O relógio fazia um som inquietante nos ouvidos de Dafne.
Ela já havia tomado um calmante, mas não adiantava. Além disso, o barulho das crianças estava ficando insuportável.
Risos soaram do quarto acima da cabeça dela.
- Silêncio, meninos! Vão dormir, mamãe está com dor de cabeça. - gritou.
Seu filho mais novo, Vinicius, que dividia o quarto com o irmão gêmeo, desceu até o meio da escada risonho e disse:
- Nós estamos brincando com o Papai Noel, mamãe. Ele é demais! A barba dele está toda melada de cobertura de morango!
Ela sorriu cansada com a imaginação fértil dos filhos.- Ah, é? Pois é melhor vocês dois dizerem ao Papai Noel que ele está fazendo muito barulho. Façam silêncio ou não vão ganhar presente amanhã.
- Tá bom. Boa noite, mamãe.
Ele correu e deu um beijo molhado na bochecha de Dafne. Vinicius era mais carinhoso do que o irmão dele, Thiago.Vendo-o desaparecer na escada, Dafne sentiu um aperto no coração, seus filhos eram sua vida.
Ela era mãe solteira e trabalhava dia e noite para dar tudo que eles tinham direito, mas a única época do ano que tinha para ficar com eles, era essa; o Natal.
A dor de cabeça estava passando, mas ela estava sem sono. Então Dafne decidiu assistir TV. Contornou a árvore de Natal, que estava iluminada com pisca-piscas e rodeada de presentes e ficou de frente para o aparelho. Era TV a cabo, seu pacote tinha muitos canais bons, mas o controle não estava funcionando. Deu umas batidinhas, retirou as pilhas, mas não adiantou. Ele continuava sem funcionar.
Se sentou no sofá, exausta e vencida.
- Ótimo. Vai tem que ser você mesmo.
Olhou para o canal em que estava ligado. Era o canal de notícias da sua cidade, na tela, um jornalista de cabelo preto bem penteado, falava impassível:
- Hoje um criminoso, mentalmente instável, Pedro Cabral, fugiu do Hospital Mental Santa Maria, atacando um dos médicos na fuga. Lembrando que esse homem já foi condenado por matar duas freiras, enquanto estava vestido de Papai Noel, no Natal, há dois anos atrás. Tranquem suas portas, avisem suas familias, chamem a polícia imediatamente se virem qualquer coisa suspeita. - a notícia do plantão acabou.
Dafne colocou as mãos na boca, preocupada. Ela se lembrava muito bem desse assassinato. Bem demais. Uma das freiras mortas, Ana, era sua tia.
Dafne tinha ido com sua mãe reconhecer o corpo. A cabeça dela havia sido arrancada a machadadas. Sua mãe vomitou ali mesmo, enquanto chorava enlouquecidamente. Sua mãe nunca mais havia sido a mesma, desde aquele dia.
Lágrimas pinicaram nos olhos de Dafne, desesperada com a lembrança, ela correu para trancar todas as portas e janelas. Quando completou a missão, respirou aliviada.
- Graças a Deus. - agradeceu.
Um barulho alto foi ouvido do quarto dos meninos. O coração de Dafne saltou no peito. Eles não estavam dormindo?- Thiago? Vinicius? - gritou, mas não recebeu resposta.
Subiu as escada lentamente, Dafne se lembrou do corpo mutilado da tia e sentiu enjôo, mas aguentou firme e subiu. Ficou de frente para a porta do quarto, estava aberta, ela percebeu."Isso não quer dizer nada. Vinicius deixou aberta quando desceu para falar comigo." repetia mentalmente para si mesma.
Abriu a porta e soltou um suspiro aliviado.
Os meninos estavam dormindo em suas caminhas. Pareciam dois anjinhos quando dormiam. Decidiu dar um beijinho na testa de cada um, antes dela mesma ir dormir.
Seus lábios mal encostaram na testa de Thiago e ela sentiu a cabeça dele se mover, será que estava acordando? Sua mão acabou encostando sem querer na pescoço dele,com mais força do que pretendia, e a cabeça rolou a seus pés.
Pausa, então o choque...então o desespero.
Ela gritou um gritou estrangulado e vomitou no chão do quarto. Gritou tanto de desespero quanto de medo. Quis correr, se bater, fazer qualquer coisa que acabasse com aquela dor.
Olhou para Vinicius e viu que ele tinha uma linha de sangue no pescoço, na cabeça dela, soube que se o tocasse a cabeça dele também cairia. Seus filhos estavam mortos.
Uma dormência tomou conta do corpo dela.
Ela não estava mais chorando agora. Estava observando a cabeça de Thiago. Ela engatinhou e a pegou nas mãos. Observou aquele rostinho. Ele não parecia morto. Estava tão em paz.
Começou a fazer um cafuné na cabeça, enquanto cantava uma canção de ninar:- Nana neném que a cuca vem pegar. Papai foi para roça e mamãe foi trabalhar.- uma lágrima solitária escapou de seu olho direito.
Sentiu um movimento atrás de si, na cortina. Esperou até que ele ficasse na sua frente. Era ele, Pedro Cabral, vestido de Papai Noel, com a barba suja de sangue; Se era de seus filhos ou de outra pessoa, ela não sabia. Encarou aqueles olhos frios e implorou:
- Por favor…Por favor - chorou. - faça isso, eu imploro.
O homem deu um sorriso macabro, dentes podres eram visíveis na boca dele.- Feliz Natal! - levantou o machado.
E ela não precisou implorar mais, a última coisa que sentiu foi um golpe em sua garganta e então a escuridão a engoliu.
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A Morte te deseja um Feliz Natal!
HorrorNatal. Época de presentes, amor e Papai Noel! Mas e se aquele Natal fosse ser o o dos piores pesadelos de Dafne?