Capítulo Um

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California, eu não quero morar lá, na verdade eu jamais queria ter que sair da minha casa sem graça número 42. Tudo bem que Londres não tem o melhor clima do mundo, o tempo aqui pode ser até mais bipolar do que eu mesma. Mas uma coisa que nunca muda é a forma como os dias cinzas faz com que as pessoas apenas se sintam depressivas, sem vontade de sair, acho que é por isso que algumas aqui são tão arrogantes, o que assim, me faz ser arrogante também! mas o que eu posso fazer? É aqui onde eu vivo...existo desde que me entendo por gente. E desde então.. tem sido eu, minha mãe e as batatas recheadas dos finais de semanas.
Mas nem sempre as batatas recheadas salvavam o dia. Teve um dia...o pior de todos! Daqueles que machucam e você não tem um band-aid se quer pra tapar a merda do buraco.
Meu pai...Havia deixado a gente. Eu não entendi nada na época, eu havia acabado de completar dez anos e nunca tinha sentindo uma dor tão grande, é horrível ver as coisas desmoronando à sua frente. Eu achava que meu pai me amava, achava mesmo, Mas a única coisa que ele realmente amava era a ele mesmo. Na época que ele nos deixou, minha mãe me explicou que ele havia arranjado outra família, que ele não iria voltar. E de fato foi o que ele fez. Eu não entendia o por quê, demorei anos pra me conformar, me culpei por talvez não ser a filha que ele esperava que eu fosse, mas eu só tinha dez anos, como eu poderia ser culpada de algo?
Desde que ele se foi, a primeira vez que fiquei sabendo de algo dele foi quando minha mãe finalmente me deixou criar uma conta no Facebook, eu teria criado antes, mas eu ganhei meu primeiro celular com 13 anos. Ele me mandava mensagem todos os dias desde então. Me perguntava da escola, como estavam as coisas em casa. No começo eu me recusava a responder, mas eu acaba cedendo depois que ele inundava minha caixa de dm.
E bom, eles fizeram um acordo de que quando eu fizesse dezessete anos eu iria morar com meu pai na Califórnia, Eu realmente não entendo...Ele me abandona pra me pegar de volta depois? Eu sou o que? A porra de um boneco? E porra, Londres e Califórnia não é pertinho não, e quando eu precisar das batatas recheadas da mamãe? Eu só queria me algemar na cama, quem sabe eu me atrasaria para o vôo.

"Julie? Tem alguém ai?" - Mamãe estralava os dedos na minha frente.

"Sim?" - pergunto, saindo do meu transe de pensamentos.

Ela revira os olhos.

"Poderia por favor me ajudar com as malas?"

"Ou eu poderia simplesmente ficar aqui e não ter que aturar aquele cara e a família dele"

"Ele é seu pai!"

" Uhum, grande pai!" - digo e me levanto indo de encontro as malas que já estavam perto da porta de saída.

"Você sabe que eu vou sentir sua falta não sabe? E que vai poder me ligar quando quiser!" - Ela limpa os olhos antes que qualquer lágrima possa cair. Pra que o drama? Não vou ficar lá nem um mês se depender de mim.

"Mãe, por favor, eu prometo que lavo a louça se me deixar ficar!" - choramingo.

"Julie..Você sabe que não dá! Aliás você sempre me pediu pra ver ele!"- ela engole seco, pois em seus olhos estavam cada gota de água armazenada de seu corpo.

"Isso foi antes de cansar de esperar..."

"Eu te amo, você pode voltar quando quiser! Mas se dê a chance!" - ela abre seus braços em sinal de acolhimento.

"Também te amo.." - corro pra os mesmos.

      Depois de uma hora chorando colocamos a mala no carro. Me pego entrando em casa para pegar a mochila que restava, Eu só queria chorar igual uma criança, me jogar no chão e fazer birra pra ficar, tenho mais motivos pra ficar do que ir. A viagem até o aeroporto foi tranquila, me sinto mal por deixar a mamãe, não quero que pense que estou abandonando ela como meu pai fez. Eu vou voltar para o braço acolhedor dela quando ela menos esperar. Eu vou sim.
    Tomamos um café antes de entrar para o portão do vôo, a despedida foi tranquila, até mais do que esperava, por que ela sempre foi muito emotiva, e não falo de emotiva de uma forma normal, emotiva nível "eu choro o tempo todo". Quando dou por mim, já estou decolando, o frio na barriga se faz presente, o que será que vou encontrar na Califórnia? Tenho total certeza que não vou facilitar as coisas e já sinto culpa por isso, mas engolir essa família nova dele, ah!! Eu não vou mesmo.
    Dou um suspiro na aterrisagem, eu passei as últimas nove horas dormindo, meu rosto esta meio dormente, fiquei sem jeito pra dormir, e nem vi como dormi, acho que pulei o café da manhã, e tudo que posso ouvir é o som da minha barriga reclamona e os barulhos de malas sendo tiradas do bagageiro. Espero todos saírem para que possa ser a última a tirar a bagagem sem a correria de ter alguém querendo passar pelo corredor. Não sei quem vai me buscar, acho que esqueci desse detalhe. Desde que não seja a mulher do meu pai, tudo bem. Saio do portão do vôo, e procuro por algo, alguém, tem tanta gente aqui, por que porra eu tinha que vir? Odeio tumulto, procuro mais um pouco até achar um cartaz com letras extremamente garranchudas escrito "Bem vinda a Califórnia Julie!" decorado com adesivos e desenhos, fiquei surpresa por ver quem segurava o pequeno e decorado cartaz.

Step Lover (Em Revisão!)Onde histórias criam vida. Descubra agora