Não era uma pessoa ruim. Era apenas vaidade. Uma frágil característica que o domou. Também não era tão inteligente quanto aparentava.
Decretou para si que não precisava provar nada para ninguém, mas perdeu-se entre seus personagens e seu ser. Conseguia ser tão estúpido quanto possível. Estabeleceu parâmetros e decidiu que seguiria sendo uma espécie de anti-herói trágico, tentando ser mistério e solidão, despejando, na tinta da caneta, melancolia.
Tropeçava no chão liso e queimava os pés descalços no asfalto quente nos fins de tarde, às terças-feiras.
Falhava em tudo o que tentava.
Mesmo assim, como qualquer outro de sua espécie, enamora-se de anseio de eternidade, como conta a história sobre os outros heróis, deseja ser lembrado. Sente-se frustrado quando não dirigem a si os tais olhares de admiração, os aplausos, os louros e a fama.
E todo esse conjunto quase lírico, ficaria lindo, guardado dentro de um livro empoeirado numa estante, aguardando o tempo livre de algum romântico alucinado por literatura poética e outras histórias como esta. Mas ele existe na vida real.
Na vida real, ser assim lhe causa tanto prejuízo, que não tem sido calculável. É espantosa a quantidade de decisões erradas por metro quadrado, tomadas seguidamente por este, a fim de alcançar uma ficção.
Reitero, seria belo num romance, numa história como esta, de outra visão. Não há visão bonita de cenários trágicos e decrépitos como este, na realidade.
Mas não conto histórias inventadas, nem faz meu tipo tecer romances. Ao contrário, destilo essa tal realidade em minhas palavras, e descrevo com honestidade o que se vê, mas não se diz. A vida real não o vê como um ornamento vivo, pois não o é. Antes, é visto como odiável ou desprezível. Um lunático, alienado em suas próprias paixões, temperadas com pitadas de dor e loucura.
É patético.
Assim vive, e segue sofrendo, brigando com seus devaneios de moinhos de vento, nos atuais dias tão reais quanto meus dedos que vos escrevem; o legítimo moderno Quixote.