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        Não é que eu não sentisse falta dos meus amigos. Eu sentia. É claro que Peter podia ser meio irritante às vezes, e Bucky não era lá a pessoa mais simpática do planeta (eu meio que achava que esse era um dos motivos que faziam dele e Mia um ótimo casal), mas eram amigos incríveis, daqueles que te ajudariam a, sei lá, esconder um corpo. Principalmente Peter, que estava comigo há tantos anos, e, sem querer me gabar, é o Homem-Aranha. Isso aí, sou o melhor amigo do Homem-Aranha.

       A única coisa que me incomodava nessas nossas reuniões mensais (já que depois de um tempo, ficava mais difícil nos encontrarmos sempre, por coisas como emprego, superpoderes, o fato de eu ter me mudado para o outro lado do país, filhos - brincadeira, nenhum de nós tem filhos ainda), era que eu era o único solteiro. Sim, pode parecer ridículo, mas, estar sozinho com dois casais é meio constrangedor, você tem que concordar.

        Apesar de tudo, lá estava eu no aeroporto, às nove da manhã, em pleno sábado. Apenas esperando meu voo. Como ainda levaria uma hora para entrar no avião, resolvi ir à cafeteria. Eu definitivamente precisava de cafeína. E bolinhos.

        Andava observando as pessoas, e notei algumas apressadas esbarrando em outras. Havia também um grupo chorando (provavelmente alguém estava indo embora), perto da área de embarque. Outro fazendo festa (alguém chegando?) bem ao lado, como sempre acontecia quando nosso grupo se reencontrava.

        Entrei no estabelecimento e já me posicionei na fila, que não estava muito grande, apesar de o local parecer cheio. A minha frente, pude reparar numa garota que, eu tinha que admitir, era muito interessante. Tinha os cabelos curtos bem lisos e muito escuros, contrastando com sua pele que mais parecia porcelana. Usava um daqueles óculos redondos que pareciam antigos, sabe? De algum jeito, até seu modo de se vestir era interessante.

        Meu coração quase saiu pela boca quando ela se virou na minha direção por alguns segundos. Por instinto virei a cabeça para o outro lado, agindo como se não a estivesse encarando esse tempo todo. Ela riu discretamente e voltou a olhar para frente. Dei um tapa em minha testa e no mesmo instante ela se virou para mim novamente.

        - Chapéu legal.

        Ergui os olhos um pouco surpreso.

        - Obrigado, senhorita. - Disse abrindo um sorriso e tirando o chapéu como um cumprimento. - O seu também.

        Ela riu de modo que seus olhos parecessem apenas dois risquinhos, o que a fazia parecer ainda mais linda.

        - Eu não estou usando chapéu.

        Percebi o que havia acabado de fazer e acabei soltando um riso nervoso e um pedido de desculpas esquisito. Qual é o seu problema, Ned?

        - April Nomura. Prazer em te conhecer. - Estendeu a mão em minha direção.

        Estava tão atordoado pelo lance do chapéu que acabei estendendo a mão errada, fazendo a garota rir de novo. Eu não entendia por que eu estava agindo feito um idiota, só sabia que estava parecendo o Peter. E, se tratando de garotas, parecer o Peter com certeza não é nada bom.

        - Droga. Desculpe. - Troquei a mão, abrindo um sorriso amarelo. - Sou o Ned Leeds. O prazer é todo meu.

        Logo sua vez chegou, e a minha em seguida. Eu sabia que as coisas ficariam por isso mesmo, mas tinha certeza também de que Lizzie e Mia iriam me matar se soubessem o que aconteceu quando eu finalmente falei com uma garota que não elas. Ou minha mãe.

        - Ahn, April? - Chamei quando ela pegou seu pedido e começava a se afastar. Ela veio em minha direção, arrumando sua mochila roxa nas costas. - Você quer conversar um pouco? Pra passar o tempo até a hora do voo, sabe? Quer dizer, se você quiser.

One shot - Uma garota para o cara da cadeira (Dusk Till Down)Where stories live. Discover now