Prólogo

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Nove de outubro de 1941.
Floresta Lieponiai, Lituânia.

Se eu soubesse o porquê de eu estar na floresta, aquele momento certamente seria bem mais calmo.
Eu sempre havia gostado de árvores. Sempre foram uma visão agradável a mim. E aquela visita à floresta não seria nenhuma exceção se eu a tivesse feito voluntariamente.
Eu me lembrava de poucos detalhes do meu dia antes disso... Me lembrava de ter começado como de costume, alimentando as galinhas na fazenda. Depois disso, só me lembrava de homens de uniforme me segurando e levando a mim e a minha irmã à floresta. Mas como ela tinha o Dom, ela conseguiu me camuflar, o que possibilitou minha escapada. Mas eu continuei sem saber o porquê de nós termos sido levados e se minha irmã sobreviveu, e isso me preocupou.
Falando nisso, onde estaria meu irmão naquele momento? Até hoje não sei.
Fiquei tão imerso em meus pensamentos que minha visão ficou embaçada e tropecei. Encostei em minha testa e percebi que estava sangrando. "Que ótimo", pensei, sarcástico. Minha visão começou a ficar escura e eu não consegui me levantar de novo.
E se eu não estivesse tão entorpecido, poderia ter percebido a trança que escapou da roupa camuflada de uma menina me observando. Pelo que ela me contou depois, ela rapidamente pôs a trança de volta em seu gorro e se aproximou de mim, mesmo sem saber se eu a estava vendo.
Apenas seus olhos estavam descobertos, e eu consegui vê-los, mas não identifiquei o que eram. Ao vê-la se aproximar ainda mais, fiquei assustado, pois não sabia o que eram aqueles dois pontos azuis flutuantes.
Ela ficou bem rente a mim, tirou o gorro e descobriu sua boca. Ela era bem bonita; seus olhos claros contrastavam com sua pele morena. Porém, sua trança desconfortavelmente encostava no meu rosto.
- Azuolas? - ela perguntou. Como ela sabia meu nome? Eu fiquei em choque!
- Azuolas, é você? - Ela perguntou, um pouco frustrada de não saber se eu responderia. Apesar de ela não parecer lituana, falava lituano muito bem.
Ele respirou o mais fundo que conseguiu.
- Sim, sou eu - respondi balbuciando.
Ela abriu um grande sorriso, olhou para a floresta e exclamou:
- É ele sim! Venham!
Várias outras pessoas saíram da floresta e exclamaram alegremente:
- É ele!
- Que bom que não erramos o menino!
- Vocês têm certeza de que é ele?
A menina que estava perto dele mandou o resto fazer um pouco mais de silêncio, porque eu ainda estava atordoado. Ela pôs sua mão sobre minha testa e num piscar de olhos se foi meu torpor.
- Nossa! Me sinto refrescado, obrigado - falei, aliviado. - Como você fez isso?
- É meu Dom - ela disse, com um leve sorriso no rosto.
- Ah, que interessante - respondi, sem ter muito mais o que falar. - Minha irmã também o tem.
- E você também - disse baixinho um menino entre o grupo que me observava.
Novamente fiquei em choque. Dessa vez, ainda mais.
- Eu tenho o Dom? O Dom?
A garota olhou irritada para o menino, que agora parecia se sentir um pouco culpado.
- Otto! Você não tinha que falar isso agora!
- Desculpe - ele murmurou baixinho, quase choramingando.
A moça voltou sua atenção a mim, dizendo:
- Não era para você saber disso assim, tão de repente, mas é. Você possui o Dom. E de uma forma muito, mas muito especial.
Subitamente me senti intrigadíssimo.
- Mas como você sabe?
E assim que ela abriu a boca para falar, ouviu-se um tiro.
E um grito.
- Corram! - Ouvi alguém gritar.
E corremos. Nossa, como corremos.

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⏰ Última atualização: Dec 30, 2018 ⏰

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