Passou-se anos. Você e eu nos tornamos quase inseparáveis. Mesmo seus pais sendo contras, você me acolheu em sua casa, em seu quarto. Lembro de todos os momentos em que corriamos para poder me esconder, como se estivessem acontecido minutos atrás.
Agora, você se mudou e me levou junto para uma casa pequena mas aconchegante que ficava mais perto da cidade grande. Você ficou mais velha e mais bonita. Com seu trabalho de garçonete naquele café no centro da cidade e seus estudos mais intensivos, não sobrou muito tempo para passarmos juntos, mas eu continuo feliz por estar ao seu lado.
-- ... tchau... -- você murmurou desanimada, e afastou o aparelho do rosto. Respirou fundo e me olhou -- Ei, o que você acha que eu deveria fazer? Devo contar que não estou nem um pouco interessada ou... deixo ele perceber sozinho?
Você me cutucou por várias vezes até eu dizer "chega". Eu só queria descansar. Essa era uma das coisas que me incomodava tanto: você gostava de me irritar até o limite.
Os garotos se tornaram um problema para você, e você não gostava de nenhum deles, eu sei. Alguns queriam diversão, você queria algo sério. Alguns eram sérios, mas não combinavam muito com você. Você sempre se dizia uma pessoa problemática quando o assunto era esse, talvez você fosse bastante exigente. Mas eu gostava assim. Desse jeito, você não se esqueceria de mim.
-- Hey... desculpa, gatinho. É que você é tão fofo quando irritado que eu não consigo me segurar. -- se defendeu, quando fugi para longe -- Desculpa!
Eu me deitei aos pés da sua cama e adormeci.
[ ... ]
Já havia anoitecido e estávamos jantando enquanto passava um programa qualquer na televisão, mas você não estava prestando atenção. Estava concentrada em ler algo em seu aparelho de celular. Particulamente, nunca gostei desse aparelho, ele tirava toda sua atenção que podia ser concentrada em mim.
-- Ei Gatinho... sabia que existe um fio vermelho ligando você à sua alma gêmea? -- você fez carinho no topo da minha cabeça -- Ele fica nesse dedinho aqui e no da outra pessoa tambem, ligando vocês pela eternidade.
Você balançou o dedo mendinho a minha frente enquanto eu estava em uma luta para manter meus olhos abertos, contra o sono.
-- Ah... e ele é invisível, por isso não podemos vê-lo. O que você acha? Quem será que está do outro lado do meu fio? -- você sorriu, toda alegre olhando para seu dedinho.
Com certeza, você estava imaginando como seria sua alma gêmea. Você continuou conversando comigo por mais um tempo, mas meus olhos estavam pesados demais, minha consciência foi se afastando aos poucos.
-- ... você está quase dormindo... -- escutei você dizer -- ... eu sou tão chata assim?
Você gargalhou. Eu gosto de ouvir sua risada... é mesmo uma pena que eu estou ficando mais cansado... a cada dia...
[ ... ]
Hoje, você foi trabalhar. Eu te observei sair pela porta, e andar pela calçada através da janela. E por essa mesma janela, continuei observando um pouco mais as pessoas que passavam. Todos estavam indo para algum lugar, mas para onde? Para que?
Uns tinham uma expressão tão séria que conseguia me fazer sentir um calafrio. Parece que essas pessoas nunca riram na vida. Qual é o sentido, para elas, de viver? O meu motivo sempre foi você, mas qual é o deles?
Meus olhos ficaram pesados novamente, estou ficando mais sonolento a cada dia e por causa disso, estou perdendo alguns momentos com você. Estou com saudades de quando você e eu ficávamos o dia todo juntos. Eu não consegui perceber naquela época, mas eram tempos dourados para mim.
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Você
RomanceEle era apenas um gato de rua que a amava. Ela era uma garota comum que cuidava dele quando podia. Ele nunca poderia estar ao lado dela do jeito que queria, era impossível, mas se contentou em ser um amigo felino.