Distinto ecossistema; único

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Depois de conhecer Namjoon, Jimin passou a fazer associações contrárias do que lhe era conhecido: sorvete de caramelo salgado é como a pele do mais velho – agridoce e delicada, macia e apetitosa; a areia da praia é quente como seu corpo; o som das ondas é como sua voz – forte e intensa; um dia ensolarado no litoral é como estar na companhia dele – mesmo que esteja em um dia chuvoso; a corrente marítima é como a consequência de instiga-lo sexualmente – poderosa e envolvente. Uma vez puxado, jamais retornará por vontade própria, apenas afundará no oceano de sensações e prazeres, sendo preso a tentáculos, sugado por ventosas pelo corpo todo, se aventurando em cavernas profundas e achando tesouros.

Todas estas emoções foram graças a excursão que fez com sua turma do primário de quinto ano ao parque aquático e zoológico na costa sudoeste do país. Encantou-se pelo guia carismático e sorridente de pele bronzeada, voltou lá mais sete vezes em menos de três meses até ter certeza de que deveria convidá-lo para sair, e o fez. A paixão ardente de Kim Namjoon pelo mar o intrigou a cada encontro. Suas falas entusiasmadas sobre as criaturas e os mistérios do ambiente onde vivem, os projetos em que está envolvido e como seu trabalho o apoia com as causas o dando liberdade para viajar quando necessário. Como professor de biologia de alunos entre nove e dez anos, Jimin desejou ter o tipo de vida do outro. Desde que passou a lecionar, não tem se aventurado em mobilizações sustentáveis e ambientais. Só ensinava as crianças a serem assim quando ele mesmo não era. O moreno despertou em si o que havia sido esquecido e, antes que a monotonia o matasse, pediu demissão do emprego. Foi viver perigosamente em prol do bem maior do planeta e o seu.

Aprende todos os dias com o Kim, um biólogo marinho bastante ativo, enquanto o menor se adaptava saindo da estagnação, onde só acompanhava pesquisas de terceiros e deixava de vivenciar o que lia. O gosto pela área que escolheu retornou como nunca ao viajar com o acastanhado. Namjoon entregou-lhe amor, tanto o da natureza quanto o dele.

Em meio a protestos embaixo de sol e chuva, trabalhos braçais ajudando espécies ameaçadas de extinção ou animaizinhos feridos por inconsciência da população local e governantes – que não alocam o lixo em seu devido lugar –, conferências, palestras em clubes e escolas, os dois sempre encontravam um jeito de ter um momento só deles. Porque o biólogo mergulhado em mel se sentiu na obrigação de mudar o loiro baixinho e desmotivado. Viver em uma sociedade que pouco se importa com questões ambientais e sustentabilidade, desanima qualquer um, mas desistir é algo que excluiu de seu vocabulário há anos.

Na primeira vez que viu o Park, sentiu algo oculto, uma vontade reprimida em seus olhos cor de chocolate. O que quer que fosse, Namjoon estava disposto a libertá-lo da caixinha e viver, mesmo desconhecendo o outro e não sabendo se algo realmente o afligia. Queria explorar aquele habitat singelo e expressivo. Quando alcançou seu objetivo inicial, percebeu que não mais importava. Jimin não é um ecossistema qualquer, ele é surpreendente, mostrando suas facetas conforme o estuda, cálido quanto mais se adentra e complexo quando suas respostas são respondidas e mais perguntas se formam. Só aparenta simplicidade com sua delicadeza e meiguice. Possui talentos que pouco valoriza e um coração maior que o oceano pacífico. Com o passar do tempo, ele se mostrou como o som das ondas dentro de uma concha, pode até saber a explicação científica para isso, mas o Kim quer continuar a acreditar que é um mistério tal como o das sereias. A medida que descobre mais, destrava uma insegurança e revela um desinibido Park Jimin, que para de se esconder atrás de uma rocha estável e nada pelas amplas águas salgadas a procura de Atlântida. E Namjoon o segue, já que o mais novo o estimulou a uma jornada mais ousada mundo a fora e, à noite, no mundinho só deles.

Seja no frio seesquentando ou no calor se grudando, estavam sempre juntos. Suas grutasclamavam pela invasão um do outro, seus baús de ouros e joias aguardavamansiosamente para serem abertos, suas espadas travariam a batalha que fossepara obter o tesouro. No final, os raios de sol sempre os saudavam. Banhandosuas dermes, agora, muito morenas, anunciando que mais um dia longo e agitadonasceu. Essa era a única rotina que se permitiam ter, afinal, ainda são humanosapesar de se imaginarem seres do mar.   

Castanho mar • MinjoonOnde histórias criam vida. Descubra agora