Do Quente ao Frio

Crueldade

O mundo é cruel com aqueles que mais lutam para permanecer nele, é como um cavalo tolo recém laçado tentando com todas as suas forças derrubar o cavaleiro que ousou monta-lo. Um mundo miserável onde a escuridão havia tomado lugar dos últimos resquícios de esperança que ainda poderiam existir.
Doenças, miséria e crimes se tornaram uma realidade frequente e comum, a injustiça reina no coração de todos e desperta nos corações dos mais justos, bastando que um gatilho seja acionado.
Essa é uma história sobre um homem justo, um sujeito pobre e simples que vive a mercê de serviços pesados recebidos por meio de senhores e senhoras ricas que tratam essas pessoas "inferiores" como simples gados, essa é a única vida que este homem conhece.
Seu nome é Stewart, sem sobrenomes, vive sob o "cuidado" da família dos Bougartt, um dos nomes influentes da região, seu principal trabalho é justamente cuidar dos cavalos de seus senhores, apenas trabalhar...
Sem questionar...

-Seu porco filho da puta! - Falava um homem bem vestido enquanto batia no rosto de Stewart.

-Peço perdão perdão pelo erro, meu senhor! - Falava o pobre Stewart enquanto se curvava e humilhava a si proprio na frente de seu senhor.

-Não deixarei passar mais vezes, estou cansado de sua medíocre existência sem utilidade alguma. Um ser que não é nem mesmo capaz diferenciar o feno de meu Fenhir de um cavalo comum. Da próxima vez o farei limpar as fezes do traseiro de todos os cavalos com a própria língua! - Falava aquele que possivelmente era um dos Bougartt enquanto segurava o pobre coitado pelo colarinho enquanto tinha um olhar fixo e ameaçador direcionado a Stewart. - Eu não brinco, minha palavra vale muito mais que sua própria existência. -Acrescenta ele com um sorriso no rosto. Ele solta o rapaz e acaba estapeando o mesmo mais uma vez. -Sorte sua que aquela loira gostosa não está aqui desta vez, eu daria nela um trato tão bom quanto te dei hoje... Estamos entendidos... Certo? -Finalizava enquanto esperava uma resposta de Stewart que ainda estava no chão.

-Sim senhor! Não vai se repetir! -Suas palavras saiam trêmulas e o mesmo não olhava diretamente para o seu senhor.

-Ei, olhe para mim! -Falava se aproximando novamente e levantando o rosto do já humilhado rapaz. -E se por acaso se repetir? Me fale! -Falava com um sorriso amedrontador em seu rosto.

-Eu... Meu... Eu lamberei todas as fe... Fezes... Que sujarem o traseiro de todos... Todos os cavalos... -Falava trêmulo e com o medo e nojo subindo cada vez mais sua cabeça.

-Posso confiar no meu pobre porco? - Falava agora próximo aos ouvidos de Stewart.

-Engolirei se for preciso.

-Gosto disso! -Falava enquanto se afastava. -Acabamos por aqui então. Quero todos eles limpos, com ou sem saliva! Hoje é um grande dia para mim, preciso de meu Fenhir em perfeito estado! - Falava enquanto se afastava e finalmente deixava os estábulos para o alívio se Stewart.

Em uma das extremidades do local, atrás de um monte de feno surge uma silhueta de cabelos loiros.

-Ester! Ele já foi... -Falava enquanto permanecia no chão, com a cabeça baixa sem ousar olhar para cima.

Detrás daquele monte de feno uma garota surge e corre em direção a Stewart. A mesma o abraça por trás e começa a chorar enquanto o mesmo permanece sem expressão no rosto.

-Meu irmão, nós precisamos sair daqui... Tudo menos aqui! - Falava Ester junto ao choro.

-Sair daqui e ir para onde? - Falava enquanto uma lágrima começava a desenhar uma estrada em seu rosto.

-Não conseguirei aguentar os abusos dele, ele é pior que o pai... Temos que dar um jeito! - Falava apertando o irmão.

-Você não me respondeu... Se nós por acaso fugirmos? -Stewart então se soltou e virou para sua irmã mais nova.