Cercas brancas, gramíneas verdes e bem aparadas, um jardim onde exibem-se as mais diversas flores em tons pastéis. Camélias que transitam de um branco champanhe a um rosa inocente, puro, virtuoso; Dálias de um amarelo desbotado, calmo, sereno; Antúrios alvos, os quais passavam — aos que os observassem profundamente — um misto de luxo, autoridade e exuberância.
Madeiras cândidas construíam as paredes externas do casarão. Grandes janelas de vidro com divisórias de madeira, o que as fazia parecer papel milimetrado — a alguns olhares, grades prisionais, porém alvas e não cinzentas e metálicas —, espalhadas ao longo da espaçosa residência. Uma grande porta de cor em concordância às demais erguia-se simetricamente no centro da construção. Um pequeno pátio de piso de mármore branco, um nível mais alto que o jardim — de modo que se faz necessário uma pequenina escada de apenas dois degraus para alcançá-lo — protegia a entrada contra intempéries, onde se encontrava um simpático tapete de boas-vindas.
A estrutura ostentava três andares, sendo o último de apenas um cômodo. A residência era destacada na vizinhança, esbanjando luxúria, graciosidade ao tempo em que se via simplicidade.
Adentrando a residência, em um pequeno e apertado closet escuro escondia-se um pequeno menino.
— Te achei! — gritou uma pequenina ao abrir bruscamente a porta de onde estava. — Vamos, agora é sua vez de contar.
Nathan foi puxado pelo braço por uma menina sorridente. Allyson era o nome daquele pequeno ser de cabelos alaranjados, pele alva, olhos esmeralda, e sardas que se espalhavam pelo dorso do nariz e abaixo dos olhos. Os fios ruivos possuíam um corte desleixado e curto, estilo advindo de um episódio no qual foram cortados por uma tesoura de papel em uma banheira; Allyson detestava cabelos grandes, no verão eles faziam calor, doía ao desembaraçá-los, e sua mãe adorava fazer tranças e enfeitá-los com flores, arcos e outros adereços que a incomodavam.
Desceram as escadas, e pararam na sala quando avistaram seus pais conversando.
— Oh, aí estão vocês — disse a senhora Evans levantando-se do sofá, sendo acompanhada pelos demais. — Ally querida, despida-se de Nathan, estamos indo.
A pequenina chegou a demonstrar contravenção, abriu a boca, como quem fosse protestar, porém o pensamento desfez-se ao simples olhar fixo da mãe em sua direção; apenas assentiu. Mas, em um súbito ato de coragem, tomou a mão do menino inexpressivo ao seu lado e cautelosamente — enquanto seus pais despediam-se do senhor e sra. Hildegard — esgueirou-se para a cozinha, onde avistou um pote de vidro transparente em que exibiam-se saborosos biscoitos caseiros de gotas de chocolate, tratou de furtar o recipiente, depois saiu pela porta que dava acesso a parte externa posterior da casa. Sentaram-se nos degraus da pequena escada da varanda e comeram biscoitos.
— Você é sempre esquisitão assim?
— Eu não sou “esquisitão”! — tutelou o menino.
— É sim, estou aqui a umas duas horas e você disse umas três palavras. — Ally tirou mais um biscoito do jarro que mantinha entre as pernas e pôs-lo inteiro na boca — que foram essas que acabou de falar.
Algumas migalhas caiam enquanto falava, o que tirou um breve sorriso de Nathan ao vislumbrar a cena da menina com dois cookies na boca e um terceiro sendo adicionados aos demais enquanto tentava concluir sua frase. O sorriso tímido do garoto foi retribuído com um sorriso por outro com bochechas volumosas e farelos de adornando a boca; era bom vê-lo sorrir, Allysson gostava de provocar sorrisos nas pessoas, seu pai dizia que era um dom. Teve vontade de fazer aquele tímido e introspectivo menino sorrir mais vezes. Prometeu para a si uma coisa: conquistaria a amizade daquele menino tímido e esquisitão.