Bom dia, liberdade

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Estava perto do alvorecer quando Eren acordou de um sonho. Para ele foi uma noite estranhamente satisfatória, fazia tempos que não dormia tão bem. Olhou para o céu pela janela e viu o céu todo estrelado, mas sabia que o dia já estava a chegar.
Sentou na beira da cama, se espreguiçou e ficou observando o chão por alguns minutos. Abriu a gaveta em um cômodo ao seu lado e tirou um caderno de lá. Foi o seu caderno de sonhos. Ele acreditava que quando escrevemos sobre alguma coisa nós corremos o risco de torná-la eterna. E como foi um sonho especial, ele começou a escrever...

No começo éramos três. Estávamos brincando e de repente éramos mais de vinte. Lembro de que o Armin não tinha certeza de que todos eram confiáveis o bastante, mas eu e a Mikasa o convencemos a ficar. Enquanto brincávamos, uma menina bateu no Armin, o segurou pelo pescoço e o ofendeu. Todos queriam uma luta, mas ele não cedeu. Depois de algum tempo ela o soltou, e enquanto eu olhava se estava tudo bem com ele, a Mikasa batia na garota.
No sonho já estávamos na porta de casa e descansados. Perguntamos ao Armin o motivo da menina querer bater nele, e ele disse que não tinha certeza do que era. Mas tinha uma teoria: ela gostava dele.
Mikasa discordou.
— Isso é impossível. Gostar de alguém não é motivo pra você espancar a pessoa. — Ela olhou para mim enquanto tentava disfarçar que estava corada. — É o contrário.
Armin a olhou em seus olhos, e depois para o céu enquanto as faíscas da fogueira subiam.
— Os seres humanos são irracionais. Piores do que animais — porque diferente deles não agimos em defesa da nossa espécie, mas para o seu fim. Mas não é como se todos soubessem disso. Na verdade como eu posso dizer que ela estava errada? Para ela, o errado era eu por não gostar dela. Mas para vocês o erro veio dela, né? — Explicou.
"Se existe pontos de vista... qual será o nosso?" Perguntei, enquanto observava a fogueira. Todos ficaram em silêncio.

O sonho mudou muito rápido, e eles estavam maiores e diferentes. Discutiam com alguém que estava virado de costas e encapuzado. Mikasa chorava, e eu tentava a consolar sem entender o que acontecia. O Armin estava transtornado. Agressivo. Eu nunca o vi daquele jeito, ele não era mais ele mesmo. Lembro que tentei gritar, numa voz silenciosa "ei, Armin. O que aconteceu? Porque você está agindo como os outros? Você não quer o nosso fim, não é? Pare!". Cadeiras e mesas estavam no chão sujo de sangue. O homem encapuzado revidou o murro no Armin, que caiu. Olhou e avançou em sua direção e disse coisas que eu não consigo lembrar com exatidão, mas era algo sobre... liberdade. Ele o ameaçou de muitos jeitos. Mas mesmo com uma mão em seu pescoço, Armin o respondeu.
— Você.. esqueceu... não foi? Você... esqueceu de quem... você era! Sempre foi um tolo... mas pensava nos outros. Você queria acabar com eles pra ter paz. ESSA É A SUA PAZ? Você pode me bater o tanto que quiser, mas as palavras que ecoam vão sempre te machucar. Não as minhas... mas as de todos os inocentes que morreram por sua culpa. Por sua vingança. Você... você ao menos sabe quem é você? Você realmente é livre? Ou é um prisioneiro do que você acha que é liberdade, Eren?
Espera... ele estava falando de mim. Aquele encapuzado... era eu? Como chegamos a isso? O que aconteceu com a nossa amizade? Ela foi... destruída?

Eren fechou o caderno e o pôs em cima da cama. Seu rosto estava cheio de lágrimas. Colocou suas mãos na cabeça e quis parar de pensar por um instante que fosse. Mas não conseguiu.

Colocou seus calçados, vestiu uma blusa e ficou de frente ao espelho. Repetiu diversas vezes a mesma frase: eu sou livre?

Exausto, e pensativo, ele foi para a janela. Já estava finalmente amanhecendo.
Foi só um sonho, eu não devo ligar. Eu sou livre. Posso fazer o que eu quiser. Mas talvez... eu seja escravo da minha própria liberdade? Não... eu sou livre. Não é? Eu sou livre...?

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⏰ Última atualização: Jan 12, 2019 ⏰

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