O carro da polícia parou a apenas quatro quarteirões do local indicado. O frio do fim da tarde, combinado com o céu alaranjado do sol se pondo no horizonte trazia ainda mais receio ao coração dos policiais. Mas agora não tinham volta. Estavam trabalhando no caso há meses e finalmente chegara a hora de acabar com isso. Essa não era só uma simples apreensão, para aqueles dois jovens policiais que estavam à frente do caso seria uma porta para uma promoção.
Matheus sempre quis sair das ruas para ficar atrás de uma mesa, principalmente agora com Laís a caminho. O jovem policial de 25 anos precisava, acima de seu dever, pensar em sua família que estava sendo formada. "Seria duro para a jovem Erica se tornar uma viúva tão jovem!" Dizia seu parceiro Renato o tempo todo. "Apesar de que, pela beleza dela, haveria muitos candidatos a pai da Laís!". Esses comentários sempre vinham seguidos de risos entre os dois amigos.
Aquelas piadas podem acabar em breve. Na pior das hipóteses as piadas passarão a ser uma realidade. Mas nem Renato e tampouco Matheus desejavam isso. Pelo menos aquele não era o dia perfeito para esse tipo de brincadeira. Ambos estavam nervosos, tensos. Seus corações pareciam bater centenas de vezes mais rápido que o coração de qualquer ser humano na face da Terra. Se não fosse o som alto das músicas de funk, samba ou pagode vindo da casa a quatro quarteirões dali os dois podiam jurar que aqueles dentro da residência poderiam ouvir seus
corações mesmo daquela distância. O clima foi cortado pela voz no rádio policial
— Todos em suas posições! — Informava a voz do policial do outro lado do rádio
— Então... está preparado? — Perguntou Renato ao amigo de cabelos negros e curtos ao seu lado que olhava fixamente com seus olhos castanhos escuros em direção a casa no fim da rua.
— É agora ou nunca. — Respondeu Matheus ligando o carro e acelerando em direção a casa enquanto Renato pegava o rádio.
— Entrem! — Sua resposta foi obedecida quase que de imediato.
Assim que chegaram em frente à casa algumas viaturas já haviam parado e policiais já invadiam a residência. Matheus e Renato saíram do carro rapidamente com as pistolas em mãos. Entraram na casa pela porta da frente enquanto outros policiais davam cobertura. A casa tinha um muro alto, mas o portão estava escancarado por causa da festa. O que era uma coisa boa, pois o portão, apesar de ser de grades, tinha uma chapa de metal, talvez alumínio, presa com arame às grades. Se estivesse fechado era impossível olhar dentro da casa sem abri-lo, arrombá-lo ou pular o maldito muro.
— Todo mundo pro chão! Ninguém se mexe! — Gritou Matheus apontando a arma para todos os lados assim que ambos passaram pelo portão e adentraram no quintal malcuidado, onde boa parte dos convidados estavam.
O grito da voz forte de Matheus ocasionou a reação oposta de sua ordem. No mesmo instante quase todos da festa se desesperaram tentando fugir dali. Apenas algumas poucas pessoas se abaixaram. As demais tentavam pular a janela ou correr, mas eram imediatamente imobilizadas por policias da equipe. No meio do caos o barulho de um tiro deixa todos ainda mais desesperados e os policiais ainda mais alertas. Felizmente, a bala disparada pela arma de um dos traficantes não acertou alvo algum. O tiro fora dado apenas como distração, enquanto ele fugia pelos fundos da casa.
— Levem todos sob custódia! Não importa se é bandido ou filhinho de papai! — Deu Matheus a ordem enquanto saiu em perseguição do bandido.
O bandido atravessou o interior da casa como um raio, pulando o muro dos vizinhos que, a essa altura já se refugiavam dentro de suas casas. Matheus não perdeu tempo em segui-lo, apesar de quase tropeçar em uma mesa de centro no meio da sala e ter de abrir a antiga porta de vidros dos fundos da cozinha, que havia sido fechada durante a fuga para atrasá-lo. Perseguiu-o pelo quintal do vizinho após pular o muro dos fundos, evitando, contudo, de atirar. Não queria feri-lo gravemente, entendia, como cristão, que deveria utilizar a arma em último caso.
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Setenta vezes Sete - Marcos Bossolon
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