A Praça Do Diabo

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  Estava passando pela Praça dos Anjos, avistei um certo tumulto, parei em frente à igreja, cumprimentei o padre e prestei-me a observar aquela confusão que se dava no centro da praça.    Era um dia atípico, estava mais quente que o habitual. Confesso que a minha curiosidade levou-me até àquele aglomerado, havia cerca de setenta pessoas.
  A medida que aproximava-me, o calor ficava mais intenso, sentia minhas narinas queimando. As pessoas que ali estavam encontravam-se agitadas, eufóricas e suadas. Tentei perguntar o porquê daquilo, mas minha voz se perdia entre tantas vozes e gritos. Porém uma voz foi nítida, destacou-se das demais, e deu para escutar bem o que disse: "EU AMO TODOS VOCÊS".
  Fui abrindo espaço naquela multidão, logo avistei quem era o motivo daquilo tudo, o Diabo. O próprio! Tinha um par de chifres, uma cauda, e era vermelho-alaranjado.
  Testemunhava com espanto toda a situação: o Diabo amarrado em um poste, as pessoas chutando-o, dando socos, arremessando pedras e chicoteando-o. Pobre Diabo, até mesmo tu não merecia tanto, pensei. Deveras que o Diabo era feioso e fedorento, mas fraco?
  Estava tentando achar uma explicação, quando fui empurrado para que um homem pudesse passar. Este som, que não era de uma voz, também foi notório, o da motosserra! Estavam serrando o chifre do Capeta. Não demorou muito para que o Diabo tivesse sua cauda partida ao meio por um facão, ele não tinha expressão de tristeza nem de alegria.
  O padre, que eu avistara, agora encontrava-se rente ao Capeta, fazendo o sinal da cruz e dando-lhe chutes.
  Achava aquilo tudo absurdo. Quando dei por mim, estava lá, eu, logo eu, chicoteando o próprio Satanás. Enquanto batia não sabia mais quem era quem, mas tinha certeza que aquela era a praça do Diabo.

A Praça Do Diabo - ContoWhere stories live. Discover now