O frio estava severo, adentrava pela janela de madeira e espalhava as folhas escritas deixadas sobre a mesa. O Hanbok de cores azul e branca balançava conforme o vento ditava, causando pequenos arrepios no magro corpo sentado na cadeira. Seus pés balançavam enquanto a cabeça ia de um lado ao outro acompanhando o ritmo da música em seus pensamentos, sua favorita, que tinha tocado na noite anterior enquanto passava seu tempo bordando a tela quadrada que retratava o lago que ficava perto dali. Agora, apressava-se em sua tarefa, sendo a última, para que pudesse finalmente ficar livre e andar em volta da propriedade, onde haviam belas paisagens para se apreciar e deixar os pensamentos fluírem.
Pulou da cadeira ao terminar de escrever a resposta do exercício, correndo pelo piso de madeira até o quarto do homem alto
— Mestre Xang — chamou aquele que escrevia algumas cartas espalhadas ao ser redor — Terminei os exercícios, posso sair? —sua respiração estava descompassada, tanto pela pequena corrida quanto pela ansiedade
— Tem certeza? Sabe que eu irei ver as respostas — alertou enquanto empurrava o óculos que caía pelo seu nariz
— Sim senhor, li e reli para ter certeza já que sabia que perguntaria. Agora posso? — deu seu melhor sorriso
— Tome cuidado, em poucos dias será o Festival de Neve, não quero que esteja cheio de arranhões —
— Eu te dou minha palavra que tomarei cuidado, estou indo agora — sem deixar que lhe respondesse, correu em direção aos portões, dando uma olhada na árvore solitária em cima do pequeno morro, sorriu e saiu da propriedade, querendo aproveitar ao máximo sua liberdade.A temperatura abaixou com a vinda do entardecer, as diversas árvores não tinham uma sequer folha em seus tortos galhos, havias somente milhares de flocos de neve amontoados sobre eles.
Seus passos ficavam marcados a medida que seu peso ia de um pé ao outro, o ar que saía de seus finos lábios era quente e faziam pequenas fumaças brancas ao saírem conforme ele cantarolava, seus dedos estavam gelados assim como seu nariz, vermelhos pelo ar gélido que tocava a pele clara como porcelana.
Pulando sobre a maciez branca, tocava nos troncos para que os flocos caíssem, como pequenas nevascas. O menino adorava essa época do ano, principalmente a neve, a branquidão e delicadeza que cada cristal vindo do céu tinha, eram puros mas ao mesmo tempo letais e, assim como chegavam, iam sumindo aos poucos e levando consigo toda sua essência.
Ao longe, viu um forte vermelho, Flores, pensou animado. Correu com dificuldade até a árvore com elas ao seus pés, mas hesitou ao ver que não era o que imaginava. A sua frente, o rubro sangue manchava a neve a medida que corria para fora do corpo ali deitado, um jovem de cabelos negros e vestes escuras gemia demonstrando sua dor.
Os olhos profundos viram que alguém se aproximava, pressupôs estar delirando ao ver os traços delicados da face daquele abaixado ao seu lado, pensando ser um anjo chegando para levar-lhe a um outro lugar
— Não — sua voz saiu abafada ao sentir o toque frio dos dedos contrastarem com o calor do líquido vermelho — Vai se sujar, afaste-se —tentou empurra-lo, em vão
— Parece um tanto profundo, vai morrer se ficar aqui — sua fala ponderada era como música para seus ouvidos e, mesmo naquela situação, sorriu com o poder que ela tinha
Olhando para cima, o menino viu a trilha de pingos que acompanhava as marcas de passos, confirmando sua suspeita de que andara até ali e ficara sob a árvore ao ter perdido sangue ao ponto de não conseguir continuar, era preocupante, até onde ele imaginava que chegaria naquele estado?
— Está tudo bem, agora vá — sua visão estava escurecendo e soube que não demoraria para que sua sanidade se fosse.
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Junção de alma
RomanceSegundo o mito de Platão, o amor entre almas gêmeas ocorre quando se encontra no outro uma parte que seja igual, idêntica àquilo que já se possui em si mesmo. Chanyeol vagou por um bom tempo atrás de sua parte, nunca imaginando que a encontraria nu...