[Save my soul, because I can't stay away from yours]
Meus tênis, meu cabelo, meu jaleco e todo o meu corpo estava encharcado por conta de uma chuva californiana de verão que caía com muita vontade e me assustava a cada trovão que rugia no céu.
Naquele momento, o estacionamento do hospital não era o melhor lugar para se estar desprotegida, mas ainda assim, lá eu estava.
O motivo? Harry, é claro. Sempre foi e sempre será a mesma pessoa.O plantão de trinta e seis horas havia me consumido até a última gota de sangue, eu não tinha saído do bloco cirúrgico desde as duas da manhã e meu lado humano não estava muito ativo à essa altura do dia. Foi quando Jules me avisou que alguém importante me esperava no estacionamento e eu já podia imaginar o sujeito da oração. A chuva começara a cair no ponto alto da discussão e aquilo foi literalmente a gota d'água.
Eu só queria... na realidade, não sabia ao certo o que queria. Eu tinha tudo, não é mesmo?
Casa, carro, dinheiro, viagens, havia me tornado médica residente há pouco, era boa no que fazia e amava meu trabalho.
Eu tinha tudo.
Ou quase tudo, talvez.Harry também estava encharcado. A camisa branca estava transparente e mostrava suas tatuagens por debaixo do pano. Talvez minhas tatuagens também estivessem aparentes nas mangas molhadas do jaleco, assim como as dele.
As pontas do seu cabelo pingavam. Ele era a própria cena de um crime, enquanto eu só tinha um rosto exausto nada atraente.Eu já estava cansada de discutir debaixo daquele temporal, reprimindo um desejo enorme de engolir minhas próprias palavras e beijá-lo. Ainda que negasse, eu precisava dele de todas as formas possíveis, e Harry sabia disso.
Ele também precisava. Precisava de mim de um jeito que minhas sinapses eram incapazes de me fazer compreender.
Não fazia sentido para mim.- Você foge! Sempre foge! - ele falou ao elevar o tom de voz.
- Me poupe, Harry! Eu acabei de sair da droga de um plantão de trinta e seis horas e você acha que isso é fugir? Eu não sou você que tem tempo livre, que vive da sua arte, que é aplaudido e amado. Não! Eu não sou assim! Eu dou cada segundo da minha vida pra salvar a vida de outra pessoa e ninguém me aplaude por isso. Eu não preciso de aplausos, não preciso que me amem, ou muito menos que alguém não entenda que o meu trabalho é a minha vida. Eu desisti da minha própria vida para cuidar da vida de outras pessoas, entenda isso.
- Não, Anna. Você que não está entendendo nada. Você não consegue ver o que está acontecendo diante dos seus olhos, porque você desaprendeu a viver. Você não consegue mais simplesmente viver, só pensa nisso - ele apontou para o hospital atrás de mim - Eu estou tentando dar a minha vida por você e, sinceramente, não preciso da sua simpatia para isso. Você não sabe o que faz comigo quando me olha assim. Estou tentando salvar sua vida, porque eu realmente não posso suportar ver você sucumbir a cada dia. - sua voz baixou um tom - Enquanto isso, a única coisa que você faz é fugir de mim o tempo todo. É disso que estou falando. Pare de fugir. Você sabe o que eu sinto. Eu sei o que você sente. Não temos mais sanidade mental para jogar esses jogos maldosos.
A dor nas suas palavras se alojaram no meu peito. Uma facada rápida e precisa. Mortal.
- Não preciso que dê a vida por mim, ou que se preocupe comigo. Estou bem sozinha. - menti.
- Quantas vezes tenho que dizer que você não está bem? Até sua própria saúde está um caos. Pelo amor de Deus, sejamos honestos uma vez na vida. Por favor, por um minuto, deixa de lado esse orgulho ridículo!
- Orgulho? - ecoei indignada - NÃO VENHA ME FALAR DE ORGULHO. NÃO VENHA ME FALAR DA MINHA PERSONALIDADE. VOCÊ NÃO VIVEU A MINHA VIDA, NÃO PASSOU PELO QUE EU PASSEI. VOCÊ NÃO ME CONHECE, HARRY. NÃO OUSE FALAR DO QUE NÃO SABE.
VOCÊ ESTÁ LENDO
MEDICINE [h.e.s.]
Fanfiction"Help me take my medicine/ Take my medicine Give me that adrenaline/ That adreline" "I don't want your sympathy/ But you don't know what you do to me Oh, Anna" A redenção é tudo o que um amor fragilizado precisa. E, mesmo depois de todos os erros c...