Capítulo 7

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"Gostaria de poder girar, voltar o relógio começar de novo..."

O rajada gélida convida as folhas das árvores e o gramado semi cortado a vibrar com sua força.
A dança da ventania coloca todos em simultânea harmonia. Como se todos estivessem em um espetáculo grandioso a espera de um bis... Dentre esses dançantes, havia Liam. Que estava cabisbaixo na arquibancada do campo de futebol. Perdendo o espetáculo.

Mas pode compreender seu estado, um coração partido e espírito cansado. Não há o que faça admirar a magnitude que está na sua volta, se o que é mais precioso não se pode receber: a reciprocidade em um amor.

Vou em sua direção. Apesar de tudo, ele é uma pessoa boa e gentil. Um pouco ingênua talvez, mas quem sou eu para julga-lo? Se um dia, eu mesmo era essa pessoa ingênua.

- Oi. - Ele levanta a cabeça e seus olhos vermelhos denunciá a sua fraqueza.

Ele limpa os resquícios de lágrimas que escorriam pelos seus olhos.

- Oi. O que faz aqui? - Ele desvia o rosto tentando esconder sua fragilidade mediante a situação.

Seria vergonhoso um homem chorar por amor?

- Estava querendo aproveitar a brisa gelada. E por acaso te encontrei aqui.

- Mentir não é seu forte, Hector.

- Isso é um ponto positivo, não? - Eu olho para o horizonte esperando sua resposta.

- Sim... Ser verdadeiro é uma das suas melhores qualidades.

- Obrigado. Mas me diga, o que você faz aqui?

- Acho que pela minha cara deu pra perceber.

- O quê? Eu não notei nada. - Fiz-me de desentendido.

- Eu ouvi uma conversa da Lola com uma de suas amigas. Ela disse que só me usa para fazer ciúmes no seu ex-namorado. E que faltava pouco para ele querer reatar. Então ela daria qualquer desculpa esfarrapada para se livrar de mim...

- Eu entendo... - E eu realmente entendia. Por mais que Liam e eu fôssemos amigos, ele não sabia de nada do meu passado.

- Entende? Como você pode entender isso?

- Eu já tive um caso assim no passado. Eu amava uma garota, ela se chamava Camilla.

- Ohw, nunca imaginei que você tivesse ficado com alguém.

- Pois é. Ela era meu mundo. Mas infelizmente o mundo tinha outros planos para o futuro... Um dia, enquanto caminhávamos pelo parque. Camilla sentiu uma forte dor no estômago, e de repente começou a vomitar sangue. Ela estava tendo uma crise hemorrágica.

- Nossa, eu não sei o dizer...

- Fomos ao hospital, onde ela ficou internada por dias. Até o médico poder fazer o diagnóstico. Ela tinha leucemia, câncer no sangue. E precisava de medula óssea compatível.
Felizmente, éramos compatíveis. Eu fiz a cirurgia... Só que após alguns dias, ela começou a ter várias crises. O corpo dela rejeitou todos os tratamentos. Nem a quimioterapia fazia muito efeito... E então, ela faleceu.

- Meus pêsames, Hector... Eu não sabia que você tinha passado por tudo isso. Eu me sinto um estúpido com o meu problema perto de você.

- Todo problema, é um problema. Seja ele o mínimo ou o máximo que for, deve se dar merecida atenção e compreensão.

- Isso faz quanto tempo? Se não for tão pessoal.

- Dois anos. Eu tinha dezesseis anos quando a perdi. - Sinto uma lágrima de saudades escorrer. Mas rapidamente limpo.

- Eu costumo pensar que os mortos estarão sempre ligados a você. Só se permitir sentir.

- É um ótimo pensamento... Queria eu que tudo fosse tão simples assim.

Ainda dói não ter você aqui, Camilla.

- Não é ? - Ele me olha um pouco confuso.

- Não muito. Antes de vir para essa escola, eu tinha uma Lola na minha vida.

-Não brinca! - Sua expressão era um tanto engraçada. Uma mistura de supresa, curiosidade e confusão.

- É verdade. Eu fiquei muito mal após a morte da Camilla Então eu conheci a Anna... Uma grande desilusão amorosa. Eu a seguia para todos os lados, fazia seus deveres de casa, e conversávamos todos os dias por mensagens de texto... Mas descobri que eu era só era uma diversão.
Logo depois, ela se mudou para outra cidade, e suas últimas palavras foram: eu nunca amei você.

- Como você pode ser tão azarado? Estou me sentindo um lixo, e um garoto mimado perto do que você ja teve que enfrentar.

- Apesar de tudo... Eu ainda acredito no amor. -

E que ele, de alguma forma, vá me salvar.

- Se você acredita, eu também posso acreditar. Eu só não achei a pessoa certa, ainda.

- É verdade. Quando você a encontrar verá que o amor bom, é aquele que não machuca.

- Você vai fazer filosofia ou psicologia? - Disse sorrindo um pouco.

- Não sei ainda, o futuro é incerto... Tem muitas opções para se explorar.

Nós rimos um pouco. No final, Liam seguiu seu caminho para sua casa. E eu me encontrei com Layla na frente do portão.
Fomos para casa também. Mas eu sigo por um caminho mais longe, não quero passar por aquela rua.

A caminho do ponto, vejo Layla se divertindo no caminho. Isso me faz pensar na sua sutileza... Pode se dizer que eu tenho ficado mais "leve" com ela por perto.

No fundo, acho que isso é bom... Dizer toda aquelas coisas para o Liam, me fez bem.

Fazia muito tempo que eu não olhava para trás. Algumas coisas, por mais que tente, não dá para esquecer.

Depois da minha trajetória no ônibus, finalmente cheguei em casa. Adentrei em casa pensando no que poderia fazer.

- É isso que você faz todos os dias? - Layla me pergunta sentando-se ao meu lado.

- Basicamente. Às vezes acontecem coisas interessantes... Por exemplo sua aparição. - Ouço sua risadinha com uma pontada de timidez.

- Bobo! O que vamos fazer para passar o tempo? - Ela diz sorrindo.

- Que tal ver um filme?

- Ótima ideia! - Ela deita no sofá, e começamos a ver um filme animado que passava por coincidência.

A presença de Layla me traz uma sensação de paz e conforto. Queria poder decifrar como ela consegue fazer isso... Nunca me senti tão leve quanto agora.

E devo tudo isso a uma pequena garotinha. Que tem a leveza no olhar e um semblante absurdamente adorável.

Um Garoto Nos Seus SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora