(Mashton) Tomorrow Never Dies

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A vida pode ser tão difícil de respirar

Quando você está preso dentro de uma caixa

Mas tente o seu melhor para mudar esse destino

Você pode apenas curtir o passeio

O sol vai nascer, a lua vai cair

O amanhã nunca morre.

Don't let the colours fade to grey

A vida de Ashton Irwin era uma rotina.

Ele acordava e pesava quais as consequências de não sair da cama. Simplesmente ficar deitado o dia inteiro, janelas fechadas e luzes apagadas, ignorando todo o resto do mundo em seu apartamento alugado, longe de tudo que pudesse afetá-lo negativamente. Mas, no final, sempre acabava se arrastando para fora da cama, porque o maior inimigo dele era justamente da única coisa da qual não podia se afastar: sua mente. E qualquer coisa era melhor do que ficar aprisionado nos próprios pensamentos.

Então saia da cama, tomava banho e escovava os dentes. Sempre olhava para a cozinha antes de sair, ponderando se deveria ou não comer alguma coisa. Nunca comia. Convencia-se que recolheria todas as latas de cerveja espalhadas pela casa quando chegasse do trabalho e que não compraria mais cervejas quando passasse em frente do mercado ao lado do seu apartamento. Mas sempre comprava.

Os produtos daquela loja de conveniência onde trabalhava eram sempre mediocramente iguais. Nem uma única novidade. Quando se mora em uma cidade pequena, até os clientes são os mesmos. Os mesmos jovens fazendo barulho. As mesmas crianças em busca de doces. Os mesmos resmungos insatisfeitos dos operários que estavam construindo um novo prédio do outro lado da rua. Sempre a mesma monotonia angustiante que Ashton precisava enfrentar com um sorriso cordial no rosto. Um fingimento perfeito de que tudo estava bem e que não bebia todas as noites pra aliviar a porra da dor no peito que sentia sempre que estava acordado e sozinho.

O maior dos maus era aguentar toda aquela realidade estando sóbrio.

Então, quando finalmente se via livre do trabalho, raramente se despedindo dos outros funcionários – não tinha amizade com nenhum, por mais que Calum Hood insistentemente tentasse puxar algum conversa fiada – ele fazia o mesmo trajeto até o mercado no final da rua. Eram cento e vinte e seis passos da loja de conveniência até o mercado onde sempre comprava cerveja. Já fizera aquele caminho tantas vezes nos últimos meses que criara como passatempo pessoal contar o número de passos. Nunca poderia dar menos de cento e vinte e seis passos. Nem mais.

Mas, além das cervejas, os cento e vinte e seis passos o levavam até Michael Clifford.

Michael Clifford.

Michael Clifford era o único filho do dono do único mercado da rua. Sempre dentro de suéteres que pareciam quentes e agradáveis e certos demais. Ele era dono de um sorriso capaz de tornar até o mais frio dos invernos. Michael Clifford era como beber um chocolate quente quando estava muito frio. Era como conseguir memorizar o soneto 21 de Shakespeare. E era o motivo que fazia Ashton respirar fundo, pensar, repensar e trepensar se deveria mesmo entrar ali atrás daquele conformo efêmero, depois de todos os cento e vinte e seis passos.

Ashton enrolou melhor o cachecol ao redor do pescoço, os dedos pálidos e esguios afastando os cachos acastanhados dos cabelos do seu rosto para conseguir enxergar as prateleiras que se estendiam no último corredor. Estava frio demais para fazer qualquer coisa que precisasse sair do aconchego do aquecedor, então o mercado estava praticamente vazio àquela hora. O que era bom. Da última vez, Ashton encontrou a velhinha que, às vezes, costumava comprar absorventes na loja de conveniência em que ele trabalhava. E ela gostava de conversar. Perturbou Ashton o suficiente para que o rapaz começasse a ficar ligeiramente desesperado. Nos últimos tempos, qualquer contato minimamente sociável era um motivo para ficar a beira de um ataque de pânico.

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