Capítulo Único

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O que une as pessoas?

E o que as separa?

Isso era o que aquele pequeno corvo pensava enquanto observava as pessoas daquela cidade.

Noya não era bem um corvo, o certo seria chamar o pequeno rapaz com asas negras de Tengu. O quarto herdeiro da família Karasuno muitas vezes deixava o mundo dos yokais para observar os humanos.

Aqueles seres que eram imperfeitos, falhos e que muitas vezes se destruíam por um ideal ou justiça, tinham também dentro de si amor, compaixão e bondade. E a união de tudo isso era o que fascinava o jovem yokai, que muitas vezes não sabia dizer exatamente o que eram os sentimentos.

Por isso ele sempre fugia para o mundo humano. Ele queria aprender, queria conhecer aquelas pessoas e infelizmente acabava sempre sendo repreendido toda vez que voltava para casa. O contato com humanos era proibido pela família Karasuno, eles eram yokais diferentes e precisavam seguir as regras impostas a eles pelos deuses.

Um Tengu que tivesse sua verdadeira forma vista por um humano perderia suas habilidades e viraria um corvo normal preso eternamente no mundo humano.

Mas Noya era um corvo curioso e mesmo sabendo dos perigos ele continuava a ignorar as regras da família para observar a vida daqueles seres distintos, principalmente a vida de um jovem estudante que ele vinha observando por um tempo.

Aquele rapaz era diferente de tudo que Noya já tinha visto naquele mundo e corvo não sabia dizer o que exatamente o fazia ficar preso a ele. Já faziam meses que Noya o seguia e cada vez mais o rapaz alto e de longos cabelos castanhos chamava sua atenção.

Asahi era um simples estudante, alguém comum em meio a todas às outras pessoas, mas o jovem que tinha uma aparência intimidadora, e que muitas vezes era visto como alguém perigoso, era no fundo um garoto quieto, reservado, inseguro e muitas vezes amável.

Aquilo era o que Noya mais gostava nele. Ele já não tinha mais vergonha de assumir que muitas vezes vinha para o mundo humano apenas para ver a rotina de Asahi, nem mesmo seu amigo Ryu conseguia controlar o pequeno corvo de fugir das obrigações no mundo yokai.

Naquele dia não era diferente. Noya vinha seguindo o rapaz por todo o caminho até em casa, o pequeno tengu voava entre os prédios em busca de sempre manter o rapaz que caminhava tranquilamente ao alcance do seu olhar.

O vento que soprava pacificamente fazia os cabelos de Asahi balançar, e aos olhos de Noya aquele simples gesto de tirar os cabelos dos olhos era lindo de se ver.

— Hey, Noya, vamos embora, é perigoso aqui. — Ryu voava logo atrás de Noya e insistia para que voltassem para casa antes que algo acontecesse.

— Só mais um pouco, nós voltaremos assim que ele chegar em casa. — Noya se sentia estranho aquele dia e não tinha vontade de deixar Asahi partir assim.

Naquele momento enquanto conversavam, Noya não percebeu que Asahi começava a atravessar o cruzamento e que um carro desgovernado vinha direto em sua direção. Ao perceber a situação, Noya rapidamente tentou evitar o acidente, mas Ryu foi mais rápido e segurou o amigo, que ao seu ver estava prestes a fazer uma besteira.

— Por que você me segurou? — O olhar de Noya era de pura irritação, por conta daquilo ele não pode impedir que Asahi fosse acertado em cheio pelo carro.

— Você não pode se revelar assim. — Ryu tentava ser o mais claro possível enquanto segurava o amigo, que queria a todo momento correr para ajudar o pobre Asahi ferido no chão.

— Não me diga o que posso ou não fazer. — Em meio a loucura de ver aquela cena, Noya tentou fazer de tudo para se livrar da mão de Ryu, mas seu amigo era mais forte.

Apenas um pequeno corvoOnde histórias criam vida. Descubra agora