Capítulo 1

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1994.

Ela era nova na escola, usava dois laços cor de rosa em cada lado do seu cabelo crespo. Agarrada às pernas de sua mãe observava tudo ao seu redor com certo receio. Inicialmente tentei uma aproximação, lhe ofereci o lugar vago no banco em que estava, em troca recebi apenas uma análise completa. Seus olhos encararam os meus, as minhas pernas vacilaram e eu mal sabia o que estava acontecendo.

Dei meia volta e retornei para o meu grupo de amigos, éramos um trio e a minha frustração era perceptível, eu a queria perto de nós, queria ser seu amigo, mas ela não me deixava ao menos esperançoso quanto a isso. É muito cedo e eu não fazia ideia do quão difícil devia ser entrar num colégio novo, no meio do ano, quando a maioria dos grupos estão formados.

Ela poderia ao menos retribuir o meu cumprimento.

Nos dias seguintes não quis parecer insistente, na mesma proporção em que não queria ter que ouvir piadas dos meus amigos sobre estar apaixonado pela garota, a média de idade de todos nós era dos oito aos dez anos, o que sabíamos sobre paixão? Eu só queria ser seu amigo, não queria vê-la sozinha, queria tornar a sua ida a escola agradável.

[...]

Deitada em meu colo, acaricio seus cabelos e sinto o perfume suave que eles emanavam, Ana está concentrada na comédia romântica que escolhemos para assistir, já eu, tenho toda a minha atenção depositada nos traços delicados do seu rosto. Ela preenchia boa parte dos meus pensamentos além de ser responsável por bagunçá-los.

- Quais as chances de não estar prestando atenção no filme? - perguntou ainda sem tirar os olhos da televisão.

- Como sabe o que estou fazendo se ao menos está olhando para o meu rosto? - agora ela me encarava com sua típica testa franzida.

- Sou sensitiva. - foi inevitável não gargalhar.

Segurei o seu braço e a fiz sentar-se a minha frente, meus braços envolviam sua cintura e meu queixo repousava em seu ombro.

- Andrew está me esperando. - ela dizia enquanto verificava algo em seu celular.

A reação era instantânea ao ouvir o nome, meus olhos queimavam em irritação. Não era ciúmes, eu só tinha certeza de que ele não era o cara certo para Ana, eles eram totalmente opostos e eu não sou adepto ao lema "os opostos se atraem".

- Achei que suas divergências com Andrew tinham sido deixadas para trás.

- Temos divergências?

- Se não tem, precisa consultar um oftalmologista já que todas as vezes que falo sobre ele seus olhos reviram em completo tédio.

- Ana. - suspirei.

Foram incontáveis às vezes em que Andrew teria sido o responsável pelo início de nossas discussões, até que resolvi não deixá-lo enfraquecer o que tenho com Ana, talvez fosse esse o seu objetivo e eu não costumo dar o gosto da vitória aos que não merecessem tê-la.

Pude vê-la deixar escapar um suspiro pesado antes de colocar sua bolsa no ombro e passar feito um foguete pela porta do apartamento. Recolhi as chaves sob a mesa e a segui em passos curtos até encontrá-la parada em frente ao elevador.

Nosso percurso foi silencioso, digo extremamente silencioso já que desde que saímos de casa, o único barulho no espaço em que estávamos foram dos alertas das mensagens que chegavam em seu celular, provavelmente de Andrew.

Vez ou outra, sorrateiramente, encarava seu rosto fixo a pontos quaisquer que via através da janela do carro, eu realmente odiava quando isso acontecia.

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