Oportunidade

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– Tudo isso é lindo, não é mesmo? Não podemos ver as estrelas tão bem lá da cidade como podemos ver daqui.

– Confesso que eu achava tão bregas aquelas cenas de filmes em que há pessoas olhando para o céu estrelado à noite, mas, sabe, agora que está acontecendo de verdade comigo, é tão, sei lá, marcante. – Olhando para as incontáveis estrelas do céu, digo baixinho para Gui que está deitado junto a mim no lençol. A sensação de ter a areia sob os meus pés é nova, e ouvir o som das ondas transparentes do mar faz com que eu me sinta ainda mais tranquilo.

Como presente de aniversário para o Gui, o pai de Atson, que imagino ser um ricaço, resolveu pagar uma viajem para Gui, Tiago, Danilo, Atson e para quem mais Gui escolhesse. Fiquei surpreso quando recebi o convite dele devido ao fato de termos nos conhecido há tão pouco tempo. Estamos na Baía dos porcos, em Fernando de Noronha, que possui um visual de tirar o fôlego.

Sério? Eu gosto dessas cenas, mas até agora, nunca pude ter aexperiência. – Apoiando-se sob oscotovelos, o garoto se aproxima ainda mais de mim para me abraçar, e eu não orejeito. O melhor de tudo é que isso não é uma cena de um filme ou apenas maisum daqueles sonhos que sempre tenho. É real. Meu Deus, isso é real! Conheçoesse garoto há apenas alguns dias, e ele já me deixa tão feliz como ninguém.

Coloco a minha cabeça sob o peito de Gui. Quando estou ao lado dele ou falando com ele pessoalmente, por mensagens ou por telefonema, eu perco a noção do tempo. É bom sentir as mãos dele roçando a minha pele, e o seu toque é quente e produz vários efeitos sobre o meu corpo. O meu coração passa a bater mais rapidamente.

– Obrigado por ter aceitado meu convite de vir com a gente. Pensei que seria uma boa oportunidade para nós dois passarmos mais tempos juntos. – Por estarmos tão próximos, posso ouvir o som de sua respiração.

– Você é a única pessoa no mundo louca o bastante a ponto de convidar um desconhecido para fazer uma viagem.

– Desconhecidos são apenas amigos que ainda não tive a chance de conhecer.

Eu não esperava por essa resposta, então eu levanto meu rosto e olho para Gui que está bem diferente daquela noite na casa de Vênus em que eu o conheci.

Ele usa apenas uma bermuda jeans cinza e uma camiseta preta. Em sua orelha esquerda há um pequeno alargador. Há uma tatuagem em seu braço esquerdo que se inicia no peito e vai até o pulso. A imagem, em cor preta, é de um leão sereno, e sua juba parece estar sendo balançada por uma leve brisa. No pulso até o início do antebraço, rosas enfeitam o cenário. Mesmo tendo completado apenas 17 anos hoje, Gui não aparenta ter a idade que tem devido à sua altura e músculos.

– Que frase cafona! Aposto que você tirou isso de algum livro que leu. – Digo rindo e olhando em seus olhos negros escuros. O cabelo castanho de Gui está penteado de um jeito meio bagunçado, como sempre. Ele diz que é um diferencial, e tenho que concordar com isso.

– É verdade. Sim, eu tirei, mas você tem que concordar que o que eu disse é uma realidade do mundo.

– Talvez. – Eu nunca parei para pensar nisso, na verdade.

Olho para o mar, e Gui faz o mesmo. Apenas a lua ilumina nossa visão, e é incrível ver sua imagem refletida bem grande na água. Ficamos em silêncio por alguns segundos apenas apreciando a vista.

Usando alguns troncos secos e caídos pelo chão, Dan havia feito uma pequena fogueira que está próxima de nós, mas as chamas estão quase se extinguindo. Mesmo assim, seu calor continua a aquecer a nós dois.

O garoto se senta, o que me obriga a dar espaço a ele e desfazer o contato.

– Vem! – Diz ele, sorridente, quebrando o silencio entre nós e estendendo sua mão para mim. Eu a seguro com firmeza e sou puxado.

Por essa ser uma praia de difícil acesso, apenas nosso grupo se encontra nela. Então, para minha alegria, não há aqui crianças chorando ou jogando areia na nossa cara apenas por diversão. Sabe, eu odeio crianças.

Enquanto caminhamos até o mar, olho para as barracas onde os amigos de Gui estão deitados. Acredito que já se passaram das três duas da madrugada.

– Por você se preocupa tanto?

Não entendo o porquê da pergunta de Gui e pisco tentando assimilar o que ele quis dizer. Ele ri da expressão que fiz, mas não é qualquer sorriso que estampa seus lábios. É um sorriso sincero e inocente. O sorriso que fez com que eu me apaixonasse perdidamente.

– Como é? – Digo sentindo a areia entre os meus dedos já que deixamos nossos chinelos junto ao lençol.

– Não se faça de bobo, Tyler. Desde que ficamos aqui sozinhos, vejo você lançando olhares para as barracas. – Ele não diz isso de maneira séria e sim despreocupadamente.

– Seus amigos estão nas barracas, e eles podem nos ver. – Falo sem pensar e me arrependo de ter dito essas palavras assim que elas saem da minha boca. Eu tenho mesmo que ser sincero sempre?

Gui levanta a sobrancelha direita e leva a mão à própria boca para esconder uma gargalhada.

– E daí? Meus amigos não são como aparentam ser. – Tenho que confessar que ouvir isso me deixa confuso. – Nem todo mundo é babaca como os ignorantes que conhecemos.

Gui mal termina de falar e já solta minha mão e corre entrando no mar.

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⏰ Última atualização: Oct 08, 2020 ⏰

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