Olhares

A queda

Estava de regresso a Lisboa. Tinha os phones no ouvido e ouvia a música do meu iPod. Ainda me encontrava no avião da BrasilAirlines proveniente do Rio de Janeiro. Adorei e odiei estas férias. Por um lado foi opimo estar com os primos cariocas, já para não falar das amigas deles...

Mas de facto foi estranho. Pela primeira vez, mesmo tendo oportunidade não me envolvi com ninguém, nem mesmo com a Estéfani que até me chegou a tentar beijar quando estávamos na discoteca a comemorar o facto de ela ser a nova modelo da marca Lingerie4u. O corpo dela era espetacular se não era modelo, né? (Já pareço os meus primos a falar) Contudo quando olhava para aqueles cabelos castanhos com madeixas californianas na minha mente surgiam uns cabelos super lisos, negros como as asas de um corvo; aqueles olhos castanhos-escuros eram substituídos por outros, bastante brilhantes, de um castanho avelã e aquela pele super morena era substituída por outra bem mais clara e atraente... No fundo ao olhar para a Estéfani ou para qualquer outra rapariga, naqueles dois meses em que estive com os meus primos na Tijuca, apenas uma pessoa me vinha à mente: a Mafalda...

Nem sei porque estava a pensar nisto agora, estava com fome, era hora de almoço. Felizmente parece que alguém me leu os pensamentos porque ao fundo consegui avistar um daqueles carros metálicos cheio de tabuleiros. A comandá-lo estava uma rapariga alta, com uma silhueta invejável, vestia uma farda azul, bem justa. Aí que fome! Finalmente chegou a minha vez. Preferi o prato de carne, entretanto percebi que alguém devia estar a falar comigo, depois reparei que era a hospedeira, distraíra-me com o seu leve decote. Olhei para ela atrapalhado e corei ligeiramente, ela sorriu e simplesmente perguntou:

-Que deseja beber? - Enquanto me piscou o olhou.

-Um Guaraná bem gelado sff.

Amavelmente ela deu-me um copo e a lata esverdeada enquanto perguntou se queria algo. Simplesmente desloquei a cabeça de um lado para o outro e ela afastou-se. Peguei nos talheres e devorei a "comida", sim aquela "coisa". Nem sei se sabia a carne ou a peixe. Tinha um sabor indefinido e uma textura ainda mais estranha.

Entretanto nos meus ouvidos ecoava uma música que mal me lembrava, mas sabia que já a tinha ouvido há uns anos. Perguntei ao meu irmão se a conhecia. Ele colocou os phones no ouvido e prontamente disse:

-É dos Linkin Park, In The End.

-Ah, sim, tens razão. - disse enquanto tentava cantar mentalmente a letra.

-Então tens para aí músicas que nem conheces? -barafustou o meu irmão.

-Não, simplesmente não me lembrava. Mas deixa-me ouvir. - Tirei-lhe o phone do ouvido e coloquei no meu.

Estava tão envolvido com a música que enquanto olhava pela janela me pus a cantarolar baixinho:

Time is a valuable thing

Watch it fly by as the pendulum swings

Watch it count down 'till the end of the day

The clock ticks life away

 

It's so unreal

 

Nisto comecei a tremer... Todo eu vibrava, mas não era uma vibração normal. Todo eu oscilava, parecia um terramoto. Entretanto comecei a ouvir imenso barulho, decidi tirar os phones e só ouvia gritos. Abri os olhos e vi mesmo em cima de mim a mascara de oxigénio. Coloquei-a e olhei para o meu irmão. Ele deu-me a mão, disse-me para colocar o cinto. Olhou para mim e consegui ler-lhe nos lábios "Vai ficar tudo bem!".

Entretanto via-se algumas pessoas a correr pelo avião a tentarem sentar-se. As hospedeiras e os hospedeiros tentavam acalmar os passageiros e indicaram as manobras de segurança. As luzes para colocar os cintos estavam acesas e os ecrãs desligaram-se. De repente ficou escuro. Mal conseguia respirar e agora ver. Mas as luzes acenderam de novo e piscaram umas quantas vezes. Só sentia o estomago às voltas porque estava literalmente ás voltas! Parecia uma montanha russa. Eu adorava montanhas russas e até o RedBull Air Race, mas aquilo era demais.

-Senhores ...geiros, daqui fala o vo... com..dante. Pedimos que man... calma. Por favor coloq... os cintos de segur.... e as mas...as por... iremos efectu.. uma aterragem de ...gência. ..ão saiam dos vo.. lu...es. E pa... quem é crente ore nes... ...mento. - Foi isto que ecoou pelo avião, juntamente com gritos e outras vozes de pessoas a rezar e outras a chorar.

Olhei para a janela e não havia nuvens, apenas consegui ver o que parecia ser um rasto branco, uma linha perfeita, ou até mais do que uma, não sei bem, estou tonto...

Senti um forte arrepio. Ouvi um forte estrondo e agora o silencia invade a minha mente.

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Então que acharam? Críticas, sugestões... Será que João vai morrer? O que querem? E sobre a Mafalda e a Estéfani? Dou-lhes alguma oportunidade para se envolverem com o João? Ou será que até já se envolveram?

Não percas o próximo capítulo de OLHARES by @the_new_era