.capítulo único

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A história a seguir foi escrita para um show de talentos que eu participei, acabei não ganhando com ela, mas gostei bastante dela então, decidi postar.
Plágio é crime e da processinho, boa leitura.

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Pensamentos demais, idéias humanamente impossíveis, noites longas; o frio mora nas paredes, você pode se acostumar ao peso de uma coberta extra sobre seu corpo cansado, encobrindo o que os olhos nublados não entendem, não há nada que o prenda nesses momentos, mas também não há liberdade.

Você não consegue dormir, suas valas de terra úmidas estão transbordando de esperanças, sonhos, perdas, culpa e arrependimentos se misturando em quantidades exorbitantes, onde no jazigo, está o nome dele. Você escuta sua voz encoando nas valas, você cai sobre elas, se afogando em seu desespero. Sem poder nadar.

Um sol morno, ventos cruéis, que enxugam suas lágrimas ácidas, você se esquece como se respira, você se perde facilmente no silêncio, você tenta não pensar, porque sempre acaba ficando a mercê de seu passado e isso dói. Dói lembrar, dói esquecer, dói saber, você ainda não se acostumou com a dor de cada passo, com a dor de cada sentimento, você não pode esquecer.

O medo nunca vai embora, você reprime suas vontades, não olhe para a janela, está frio, mas ele não usa casaco, não há sabor nos doces, não há arroma nas frutas, os perfumes são enjoativos, mesmo usando meias, seus pés não fogem da sensação cortante sobre o piso gélido.

Sorrisos corajosos, mas sem emoção, é difícil manter os olhos abertos, bocejos ao longo do dia, pensar demais, ou não pensar em nada, o que pode ser pior? Não há machucados que se curem, não há salvação.

As roupas que traja, parecem pesar toneladas, olhar para baixo se tornou a única opção, fique calado, conduza essa dolorosa dança sem coreografia, não pise em seus pés, caminhe pelos cantos, se esconda antes que as lágrimas comecem a rolar, abafe um grito no escuro.

Não consegue encontrar uma reposta em meio a desvaneios e distrações, não pode progredir pois sempre há retrocesso. Nada difere um dia do outro.

Você perde o fôlego, se apega aos detalhes, finge não se importar, mas se importa, ignora seus batimentos, foge sempre que ele chama seu nome, pratos brancos e vazios, engole em seco, nervosismo a flor da pele, você se culpa.

Há problemas demais antes do meio-dia, você perdeu a conta outra vez, o tempo não passa e isso é frustante, limpe o sangue de suas lâminas e finga que nada aconteceu.

Fuja dos holofotes, desvie os olhares, as folhas manchavam seus pensamentos pessimistas, você não é nada além de um subalterno de seus desejos pecaminosos, você é o passado, mais nunca será o presente.

Não caia na tentação daqueles doces lábios mentirosos, você perde mais uma vez, a batalha que nunca poderá ganhar, permita-se um desejo, seque seus cabelos molhados antes de se deitar, cada batimento desajustado conta como um sinal de vida.

Algo queima por debaixo de sua pele, caminhe descalço sobre o asfalto à noite, chore sobre as folhas alaranjadas e guarde seus segredos com elas, até que ponto falhar ainda é algo humano?

Você não dorme, a insônia é persistente, ansiedade incontrolável, enjôos na matutina, cansaço contínuo durante o dia, pernas instáveis, nada há nada que se pode fazer, a enxaqueca piora, seu corpo parece estar em pânico, indisposição e angústia não se entendem, não há remédio que possa te curar.

Saliva fria, lábios quentes, música alta, o aroma da luxúria escorre pelas paredes, mas ninguém parece notar, milhões de cores e todas se encontravam ali sobre as luzes apagadas, vozes balbuciavam em união sobre coisas que você não conseguia entender, era confuso, você podia sentir seus pensamentos se retorcerem dolorosamente em sua cabeça.

Cartas sem destinatário, presas em envelopes vermelhos, você odiava aquela cor, sua mão doía depois de tantas palavras e letras, a tinta preta trazia personalidade às folhas brancas, o cheiro era característico, a essa altura já havia se tornado um inconveniente.

Era estranho pensar em um fim, não terá revolução, você se pergunta pela última vez que parte de você ainda é humana, caminhe por casas de vidro, quebre espelhos de porcelana, o doce amargo, outro obstáculo, se despeça do mundo, lágrimas viram gotas de orvalho, não haverá mais decepções.

Aprecie o calor acolhedor do Sol pela última vez, esperando pela promessa de chuva ao anoitecer, se estendendo pela madrugada, libertando o suspiro final de uma vida medíocre.

.folhas e decepções de outonoOnde histórias criam vida. Descubra agora