sucesso.  Harvey se sentia abandonado e rejeitado. Chegou até a imaginar se Donna e Samantha não estavam ficando, porque não era possível que tudo o que eles faziam juntos, agora Donna fazia com Samantha. Harvey pensava: "If I didn't know any better I would say Donna is hooking up with Samantha! Not even Rachel took so much of her time."

Com todos esses pensamentos pairando sobre sua cabeça, Harvey decidiu ir até o apartamento de Donna naquela noite. Pensou em levar seu vinho favorito e um whiskey. A desculpa perfeita estava na frente dele, precisava da assinatura dela. Podia esperar até o dia seguinte para isso? Talvez. Prontamente, Harvey procurou o seu celular e enviou um SMS:

"Hey you, I need your signature asap. I thought of buying us some wine and whiskey and go over your place so we can get rid of these documents. Plus, I get to complain about Louis and you get the chance of being a pain in my ass. It's been a while since the last time you annoyed me about my 5-year-old behavior. I'll be there in one hour. Is it ok for you?"

Harvey não obteve nenhuma resposta. Pensou algumas vezes se deveria ir até a casa dela mesmo assim. Após 20 minutos de indecisão, ligou para Donna duas vezes, sua ligação foi para a caixa postal. Pegou as chaves do seu carro, e seguiu para a Liquor Store e depois para o apartamento de Donna.


                                   🌵🌵🌵


Harvey caminhava em direção ao apartamento 206. Na mão esquerda os documentos para assinar, e na mão direita uma sacola com as bebidas. Estava um tanto nervoso já que não havia recebido nenhuma resposta da Donna. Mas realmente não achou que houvesse problema, já que sempre que realmente precisava, ela o recebia muito bem, mesmo quando aparecia de surpresa. (O que aconteceu pouquíssimas vezes). Harvey, com a mão que segurava os papéis, bateu três vezes na porta e, quando a porta se abriu, não poderia nem medir o tamanho do choque que sentiu ao dar de cara com um Thomas Kessler, com uma toalha enrolada na cintura, aparentemente, recém-saído do chuveiro. Harvey sentiu a gravidade puxando-o para baixo, tentava manter sua mandíbula no lugar certo, se esforçava para não deixar transparecer o golpe que havia sofrido. Quando percebeu a ruiva surgindo, somente de roupão e com cabelos molhados, ao lado do homem parado à sua frente:

– Honey, is it our food? Cuz you... – E de repente, Donna congela ao encarar Harvey.

– Hey, you're that guy from Donna's work, right? Do you need something? – Thomas repara que Harvey carrega uma sacola, além dos documentos.

– I texted you. – Harvey faz um sinal com a cabeça indicando que se referia à Donna – But... Ah... Well, I just need your signature. – Harvey não consegue raciocinar. – But, you know what. Ahh... Louis can sign this. I don't want to bother you. Excuse me. – Harvey não faz ideia de como essas palavras saíram de sua boca. Na verdade, ele mal consegue recordar o que acabou de falar. Sentindo o peso do mundo nas costas, ele se vira e caminha na direção contrária ao apartamento de Donna.

– Harvey! – Donna corre em sua direção. – Whatever you need. I'll sign it right now.

– I said Louis is going to sign it. – Harvey nem se vira pra respondê-la.

– You don't need to take it to his apartment. I'll do it. – Donna insiste. Tudo o que ela queria era uma oportunidade de conversar com ele direito. E mesmo sabendo que aquele não era o momento, ela simplesmente não queria deixá-lo ir embora assim.

– Bye. Donna. – Harvey a corta.

– Harvey... – Donna chama, com uma voz cheia de angústia.

Ele se vira e a olha claramente irritado.

– I'm sorry I didn't tell you about Thomas sooner. I came by your office tonight to tell you but...

– Save it!!! – Harvey não conseguia ouvir nenhuma palavra que saía da boca dela. E foi embora.

Donna demorou uns minutos para se recuperar. A porta do seu apartamento já estava fechada. E ela só sentia vontade de ir atrás de Harvey para conversar sobre essa cena constrangedora. Porém, ele não estava em um bom humor e ela estava de roupão. Respirou por uns cinco minutos antes de entrar em seu apartamento. Não conseguiu dar muita atenção ao namorado, não comeu quase nada. Alegou sentir dores de cabeça e decidiu dormir cedo. Mas na verdade, ficou fingindo que estava dormindo enquanto a cena Harvey-Thomas-Donna não saía de sua cabeça.



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Harvey voltou para seu apartamento. Abriu a garrafa de whiskey, colocou um vinil para tocar. Sentou-se e afogou-se em sua miserabilidade. Seus sentimentos eram muito diversos. Variava a cada segundo, a cada cena que passava em sua cabeça. De sua relação com Donna durante todos esses anos. Dela com outros namorados. Essa noite. Sentia raiva, ciúmes, mágoa. Como ela poderia ter escondido aquilo dele? Então fora por isso que ela se afastou dele? No final das contas, não era com a Samantha que ela estava transando. Era outra pessoa. E só esse pensamento o fez apertar seu copo de vidro com tanta força que conseguiu quebrá-lo em suas mãos. Sentia o sangue escorrer, apertava sua mão para sentir mais a dor e pensou: "At least now I feel something other than Donna". Bebeu direto da garrafa de whiskey, quando terminou, apagou no sofá de sua casa.



