Highway to Hell

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O telefone tocou uma única vez na sala de estar escura e o homem já estava ao seu lado preparado para atender. Depois de trocar poucas palavras ele desligou e colocou o telefone de volta no gancho. A sala estava vazia e sem luz ele não conseguia ver as fotos das crianças, ou suas fotos com a esposa. Todos estavam dormindo naquela madrugada.

-Quem era? -ela não estava mais dormindo.

Parada na porta da cozinha, contra a luz acesa do outro cômodo, seu rosto era uma mancha escura e o cabelo curto e liso parava no pescoço. Ela trocou o peso dos pés enquanto esperava a resposta.

-Do trabalho.

-Eu perguntei quem, não de onde. -ela então caminhou pela sala, ficou atrás da poltrona e colocou as mãos no assento- Podiam ter te mandado um email, não?

-Você sabe como é o pessoal do FBI, sempre desconfiado com tecnologia.

-Sei... Eu sei.

A esposa amorosa desceu as mãos da poltrona e apertou os ombros do marido numa massagem pouco amistosa.

-Você não acreditou numa palavra, né? -ele disse.

-Stilles, depois de vinte anos de casados é muita coragem sua tentar mentir pra mim. Quem era?

-Era o Argent.

Houve um silêncio que aquela sala não ouvia há muito tempo.

-Onde o Argent tá?

-Beacon Hills.

-O que tem em Beacon Hills com ele?

-Ele não sabe, por isso ligou. Ele tá ligando pra todo mundo.

-Todo mundo quem?

-Todo mundo.

-Nós prometemos não voltar pra lá.

-Ele precisa de ajuda. Ele precisa de nós, mais uma vez.

-E nossa filha também precisa de nós. Faltam dois meses pro aniversário de quinze anos dela.

Ela recuou, caminhou pela sala com passos rápidos e ligou as luzes. Eles se encararam e num acordo implícito entre aqueles olhos tudo o que precisava ser dito estava dito.

-Tá, vou ligar o carro. -ela disse sem nenhum prazer.

-Eu ligo pra bába.

Stilles puxou o telefone e começou a procurar na secretária eletrônica o número de uma babá que topasse trabalhar naquele resto de noite. No dia seguinte a avó poderia vir cuidar da pequena Allison enquanto eles estivessem fora. pelo jeito ficariam muito tempo fora. Antes de fazer a ligação Stilles ergueu os olhos mais uma vez:

-Lydia, eu amo você.

-Eu sei. E eu escolho a música.

Antes de amanhecer eles já estariam na estrada de volta para Beacon Hills, enquanto o som do carro tocava AC/DC no último volume.

Garras de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora