PRÓLOGO

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     Na escola, para que eu pudesse jogar futebol, teria que, primeiro reunir um grupo de amigos e, segundo ser o dono da bola. Meu biotipo, gordinho, me deixava sempre no banco de reservas ou na "próxima", sabe aqueles garotinhos que ficam esperando para entrar no lugar do time que perdeu?

     Reunir um grupo nem sempre era o mais difícil, pois na escola o que não faltava era um monte de meninos querendo jogar e obviamente ganhar as partidas. Geralmente os mais fortes e habilidosos davam um jeito de ficar do mesmo lado, deixando os mais fracos, gordinhos e menos ágeis com a árdua tarefa de tentar ganhar deles. A habilidade no futebol não foi o meu forte na infância, mas mal sabia que dominaria muito bem um outro esporte.

     Quando pedi para meus pais uma bola de futebol achei que tudo estaria resolvido, mas nem sempre é assim. Os bons não precisavam ter uma pois todos da sala queriam tê-los em seu time para que pudessem jogar duas, três ou mais partidas, mesmo que você não tocasse na bola uma única vez. E isso acontecia com frequência.

     O tempo foi passando e as coisas não mudavam muito, a não ser quando faltava algum jogador, aí então eu jogava como titular do time.

     Toda essa história foi cansando um pouco até um dia andando por um shopping da cidade - Conjunto Nacional (na época o melhor shopping da cidade) - avistei uma linda bicicleta que me enchera os olhos. Foram algumas semanas de namoro com aquele instrumento de duas rodas que me mostraria para onde iria o meu caminho.

     Era uma Giant Allegré de alumínio (alguns anos mais tarde eu diria que não pedalaria em uma bicicleta não européia) de dezesseis marchas e sua cor era prata, muito bonita por sinal, e pensei que não dependeria de ninguém para andar, passear, treinar ou até mesmo competir. Mais tarde percebi que o ciclismo era um esporte tão coletivo e fascinante quanto o futebol ou outro esporte onde se "precisa" de uma equipe, mas também perceberia em alguns anos que a bicicleta me levaria a lugares nunca imaginados ao redor do mundo.

     Era 1994 e fui convencido por uma amigo a participar de um Duatlo, na época era correr, pedalar e correr. A distância era "tranquila" (2,5km/10km/2,5km) e mesmo assim seria necessário ter um certo condicionamento físico e é claro, uma bicicleta. Treinamos corrida por algumas semanas à noite em volta de uma quadra residencial em Brasília e a bicicleta como era um instrumento de circulação seria mais fácil de adaptar e pedalar com ela no dia da prova.

     Certamente não foi fácil completar aquelas distâncias - imagina, estou dizendo que não foi fácil completar 10 quilômetros em uma bicicleta - mas ainda assim me vi empolgado em fazer algo que além de prazer e diversão começava a me direcionar para um estilo de vida.

     Participei de inúmeras provas com esta distância, outras de Aquatlo (natação e corrida) outras de Biatlo (natação e bicicleta) e até de "Triathlon" completei várias, sempre com a distância do chamado "Short Triatlo" (750m/20km/5km) e do chamado Triatlo Olímpico (1,5km/40km/10km) que era a prova mais cobiçada e longa da época. As provas tão aclamadas e desejadas nos tempos de hoje - meio iron, 70.3 e ironman - não eram nem sonhadas naquela época, mas o que se via era um show e lutas homéricas nas águas e planas pistas de Brasília. Sempre tivemos excelentes triatletas na Capital brasileira.

     Já me via andando com os grupos de triatletas, nadadores, ciclistas e corredores da minha cidade e, cada vez menos ouvia falar dos meus antigos amigos da escola que mal me escolhiam para os times de futebol. Mas desta vez eu já era um mini-atleta e que adorava treinar e participar daquelas provas.

     Mais tarde fui contagiado pelo Moutain Bike (MtB) modalidade esta que treinei, participei de provas e passeios por bastante tempo. Competi e subi ao pódio de algumas provas importantes e outras menores porém muito legais.

     O ano era 1996, ali começaria uma longa história sobre duas rodas que nem mesmo eu acreditaria. O jeito mais para gordinho de ser, já tinha ficado para trás e aquela coisa de ficar juntando um monte de gente para jogar futebol já não pairava mais minha cabeça. Eu e minha "magrela" já éramos suficientes para começar as pedaladas e daí pra frente encarar curtas e longas pedaladas. Algumas pedaladas sozinho, outras com (poucos) amigos e eu nunca poderia imaginaria que um dia eu estudaria, treinaria, ensinaria e transformaria a minha vida (e de muitos outros) por causa de uma bicicleta, motivo este que me levou a começar escrever algumas linhas sobre essa paixão que toma conta de muita gente a cada ano.

     Depois da primeira bicicleta outras vieram - Basso Zer; Lazzareti; Willier Imperiale; Time Fluydity; Colnago CXZero; Pinarello Dogma F8 - e cada vez melhores mais leves e mais bonitas. O tempo foi passando, fui me identificando com a modalidade até o dia em que escondido dos meus pais e familiares resolvi me inscrever no vestibular para o curso de Educação Física, profissão até então resumida a utilizar bolas e uma quadra para ensinar algumas modalidades, mas para mim, seria mais do que isso, pois o destino me mostraria que esta profissão cresceria e, foi exatamente na minha época que ela se tornou tão presente na vida de grande parte das pessoas e também receituário certo dos médicos: praticar atividades físicas.

     Mais tarde eu iria perceber que o destino me levara a exercer uma profissão que pudesse unir os estudos e livros ao ciclismo e que me colocaria em uma posição de destaque no cenário nacional de fitness com a modalidade Ciclismo Indoor e um pouco depois em posição de destaque na modalidade ciclismo de estrada.

Bem-vindos ao meu mundo ciclístico!

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⏰ Last updated: Jan 09, 2019 ⏰

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Por trás dos pedaisWhere stories live. Discover now