                                   🌵🌵🌵



Donna chegou cedo na empresa, afinal de contas, não havia conseguido dormir nada. Passava vez ou outra na frente do escritório de Harvey para checar se ele havia chegado. Nenhum sinal dele.

Harvey chegou na empresa bem atrasado, com uma expressão mau humorada e a mão esquerda enfaixada, se direcionou para a primeira reunião com Alex e os representantes de uma empresa farmacêutica. Estavam prestes a fechar aquele cliente, portanto, Harvey não podia se dar o luxo de desconcentrar-se, então focalizou toda a sua raiva no trabalho. Ficou preso em reuniões com clientes boa parte da tarde. Ao final da última reunião, direcionou-se ao seu escritório, onde Donna já o aguardava, sentada no sofá. Ao perceber a presença da ruiva, Harvey não esconde seu descontentamento.

– What do you want? – Enquanto solta a pergunta, Harvey nem a olha nos olhos. Senta-se em sua cadeira e começa a mexer na papelada em sua mesa.

– What happened with your hand? – Donna pergunta.

– Not your concern. – Harvey responde seco.

– Harvey. Can we talk? – Donna soa delicada.

– Can't you see I'm busy? – Harvey continua sem fazer nenhum contato visual.

– You're not so busy that you can't stop for a minute to hear me out. – Donna se aproxima da mesa.

– You're right, I'm not too busy. I just don't wanna listen to your excuses for lying to my face. – Harvey acusa.

– I've never lied to you. – Donna responde incisivamente.

– You hid the truth from me, which is the same. – Harvey continua fingindo que está concentrado em seus papéis.

– Why are you so upset about this? It's not like you told me right away about your relationship with Paula. – E com estas palavras, Donna consegue a atenção de Harvey.

– Are you seriously dragging Paula into this discussion? – Ele se levanta da cadeira, jogando os papeis na mesa, sinalizando com os dedos o espaço entre eles e alterando o tom de voz.

– I'm just trying to understand why the hell are you acting as if I had betrayed you. – Donna tenta controlar a angústia em sua voz.

– Donna, just get out. – Harvey caminha em direção à sua janela, com as mãos no bolso, esperando que Donna atenda ao seu pedido.

– Harvey... – Donna tentar começar uma nova frase.

– You made pretty clear that I'm not your friend. As far as I know, I'm not even a part of your life anymore. – Harvey a interrompe.

– That's not true. I was just... – Donna hesita – ...waiting for things to get more serious between Thomas and I.

Harvey balança a cabeça negativamente.

– Harvey, don't you get it? Everything I do is always an attempt to preserve our friendship. I didn't mean to... – Ela continua.

– Cut the crap. – Ele a interrompe novamente.

– Will you let me finish one fucking sentence? – Donna grita.

– Okay, Donna. Finish your goddamn sentence. – Harvey fala cheio de ironia, se colocando bem na frente dela.

– I didn't want to fight with you. I was hoping you would support me, be here for me at this moment, like I have been here for you all those years, choosing you over me. – Donna continua tentando manter a conversa civilizada.

– I CHOSE YOU OVER HER, AND THAT'S HOW YOU THANK ME? – Harvey grita em uma explosão de raiva.

Donna o encara incrédula, incapaz de acreditar nas palavras saindo pela boca dele.

– Thank you? What the hell are you talking about? Look, Harvey, we have come a long way and I already... –  Donna responde, jogando as mãos ao ar.

– I CHOSE YOU, DONNA. – Ele a interrompe aos gritos, novamente.

Donna estava mais surpreendida pelo "choose you" do que pelo tom elevadíssimo da voz dele:

– Well, I'm here, and I'll always be. You're my best friend and that's not... – Ela responde, porém sem ter muita certeza do que ele quis dizer ou do que ela mesma queria dizer.

– Sure. – Harvey solta em meio a um suspiro frustrado, cortando Donna. Torna a pensar: "Of course. That's what we are. Friends. Best friends." – Since you're not going. Excuse me. I better go.

Harvey caminha em direção a porta, claramente alterado, e com um misto de sentimentos inexplicáveis. Ele prefere se retirar para evitar causar maiores feridas na relação já prejudicada deles dois.

– Well, I don't excuse you. – Ela caminha na direção dele, subindo o tom de sua voz, parando a uma certa distância quando ele se vira para encará-la. – You bring your ass right back here, cuz we're not done.

Nesse momento, ele percebe que ela carrega aquele olhar de quem não vai aguentar merda nenhuma sem responder de volta. Que isso pode ser o fim deles, de uma vez.

– You think what? That I should tie myself to your shoes and stay around waiting for you to walk all over me, again and again? – Donna fala gritando.

– What the hell is that supposed to mean? – Harvey arqueia as sobrancelhas indignado com a acusação.

Neste momento, Samantha entra no escritório, falando alto e chamando a atenção dos dois para si:

– Can you please turn the damn volume down? Not everyone in this firm needs to know about your marital problems.

– Out! – Donna e Harvey gritaram em uníssono.

– Idiots. You're fighting like you had been cheated for each other. – Samantha reclama e sai do escritório, garantindo que ambos escutem seus comentários – Jesus Christ, HOW. CAN. THEY. BE. THIS. BLIND? – Sam caminha balançando a cabeça negativamente.

Donna está de braços cruzados abismada. Seus olhos saíram de Samantha de volta para Harvey.

– You know what? This conversation here is going nowhere. – Harvey sai rapidamente, deixando Donna sozinha e incrédula em sua sala.

Don't Deserve YouOnde histórias criam vida. Descubra agora