I See Fire

Parte II

Os raios de sol entrando pela janela batem diretamente em meu rosto, me despertando. Abro os olhos e olho o relógio, que marca pouco mais que sete da manhã. Respiro fundo, em uma tentativa de realmente acordar, e quando o faço, seu cheiro doce vem até mim, me fazendo sorrir involuntariamente. Me lembro da noite passada, de nossa entrega total e me sinto cada vez mais completo. Juliana dorme tranquila em meu peito, vestindo somente uma camiseta minha. Afago seus cabelos e ela se mexe um pouco, voltando a dormir logo em seguida. Eu amo essa preguiça que ela tem de manhã, essa dificuldade de despertar e vontade de ficar mais alguns minutinhos na cama. Mas não podemos, nosso dia de gravação está cheio, segundas feiras sempre são dias corridos, principalmente quando folgamos algum dia no final de semana. Tento novamente despertá-la e ela sai de meu peito, virando de costas para mim na cama.

- Ju, nós precisamos acordar. Temos pouco mais de uma hora para estarmos lá no Projac. - Chego perto dela e respiro em seu pescoço. Ela se espreguiça por completo, me permitindo uma visão privilegiada de todo o seu corpo, e então ela se vira para mim, seus olhos castanhos pequenos de sono me encarando. Eu sorrio e ela me sorri de volta, e eu só consigo pensar que quero acordar a vida inteira ao lado dela.

- Precisa mesmo ser segunda feira hoje? - Ela faz sua melhor cara de dengo, e eu não resisto em tomar sua boca na minha.

- Vamos, preguiçosa, levantar. - Quebro o beijo antes que ele vire algo que nos faça atrasar. - Eu nem sei se tem nada pra gente tomar café.

- Preciso de um banho. - Ela diz, sentando-se na cama. - Quer? - Ela sorri travessa, minha blusa tão grande nela que seus ombros ficam de fora, eu só queria poder beijar cada pintinha exposta ali. Concentre-se Nicolas, vocês não podem se atrasar.

- Juliana... - A chamo em tom de aviso e estendo minha mão para ela. - Vem, vai tomando banho enquanto eu preparo algo pra comermos. Tem roupa sua no armário. - Ela sorri com a afirmação, já levantando da cama, e me dá um selinho antes de entrar no banheiro.

Quando já estamos no corredor prontos para sairmos, Juliana olha o celular e se lembra que esqueceu algo, então entra correndo em meu apartamento enquanto eu seguro a porta do elevador. Ela volta fechando sua bolsa.

- O que você esqueceu? - Questiono enquanto entramos no elevador.

- Meu vestido. - Ela diz, desviando o olhar e apertando o botão da garagem.

- Seu vestido? Você tinha recolhido ele junto com as minhas roupas do chão da sala e colocado no cesto de lavar.

- Eu lembrei que ele tem um jeito diferente de ser lavado. Vou levar pra casa. Tá tudo bem. - Ela me abraça o pescoço e deposita um selinho em minha boca. - Eu ainda tenho um estoque em seu guarda roupa. - O elevador chega antes que eu tenha tempo de respondê-la, então ela muda de assunto. - Vamos cada um no seu carro?

- Ou vamos só no seu, assim tenho a desculpa de fazer você voltar pra cá hoje. Ainda não esqueci o convite do banho. - Pisco para ela, que já contorna o carro para sentar no lugar do passageiro. Ela sempre opta por não dirigir, independente do carro.

Chegamos no Projac com milhares de cenas programadas para hoje. Penso o quão turbulento foram os últimos dias e que pouco estudei meus textos. Rezo para que Léo esteja de bom humor. Ju e eu mal temos tempo de conversar entre uma cena e outra, além de sermos liberados separadamente para o almoço. Após minha última cena, deito no sofá do camarim e fecho meus olhos, o cansaço me atingindo por inteiro, provavelmente por mal ter dormido as duas últimas noites. Mal vejo a hora de ir para a casa, tento pensar em um jeito de levar Ju para dormir comigo hoje, só para ficarmos juntos, para eu poder adormecer sentindo seu cheiro. Ouço uma movimentação no corredor e abro os olhos, vendo Edson entrar na sala.