Capítulo 1

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Gosto da sensação do vento em meus cabelos, mesmo que tais não estejam muito apresentáveis. Olho para o prédio ao lado dos bancos com paredes descascadas, sempre com um ar sombrio janelas com grades, guardas fazendo ronda durante todo o dia.
Aqui é calmo totalmente o contrário do que eu pensava quando ouvia o nome Instituto Charles Cruz aonde todos os julgados por crimes hediondos são trancafiados. Claro, separado por blocos numerados aonde o 1 são os crimes mais cruéis e o 5 os menos cruéis aonde ficam a maioria dos julgados por simples distúrbios ou traumas de infância.
O bloco em que estou é o 3, um dos mais apresentáveis pois nele estão os ainda em julgamento com casos difíceis, cheios de dúvida e achismos.
Tem sido muito difícil para mim conviver aqui mesmo depois de três anos, porque aqui não tem como fugir para um bar sempre que uma lembrança daquele dia me vem a mente, não tem como fugir para a balada e ficar o mais louca possível só para não pensar naquela noite. Não tem como fugir, não tem. Então eu sou refém todos os dias dos meus próprios demônios, da minha própria mente e por isso eu escolhi assim que cheguei aqui não falar com ninguém, guardar tudo pra mim, pois já que me jogaram no meio de loucos nada mais justo do que acabar com a minha própria sanidade.
Agora estou no jardim rodeada de gente que se percebe de longe quais problemas enfrentam, ao meu lado tem Jennifer uma mulher de cabelos grisalhos lá nos seus 58 anos sentada perto de uma árvore roendo as unhas cheia de medo achando que está sendo perseguida, Jê está aqui a muito tempo pelo que escutei das enfermeiras, acusada de esquartejar toda a família quando tinha 18 afirmando sempre que eles haviam contratado gente para mata- lá.
Mais a frente Joseph, um senhor de 73 anos mas bem conservado para sua idade Joe ajuda nos trabalhos pesados por isso a boa forma, ele é hóspede do bloco 1 um típico serial killer acusado de torturar e matar todos os amigos de seu filho na época de escola, jura que o estavam pedindo pela morte.
Incrível tudo que pode se saber ouvindo um pouco aqui e ali graças as enfermeiras boca aberta que não param de falar além de seus pacientes de suas vidas pessoais, Deus vamos ter mais profissionalismo.
Meu tempo no jardim já se foi é hora do almoço, uma das horas mais perturbadas aqui no Inst. pelo simples fato da comida ser servida a todos os hóspedes juntos independente dos crimes que cometeram ao que parece pra comer ninguém tem problemas mentais.
Os loucos do bloco 4 e 5 são os piores por ficarem gritando e comendo da pior forma possível, os dos blocos 1 e 2 ficam mais na deles parece que sempre estão planejando um crime.
Aqui não é permitido garfo faca e louça de vidro depois que um hóspede tentou um ataque aos guardas usando os pratos e os talheres não obtendo sucesso em seu plano cometeu suicídio aqui mesmo com uma das facas. Típico.
Perdida em meus pensamentos demoro tempo suficiente para um dos psicopatas do bloco 1 sentar em minha mesa, droga ou é lá ou junto com os loucos babentos. Sentando na mesa olhando somente para meu prato sinto um olhar sobre mim, deve ser ele já planejando como irá me torturar até a morte, previsível. Decido não o encarar então olho pela janela que tem uma vista perfeita do jardim por alguns segundos sorrio levemente ao ver um lindo pássaro no para- peito, e então:
- Você devia sorrir mais. -diz o psicopata em minha frente em um tom de brincadeira.
Eu decido o encarar e quando o faço me deparo com alguém muito diferente das pessoas daquele lugar, um Jovem lá nos seus 27 anos olhos castanho escuro o que o deixa com o ar de mistério no olhar, uma das sombrancelhas arqueada, mastigando um pedaço de maçã.
Meu Deus, penso comigo mesma e é tudo que consigo pensar com aqueles olhos me encarando. Volto a me concentrar na minha comida, o tal estranho não merece o meu dom da fala.
E no silêncio permanecemos o resto do tempo.
- Já é hora de voltar para os quartos, me acompanhem quando chamar o seu bloco. -diz um dos guardas na entrada do refeitório.
E assim que o bloco 1 é chamado o estranho em minha frente levanta calmo e tão devagar que por um instante pensei que o tempo havia congelado para ele, ainda o encarando parado na porta esperando chamarem pelo seu nome ele me olha fixamente e pisca saindo do refeitório me deixando com uma estranha e louca sensação de vazio, parece que com um simples olhar ele tirou toda a vida restante de meu corpo.
Louca. Penso já em meu quarto, eu estou ficando louca por sentir os calafrios que eu senti por um simples olhar é sinal de loucura, já era de se esperar os sinais da insanidade chegando até mim.
Presa nos meus pensamentos, que é o que me resta nesse lugar. Adormeço.

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⏰ Última atualização: Jan 11, 2019 ⏰

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