PARASITA

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   Você acorda, toma seu banho, se veste e tenta escrever algo por mais bobo que seja. Você apenas deseja escrever e ficar boa nisso. Esforça-se ao máximo até se esgotar por inteiro para escrever algo decente, mas nunca sai algo de bom. Não bom o suficiente. E você se rebaixa por causa disso, porque nunca vai ser boa nisso e em nada. "Sou inútil'', você diz olhando-se no espelho e pensa que é exatamente isso que os outros pensam de você. Chega de expor seus pensamentos porque não são bons. Eles vão achar que você é doente, uma idiota. Pessoas gostam de coisas boas, para ter algo com que se reconfortar. Mas não gostam de seus textos e seus poemas, e você fica falando o porquê repetidas vezes para si mesma. Tudo bem, você entende, mas não se conforma com isso, com você. Por que ser tão ruim? E você continua, mesmo com esses pensamentos indesejados você continua.

   "Você não serve para ser escritora'', "inútil'', "para com isso'', "você não deveria existir''; todo tipo de pessoa, todos diferentes, mas iguais nos pensamentos sobre você. Isso te deixa para baixo, caindo em um profundo abismo. Você desaba, lágrimas escorrem e gritos silenciosos ecoam dentro de sua mente. Você só queria ser boa em algo, pelo menos em uma única coisa.

   Depois de chorar você vai ao banheiro, se olha no espelho por um tempo com aquela expressão triste, lava seu rosto, vai para a cozinha e enche sua caneca de café e coloca a quantidade certa de açúcar, pois você não gosta que seu café fique doce ou amargo demais, vai para seu quarto vazio e cheio ao mesmo tempo, abre a janela e observa o quintal e o céu da manhã, senta em sua cama, pega seu caderno e uma caneta qualquer e começa a escrever isso. Você não sabe se vai ficar bom o bastante assim como outros milhares de coisas escritas. Você quer mostrar para os outros, mas tem medo do que vão dizer e você trava novamente. Você vive travando porque tem medo das pessoas, dos seus pensamentos, de como dizer as coisas, de tudo. Por um momento você imagina toda a cena, tudo que poderia acontecer se mostrar o que escreve e o que sente, e as pessoas sem entender o significado, te julgam e você cai. Você não pode impedir o que está imaginando, você gostaria de fazer isso, mas não dá. É como se fosse um parasita que se aloja no seu cérebro e te força a ver essas imagens e ter esses pensamentos, então você começa a suar e ficar ofegante porque tem medo do que vai acontecer. E elas continuam vindo e ameaçando te quebrar, todas as possibilidades e você tenta ver alguma boa mas o parasita não vai te deixar ver porque ELE que te controla. Finalmente parou, mas agora você tem um medo irracional e apenas guarda o que escreveu. Não quer que vejam, ninguém pode ver além de você. Não vão entender seus sentimentos escritos no papel. Talvez alguém entenda. Não, não vão.

   E este ciclo acontece de novo e de novo em tudo o que você faz. E não pode impedir. Você tenta pedir ajuda, mas o parasita diz: Ninguém vai te ajudar. EU sou VOCÊ. Eu te controlo. E então você se cala e tenta enfrentá-lo. Mas ele é forte e você é fraca e está sozinha. Há alguém que está do seu lado e que pode te entender, mas você não tem certeza. Você nunca tem certeza. Você tem vontade de contar para ele, mas até dele você tem medo. Mas não realmente dele, e sim se ele vai te ajudar te entender, tem medo do que vai dizer. E você afasta esse pensamento por causa de outro que diz "deixaisso, nem ele vai te entender'' invade sua mente. Você se esforça, pega as folhas que guardou, liga o computador e escreve nele o que escreveu nas folhas. Pensamentos obscuros invadem sua cabeça e a fazem latejar de dor, mas você continua escrevendo. Só mais um pouco. Enfim, você termina de transcrever seu texto para o computador. Isso foi mesmo certo? Você clica em "enviar'' e espera que ele responda. Você está ofegante. Você vive com medo. Quer que ele diga que está tudo bem, mesmo você sabendo que não está.

   Os pensamentos pararam e você foi contra eles. Não deixou te dominarem. Mesmo que por um momento, um pequeno momento você teve uma vitória. Você sorri, e tem tanto tempo que não faz isso que você chora. Então você pensa: Eu consegui. E sim, você conseguiu. Mas não por muito tempo, porque eles voltam, sempre voltam. E você sabe disso, e sabe que não pode ficar fingindo. Você sabe que esta mal e quer falar isso para alguém, mas não é corajosa o suficiente, não é igual aos outros. E o seu sorriso desaparece do seu rosto, porque a pessoa com quem você contava te chamou de estranha. E quando você menos espera eles voltam, e está presa neles novamente.


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