On sunday nights.

cold sunday

   Nesta noite de domingo, a lua não iluminava nossa casa como costumava fazer, estava escondida atrás de densas nuvens em um prenúncio de que o inverno estava chegando em Busan. A noite estava diferente e você também, acredito que você é uma pessoa do verão e que, talvez, todo esse teu mal seja pela presença do inverno e não por que eu te deixei triste. 

  Sabe, amor, eu não gosto de ser o motivo do seu mal humor, das suas lágrimas, da sua tristeza. Eu não gosto de ser seu inverno. Eu gosto de te fazer sorrir até seus olhinhos virarem finas linhas, despertar sua risada que te torna agressivo e mesmo que eu tome todos os tapas do seu acesso de riso, eu não me importo de causar outro. 

  Não hoje. Hoje, eu sou a razão do seu resfriado, o vento frio que você odeia.  E eu tenho certeza disso quando você sai do banheiro todo empacotado em roupas fofinhas e tanto os olhos como o nariz avermelhados, eu poderia dizer que foi o frio, mas eu sei que você chorou tomando banho, que relembrou cada palavra dura dita em nossa discussão.

  Pensei em tentar falar novamente com você, explicar que tudo tinha sido um grande engano, que eu não pretendia te magoar, mas estamos juntos há 2 anos e eu sei que você não pretende ouvir mais nada que eu tenha a te dizer hoje. Porra, você é tão cabeça dura, Jimin. Então, eu deixo você fazer seu caminho para o lado esquerdo da nossa cama, observo você deitar, se enrolar nos edredons e virar para o lado contrário ao meu.  

  Acho que esse é o clichê das brigas de casal. Pelo menos, você não me mandou dormir no sofá. De certa forma, acredito que eu preferiria dormir no sofá, porque Deus sabe que Jeon Jungkook é muito fiel a sua noite de domingo aconchegando com os braços em volta do amor da sua vida, sentindo o seu cheiro gostoso e fazendo um cafuné muito bem trabalhado.

  Era minha punição e eu a recebi de bom grado, enquanto você fingia dormir do outro lado, eu repensei em tudo que me trouxe aqui. Eu menti sobre você para meus amigos do trabalho, eu menti sobre sua identidade para minha família, eu escondo nosso relacionamento por dois anos e você não aguenta mais. 

  Não aguenta mais ser meu pela noite, ser meu durante o domingo de folga que eu tenho e na segunda voltar a ser Park Jimin, meu companheiro de quarto. Mas você, nunca foi e nunca será somente meu companheiro de quarto, você é meu companheiro de vida e sua morada é no meu coração. Eu sou um covarde. Eu tenho medo de perder meus amigos e o apoio da minha família.

  Mas nessa noite que sempre foi tão nossa, eu tive medo de perder você. E é com isso em mente que eu levanto, atraindo sua atenção que vira os olhinhos ainda úmidos para mim com além de tristeza, curiosidade. Tento não me concentrar em você nesse momento, pois é meu lapso de coragem e se eu não fizer isso agora, eu te perderei para sempre e ficarei quebrado para sempre. Por que como eu disse, você é o amor da minha vida.

  Pego o notebook e sento na beira da nossa cama, ignoro seus questionamentos irritados, com as mãos trêmulas eu deixo fluir os últimos dois anos em um texto expressivo e muito sentimental, discorro sobre tudo que eu tanto amo em você preenchendo o texto com sua doçura, sua risada, sua boca, sua voz, seu cheiro...  

  Então, eu publico. E agora, todo mundo sabe que eu, Jeon Jungkook, namoro Park Jimin há dois anos e o amo tanto quanto a mim mesmo. Eu sei que você estava lendo há 30 minutos quando se irritou com minha falta de respostas e se sentou atrás de mim para ver o que eu tanto escrevia, agora você estava me abraçando e molhando a parte de trás da minha camisa com suas lágrimas quentes. 

  Eu não sei se é de felicidade, se é de tristeza ou ambos, mas eu sei que é por mim. Eu também sei que estou chorando, por medo e alívio, um pela rejeição que eu sei que virá e outro pelo amor que agora eu posso transbordar. Você não me largou quando eu comecei a chorar,  assim como eu não consegui parar de implorar para que você não fosse embora.

   Outro domingo se passou com nós dois abraçados, mas esse em especial foi mais turbulento, incerto e frágil. A chuva que vinha anunciando despencou sobre nosso teto, e você não me soltou novamente, meu choro havia se reduzido a pequenos soluços e pedidos de perdão. Eu pensei que tinha te perdido de vez quando você me soltou por alguns minutos, esse sentimento sumiu assim que você voltou se sentando no meu colo e nos enrolando em um edredom.

  — Para você não resfriar. – explicou baixinho arrumando o edredom sobre meus ombros – Eu não posso dizer que estar em segredo com você não me magoou, que hoje quando você soltou minha mão por que um conhecido da sua mãe passou meu coração não partiu. Você quebrou meu coração hoje, e ontem, e eu sei que vai quebrar amanhã. Mas eu também sei, que você é medroso e inseguro, por isso nos escondeu por tanto tempo e foi por esse teu medo que você nos revelou. Eu sou capaz de perdoar essas mágoas por que além de te amar, eu te entendo e por que, não só você vai me magoar amanhã, como eu também irei. Nosso amor, nosso relacionamento, não é perfeito e ninguém é. – ele dá uma pequena pausa para respirar fundo e parece perdido em pensamentos. – O que eu quero dizer é que não vou te deixar nesse momento difícil da sua vida, e por que acima de tudo, eu te amo. 

  Dito isso, Jimin deitou sua cabeça no meu ombro e me embalou nos seus braços apertando-me contra o seu corpo em uma forma de amparo. E com a chuva caindo mais suavemente lá fora e nossos corpos entrelaçados, adormecemos.